MÚSICA

Eu queria ser David Bowie!

Quem nestas muitas órbitas produziria logo no começo de carreira dois clássicos do rock, os álbuns Transformer, de Lou Reed, e Raw Power de Iggy & The Stooges, além de escrever “Fame” com John Lennon? Quem? Quem? Quem? Errou quem falou professor Raimundo Nonato, o querido personagem de Chico Anysio da Escolinha do Professor Raimundo […]

Quem nestas muitas órbitas produziria logo no começo de carreira dois clássicos do rock, os álbuns Transformer, de Lou Reed, e Raw Power de Iggy & The Stooges, além de escrever “Fame” com John Lennon? Quem? Quem? Quem? Errou quem falou professor Raimundo Nonato, o querido personagem de Chico Anysio da Escolinha do Professor Raimundo e não David Bowie.

Conheci Bowie na mesma época em que descobria Hermeto Pascoal, Eumir Deodato e toda turma do rock lisérgico dos 70 (Led, Floyd, ELP, Focus, King Crimson, só para citar alguns), nessa década iluminada de personagens do rock.

Mas David me chamava atenção pela sua luz de farol, a qual iluminava caminhos para a música, sociedade e relações pessoais. Era um camaleão que mexia com a minha criatividade existencial, cuja transformação conservo em ebulição até hoje.

“Eu queria ser David Bowie”, parafraseando o filme “Quero ser John Malkovich” (Being John Malkovich, 1999 – primeiro longa expressivo dirigido por Spike Jonze, só conhecido até então pela direção de clipes de bandas como R.E.M. e Sonic Youth), pois na questão de identidade ninguém foi mais afirmativo e direto do que o artista e com certeza me avisou desde então, que cada um tem que buscar e lutar pela sua própria essência, para que o outro não molde seus sonhos com ordenamentos sociais pré estabelecidos ou intransigências e arrogâncias e como posses e dinheiro não devem colocar amor em xeque ou como controlar outra pessoa pode ser prazeroso nessa sociedade do espetáculo. Bingo! Eu sempre vou querer ser muito de David Bowie.

Assim como o roteiro do filme, o sucesso não o tornou o artista numa peça do show business, atomizada pelo controle da máquina de fazer artistas em série. Bowie foi, é, e será único.

O Alienígena

Foi como Ziggy Stardust, um extraterrestre bissexual e andrógino que virou estrela do rock, personagem do álbum The Rise and Fall of Ziggy Stardust and the Spiders From Mars, de 1972, eleito um dos 50 melhores discos de todos os tempos pela revista Rolling Stone e ponte definitiva para que a cena roqueira (principalmente o Glitter) pudesse ter as mais variadas vertentes sonoras e visuais, que percebi que não poderia mais ouvir música com ouvidos de fã ou consumidor de música e que a partir de então, o som deveria ser escolhido para ser trilha sonora das minhas transgressões, separando a minha alma da sua própria existência para me apropriar dos sentidos entre o concreto e o abstrato do dia a dia.

Trecho de Ziggy Ztardust:

Fazendo amor com seu ego

Ziggy sugou em sua mente

Como um messias leproso

Quando as crianças mataram o homem

Eu tive que acabar com a banda

Ziggy tocava guitarra

Quer seja como ator como no caso de “O homem que caiu na terra” (1976), de Nicolas Roeg (extraterrestre procurando ajuda para seu planeta), “Furyo: Em nome da honra” (1983) ou como “O homem elefante”, três meses em cartaz na Broadway, na década de 1980, além de ícone da sua própria moda, foi um dos mais imitados artistas pela indústria, como por exemplo, o museu “Victoria & Albert” de Londres, que produziu em sua homenagem uma exposição com 300 objetos escolhidos dentre os muitos de sua camaleônica moda e instrumentos musicais.

Nenhum planeta pode sobreviver imune sem Frank Zappa, Lou Reed, Marília Pêra, Cazuza, Nauro Machado e David Bowie. As conseqüências são visíveis em nossas produções culturais dentro das muitas sociedades do planeta. E só quem brincou muito com a própria imagem pôde decifrar a arrogância, intolerância e falta de senso de finitude humana do século passado e futuro.

Hoje e sempre a presença do alienígena Bowie que veio salvar o rock, será lembrada como um roteiro primoroso para se construir uma história com começo, meio e fim. Eu sempre vou querer ser David Bowie!”

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