Lançado originalmente em 1938, Vidas secas, de Graciliano Ramos, se concentra na saga de Fabiano, Sinhá Vitória, o menino mais novo, o menino mais velho e a cachorra Baleia, que andam errantes e sem destino, lutando para sobreviver em meio à aridez do sertão e da caatinga. Mais que isso, a obra-prima do autor alagoano é uma radiografia da década de 1930.
O clássico de Graciliano volta às prateleiras em 2015. Dessa vez, em uma versão em quadrinhos com os traços do premiado ilustrador gaúcho Eloar Guazzelli. Não é a primeira vez que um best-seller ganha o traço do quadrinista. Em toda a carreira, o trabalho do artista gaúcho tem aproximação com a literatura, de O pagador de promessas, de Dias Gomes (Agir, 2008); a Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa (Biblioteca Azul, 2014).
“São autores que admiro profundamente e que estão na primeira linha mundial. Como lado negativo, há o peso da responsabilidade extrema. O lado bom é ter esse desafio como estímulo”, comenta Guazzelli. “Eu sou público, por isso, penso muito nele. Antes de ser um quadrinista profissional, sou leitor e admirador dessa linguagem desde que fui alfabetizado. Procuro levar algo que provoque os leitores da mesma maneira como fui provocado na infância”, explica.
Para dar contornos ainda mais dramáticos à história de Graciliano Ramos, Guazzelli lança mão de tons escuros nos desenhos. O expressionismo foi a opção estética escolhida pelo artista, que se vale de uma técnica conhecida como sanguínea, como se as páginas pudessem expressar a dor da família. “Propus que era fundamental uma narrativa crua. Para mim, seria intolerável fazer um livro ‘coloridinho’ ou que desse um tratamento distante daquele sofrimento”, comenta.
Vidas Secas
Por Eloar Guazzelli e Arnaldo Branco. Record, 104 páginas. Preço médio: R$ 49.