SÉRIE

‘Narcos’, de José Padilha com Wagner Moura, já está disponível no Netflix

Dupla, sucesso absoluto com ‘Tropa de elite’, volta a trabalhar juntos em produção sobre a história do cartel de Medellín, com Moura na pele do traficante colombiano Pablo Escobar

Narcos

“Você acha que é melhor do que eu, mas está equivocado. Venho do nada, lutei muito para ser quem sou. Se o governo não tivesse vindo atrás de mim, eu estaria no seu lugar agora, vice-ministro de Justiça.”

Pablo Emilio Escobar Gaviria (1949-1993) estava em La Catedral – prisão de luxo que ele próprio construiu como parte do acordo feito com o governo colombiano para evitar sua extradição para os Estados Unidos – quando se encontrou com o vice-ministro Eduardo Sandoval.
Tal encontro, ocorrido em meados de 1992, é retratado no último episódio de ‘Narcos’, a série concebida por José Padilha para a Netflix que conta a ascensão do narcotráfico na América Latina. Seus dez episódios estão sendo lançados hoje em todo o mundo.
Ainda que seja Escobar o protagonista, ‘Narcos’ pretende ir além dele. O produto que vem hoje a público, produção bilíngue (inglês e espanhol) filmada na Colômbia, com elenco tanto latino quanto norte-americano, é só a primeira parte de uma história que tem muitos braços.
Caso emplaque uma segunda temporada, a narrativa certamente terá o México como cenário – com o enfraquecimento dos cartéis de Cali e Medellín na década de 1990, os traficantes mexicanos passaram a dominar o mercado mundial.
A primeira temporada de ‘Narcos’ termina em 1992, 15 meses antes de Escobar ser morto, em Medellín, por uma unidade de elite da polícia colombiana. Morte, por sinal, discutível: há versões de que ele teria se suicidado para não se entregar e discussões sobre a autoria do tiro fatal.
“Pablo Escobar inventou o narcoterrorismo. Ele chantageou o Estado, metendo bombas nas cidades. As vítimas das bombas de Pablo na Colômbia são várias. Por outro lado, no Bairro Pablo Escobar, construído por ele para os pobres que viviam num lixão em Medellín, você encontra uma foto de Pablo ao lado de uma do menino Jesus”, comenta o ator Wagner Moura, que vive o traficante.
É esta dicotomia que transparece ao longo da narrativa, que tem início ainda nos anos 1970. Na época, Escobar era não mais do que um contrabandista que é apresentado (por um chileno) à cocaína e aos lucros estratosféricos que sua produção e comércio podem gerar.
Cartel
A ascensão de Escobar, que concebeu o Cartel de Medellín, tornando-se um dos dez homens mais ricos do mundo (em seu auge, nos anos 1980, chegou a ser proprietário de 800 casas), é apresentada sob o ponto de vista do assassino, capaz de uma boa dose de psicopatia (capaz de explodir um avião com 107 pessoas a bordo e matar, a pauladas, antigos colaboradores), mas também de gestos de pai amoroso e filho dileto, que mantém a família muito próxima, a despeito de suas atrocidades.
Foi Padilha quem apresentou o projeto de ‘Narcos’ à Netflix. O cineasta utiliza o mesmo tripé que marcou seus dois longas ‘Tropa de elite’: narração em off; câmera tensa, sempre muito próxima dos acontecimentos; e um certo didatismo, que na série ganha a forma de imagens documentais.
Produtor-executivo da série, escrita pelo norte-americano Chris Brancato, Padilha dirige apenas os dois primeiros episódios. Os demais são divididos entre o mexicano Guillermo Navarro, o colombiano Andi Baiz e o brasileiro Fernando Coimbra.
Além de Wagner Moura – que passou uma temporada em Medellín estudando espanhol e engordou 20 quilos para o papel –, Padilha ainda levou para o projeto outros brasileiros que estiveram ao seu lado em ‘Tropa’: Lula Carvalho (fotografia) e Pedro Bromfman (trilha sonora). O ator André Mattos, que esteve em ‘Tropa 2’, também está no elenco, como Jorge Luis Ochoa, o mais velho dos irmãos que também integraram o Cartel de Medellín.
Narcos

Costurando a trajetória de Escobar, está o agente da DEA (a agência antidrogas dos EUA) Steve Murphy (Boyd Holbrook, o narrador da história).

Ao chegar à Colômbia, ele não demora a apontar um pouco conhecido Escobar como o responsável pela ascensão do narcotráfico. Ao lado do parceiro Javier Peña (o chileno Pedro Pascal), faz da perseguição a Escobar sua razão de viver. E a caça também transforma o pacato agente, tanto no plano profissional quanto no pessoal.
Com a mulher e um bebê adotado (os pais haviam sido vítimas de Escobar) no carro, Murphy tem uma discussão sem sentido com um taxista colombiano. Não pensa duas vezes em deixar o veículo, empunhar uma arma e atirar no pneu do automóvel. É como se houvesse uma voz ao fundo dizendo que ninguém passa incólume ao terror.
 
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