NOVA FÓRMULA

Recordistas de arrecadação em crowdfunding relatam experiência no modelo

A brasileira Bel Pesce arrecadou mais de R$ 800 mil para financiar palestras e divulgar o terceiro livro

Foto: Divulgação.


 Divulgação

Recordista em arrecadação no Brasil, Bel Pesce ganhou três vezes mais do que pediu no Kickante

Cultura muito difundida em países como Estados Unidos, as plataformas de financiamento coletivo (crowdfunding) têm sido fórmula usada para que projetos saiam do papel sem a necessidade de vínculo com grandes corporações. Proposta que difere da época em que, tradicionalmente, o artista precisava escolher entre associar-se a um conglomerado que financiasse sua ideia (editoras e gravadoras, por exemplo), ou aventurar-se de maneira independente, por vezes, assumindo as despesas do projeto.

A vida é troca e, na atmosfera artística, não seria diferente. A filosofia é adotada por Amanda Palmer, cantora, compositora e, agora, escritora. A americana reiterou a tese da fé no coletivo no livro A arte de pedir — Ou como aprendi a parar de me preocupar e deixar que os outros me ajudem, um apanhado de memórias da artista, que, em 2012, bateu o recorde mundial de arrecadação pelo site Kickstarter. Ela pediu US$ 100 mil dólares para gravar um disco com a banda The Grand Theft Orchestra, Theatre is evil. Superou a meta em mais de 10 vezes, recebendo cerca de US$ 1,2 milhão em doações.
Pechincha, requisição, esmola. Chame como quiser. Para Amanda, não há nada mais importante do que pedir. Não pelos fins, e sim pelos meios. Aceitar ajuda a criar laços e estabelece conexões. “Nós nos tornamos tão obcecados com ter e acumular bens materiais que nos esquecemos de que o processo de criação e compartilhamento é o que alimenta nossas almas”, filosofa a cantora e escritora em entrevista ao Correio.
Uma das recompensas foi um show exclusivo a quem colaborou. Na ocasião, desceu nua do palco e foi abraçada pelo público, enquanto era autografada pelos fãs com caneta hidrocor. Casada com o escritor Neil Gaiman (autor da obra-prima Sandman, entre outros best-sellers), Amanda contou com a ajuda do marido para a edição do primeiro livro. “Ele me ajudou a finalizar a obra. Precisamos cortá-la quase que pela metade, e esse foi um ato de confiança. Ambos lemos e suavizamos o trabalho um do outro, uma coisa agradável sobre ser casada com um escritor”, explica Palmer, que também é ícone feminista.
Versão brasileira
No ano passado, a brasileira Bel Pesce pediu R$ 260 mil no Kickante para financiar palestras e divulgar o terceiro livro — A menina do Vale 2, sequência de obra homônima que havia sido baixada 2 milhões de vezes na web —, onde propagava ideias de empreendedorismo. Em um mês, conseguiu quatro vezes mais (quase R$ 900 mil) do que pediu com a ajuda de 5 mil internautas. Atingiu dois recordes: o maior valor e a maior quantidade de apoiadores no Brasil.
O que faz o público contribuir?
Financiar um projeto cultural não é simplesmente doar dinheiro, mas ter a oportunidade de participar da obra, vê-la em primeira mão, ter acesso a produtos únicos e, em alguns casos, conhecer o artista em questão. Segundo o Kickante, 30% das contribuições vem da base de amigos e familiares de quem pede. Em três dicas, Amanda Palmer, Bel Pesce e Rodrigo Lima norteiam quem pretende investir no modelo de financiamento. Entenda como ampliar as chances de atingir o objetivo.
“Não presuma que não há dinheiro livre lá fora, ou que Kickstarter ou qualquer tipo de financiamento público vai ajudá-lo a encontrar o seu público. É uma ferramenta para aproveitar o público que você já tem, não uma varinha mágica”, pontua Amanda Palmer.
“Permiti que os apoiadores pagassem R$ 35 para receber o livro autografado e participar de uma palestra, valor que é acessível. O boca a boca é um importante meio de divulgação. Outro fator essencial foi vender pacotes para empresas e também para pessoas físicas, atingindo diferentes públicos. Fazer algo que represente as pessoas é algo poderoso, desde que qualquer um tenha acesso. Para viralizar, não há regras. Essa foi a fórmula que usei. Mas há quem prefira o humor, ou um vídeo bem produzido”, acredita Bel Pesce.
“Todo tipo de banda pode fazer esse tipo de financiamento, não só as de punk e hardcore. Não sei se posso dar conselhos aqui, pois o Dead Fish está num patamar que muitas outras ainda não estão. O que eu posso aconselhar é: saiba se situar diante de suas possibilidades. Ser ousado e ter um bom projeto, boas ideias, atraem muito. O resto é ter uma boa divulgação, e até um pouco de sorte”, analisa Rodrigo Lima.
VER COMENTÁRIOS
Polícia
Concursos e Emprego
Esportes
Entretenimento e Cultura
Saúde
Mais Notícias