Separadas desde o início da segunda temporada, Piper Chapman (Taylor Schilling) e Alex Vause (Laura Prepon) estão novamente juntas em Litchfield. Essa é a primeira novidade do terceiro ano de ‘Orange is the new black’ – os 14 novos episódios estreiam nesta sexta-feira na plataforma Netflix. Mas não somente isso. No dia de seu aniversário, ao receber a visita da família na penitenciária federal, Piper finalmente sai do armário. Bem, no caso dela, das grades: “Tenho uma namorada”.
Há uma semana disponível também no Netflix, ‘Sense8’ traz, em seus capítulos iniciais (são 12 ao todo), um discurso que chama a atenção. Preparando-se para ir com a namorada para a Parada Gay de San Francisco, a personagem Nomi Marks dispara: “Por muito tempo tive medo de ser quem sou, porque fui ensinada, por meus pais, que havia algo de errado com pessoas como eu. Então, hoje vou à parada pela parte de mim que estava com medo. E por todas as pessoas que não podem ir”.
Nomi é uma blogueira transexual interpretada pela atriz transexual Jamie Clayton e dirigida pela transexual Lana Wachovski (que divide a função com seu irmão, Andy, a dupla de cineastas de Matrix).
‘Orange is the new black’ é centrada na vida de um grupo de mulheres que cumprem pena no estado de Nova York. Sense8 gira em torno de oito estranhos que, vivendo em culturas e países distintos, são conectados mental e emocionalmente.
As duas narrativas não têm qualquer relação, mas a diversidade sexual não fugiu à pauta da conversa com parte do elenco que esteve no Brasil nesta semana. De ‘Orange is the new black’, vieram Uzo Aduba (Suzanne “Crazy Eyes” Warren), Samira Wiley (Poussey Washington) e Natasha Lyonne (Nicky Nichols).
De ‘Sense8’, Naveen Andrews (Jonas Maliki, o homem que faz as conexões entre os oito desconhecidos) e Miguel Ángel Silvestre (Lito, um dos escolhidos, é um ator mexicano de novelas). À exceção da personagem de Naveen, todos os outros são homossexuais nas respectivas séries.
“O entretenimento oferece uma janela para que as pessoas abram sua cabeça”, afirmou Natasha Lyonne sobre o poder da TV para o respeito à diversidade sexual. “À medida que mais e mais pessoas assistem à nossa série, a história acaba ajudando a humanizar e abrir a mente de cada um para vários aspectos.”
Lito começa a série como um alívio cômico para todos os problemas que cercam os outros coprotagonistas. Com o avanço da trama, a história do galã ganha contornos mais escuros. “E acaba se tornando uma das mais bonitas histórias de amor que já vi”, afirma Naveen, lembrando que, no ato final, o personagem finalmente se aceita. “Hoje, as pessoas ainda estão sofrendo disto. No passado, foi Montgomery Clift, que acabou destruído. Antes, Lorca. Então, é importante que se continue a falar disto. A briga ainda não terminou.”
SISTEMA Ainda que a diversidade sexual perpasse as duas narrativas, não é seu tema dominante. As produções versam, cada uma a seu modo, sobre relações humanas. “A grande questão da série é a jornada dessas mulheres dentro de um sistema corrupto que tem um senso de justiça próprio”, afirmou Natasha. Uzo Aduba acrescentou: “Nesta temporada, toda essa instituição está recolhendo seus pedaços, depois do terremoto do ano passado. Sobre Suzanne, o que posso dizer é que ela está passando por um estágio de luto e de aceitação.” As atrizes pouco adiantaram sobre os rumos da série. Por ora, o que está certo é que haverá uma quarta temporada em 2016.
Já a novata ‘Sense8’ está bem cotada. Foi pirateada nos EUA, no primeiro fim de semana, meio milhão de vezes. Para os dois atores que vieram ao país, trabalhar com os irmãos Wachovski foi uma experiência e tanto. “Até então, só havia trabalhado de maneira convencional. Lia o roteiro e gravava. Desta vez, o que estava escrito não foi necessariamente o que chegou até a tela. Lana filmava a mesma cena de ângulos diferentes e estava sempre sussurrando o que devíamos fazer. Você tem que estar aberto a essa nova maneira de trabalhar”, disse Naveen, acrescentando que o aspecto multicultural de Sense8 (há personagens em vários continentes) é “subversivo” em relação ao crescimento do “fascismo e nacionalismo em todo o mundo.”
*A repórter viajou a convite da Netflix
Novo ano começa em clima de ressaca
Carolina Braga
Não espere da terceira temporada de ‘Orange is the new black’ a mesma rede de intrigas femininas, violência e até sexualidade tão afloradas. São elementos que não podem faltar a essa história, mas o novo ano da série baseada no livro de Piper Kerman pega mais leve, por motivos óbvios. A fatídica retirada de cena da vilã Vee (Lorraine Toussaint) – e tudo o que ela aprontou dentro da penitenciária na temporada passada – deixa o clima estranho por lá. Uma ressaca. Agora, fé, maternidade e família são a bola da vez, pelo menos nos seis primeiros episódios.
O humor também ganha mais espaço. Afinal, foi esse o gênero que mais deu prêmios à ‘Orange’, mesmo parecendo equivocada sua classificação como série cômica. Explorar a dualidade das personagens sempre foi a grande sacada de Orange is the new black. São mulheres condenadas, cumprem penas, mas os crimes não entram na pauta. Sabe-se que ninguém ali é santo. Ou melhor, santa. Seres humanos e suas inconstâncias. Atenção: a partir desse ponto, há spoilers.
As duas primeiras temporadas se ocupam de mostrar que a convivência no espaço restrito faz revelar o que há de pior e também de melhor em cada uma. Descobrem, por exemplo, que aquilo que então parecia inimaginável (como sentir prazer fazendo sexo com outra mulher) pode acontecer e surpreender. Também que podem ser mais violentas do que supunham.
A pegada continua sendo essa. Mas, como resta pouco o que revelar sobre a protagonista – uma garota de classe média que acaba envolvida em um esquema de tráfico de drogas e presa em Litchfield –, Piper Chapman (Taylor Schilling) deixa de ser o centro das atenções. Não significa que ela esteja totalmente fora da jogada. Principalmente porque a ex, Alex Vause (Laura Prepon), está de volta à penitenciária, e as duas têm muitas contas a acertar. Inclusive românticas.
Nas tramas paralelas, ganham mais relevo histórias de detentas até então secundárias. Aceitação familiar é tema para Boo (Lea DeLaria) e Nicky (Nicky Nichols), por exemplo. A latina Dayanara Diaz (Dasha Polanco) precisa lidar com mais um abandono. A loucura bate mais forte à rotina de Crazy Eyes (Uzo Aduba). Já Poussey (Samira Wiley) tem acertos a fazer com alcoolismo e também com a sexualidade.
Novas detentas chegam a Litchfield somente no sexto episódio da terceira temporada. Com elas, conflitos diferentes tendem a apimentar as coisas. Até então, os dias na penitenciária federal próxima à Nova York andam bem mais calmos do que já foram.