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Em ‘Sangue azul’, Lírio Ferreira conta a história de tragédia familiar

Mesclando realidade e elementos mitológicos, um circo onírico serve de cenário para o reencontro de dois irmãos

DD

No primeiro momento, ‘Sangue azul’ remete o espectador ao mundo do espetáculo: o circo. Este é também o mundo do cinema, do primeiro cinema, que era arte do puro espetáculo e, no mais, tinha no circo um de seus apoios.

O circo de ‘Sangue azul’ não é realista. Suas atrações também parecem fazer parte de um rico passado: motos no globo da morte, o atirador de facas, o homem bala. Tudo isso nos leva a algo que não é nem do mambembe a que estamos acostumados nem do Cirque du Soleil. É de um circo de cinema. De sonho.
O circo em questão encontra-se numa ilha. Prosaicamente, é possível dizer que se trata de Fernando de Noronha, onde o filme foi rodado, mas a ideia não é essa: em definitivo, não se trata de um filme realista.
Nessa ilha que, entre um número e outro, uma tragédia se desenha: a que envolve Zolah, o homem bala (Daniel de Oliveira), sua irmã Raquel (Caroline Abras) e Cangulo (Rômulo Braga).
Além deles, a trama permite que, de maneira harmônica, outros personagens se manifestem – de Inox, o homem mais forte do mundo, ao atirador de facas, sem falar dos personagens francamente mitológicos que intervêm.
O incesto é o centro de tudo. Por temê-lo, Rosa afastou Zolah de Raquel. Raquel tornou-se pessoa do mar – a mergulhadora que mostra o fundo do mar a turistas e tal. Zolah virou homem do ar: o homem bala, o voador.
Raquel está comprometida com Cangulo, também homem do mar (cangulo é nome de um peixe). Mas a chegada de Zolah representará um transtorno para os três.
O que se desenha é, obviamente, uma tragédia entre pescadores e artistas de circo. Se a primeira parte do filme é dominada pela magia circense e pela saudável safadeza, a segunda tende ao sombrio. A passagem é fluente.
Se existe um problema na parte final é a sensação de que o diretor Lírio Ferreira parece ceder aos evidentes encantos da ilha: a ênfase na beleza toma lugar dos principais elementos até ali tratados: o mito, a natureza e o trágico.
Nada que mude a impressão de que ‘Sangue azul’ é um espetáculo muito superior à média do que se está vendo atualmente nas salas. (Folhapress)
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