Ao tomar emprestada, do meio da rua, uma incrementada moto, a protagonista do mais recente filme de Paul Feig deixa clara a verve cômica da intérprete Melissa McCarthy, quando ela dispara: “Quem pôs um teto numa lambreta? Quem é você para fazer isso, o papa?”.
Enquanto acata os preceitos dos filmes de 007, com direito à esperada bomba a ser interceptada, a comédia investe pesado nas figuras femininas, já que, além de McCarthy (noutra parceria com Feig, depois de Missão: madrinha de casamento e As bem-armadas) em cena, dispõe de atrizes como Allison Janney e Rose Byrne na pele da vilã Rayna Boayanov.
Conduzindo um humor bastante mordaz, Paul Feig volta ao posto de roteirista, abandonado fazia tempo. Há gosto duvidoso pelo timing — ficou pesado fazer graça com terroristas na França — e alguma inadequação, vale ressaltar. Caso da cena em que a protagonista vomita em cima de um corpo. Mas é impossível não se distrair com as piadas infames de Feig. A espiã que sabia de menos coloca Melissa McCarthy numa posição similar à do admirado agente da CIA (Jude Law) que ela ampara, e orienta, via meios virtuais.
Na verdade, a partir de missão falha, Susan Cooper (McCarthy) substitui o colega de quem foi devota. Quem define a participação da agente (sempre relegada à sombra) é a pouco ilustrada chefe dela (que, por exemplo, achava conjuntivite “uma doenças de crianças nojentas”). Entre falta de finesse para ambientes sociáveis e o uso de uma série de disfarces risíveis, Susan se sobressai no comando da ação, e da graça — mesmo confrontando a espirituosa vilã búlgara Rayna.
A princípio invisível, Susan caminha para fazer de gato e sapato o arrogante colega Richard. Nesse papel, Jason Statham — o abrutalhado ator de Carga explosiva e Adrenalina — se supera, com paródia de si mesmo, fazendo graça da insensibilidade, relatando série de sucessivas e descaradas bravatas de ação. Completando o elenco, Miranda Hart é Nancy (chamada de “avestruz asmático” em cena), a assistente da assistente Susan, e Peter Serafinowicz se encarrega de personificar o tarado italiano Aldo. Ironias finas dão o tom do controverso humor do cineasta Paul Feig.