Arnold Schwarzenegger tinha 20 anos quando venceu, pela primeira vez, o concurso Mr. Universo – na época, foi o mais jovem atleta a conquistar tal prêmio. Conquistou, ainda, por sete vezes, o Oscar do fisiculturismo, o chamado Mr. Olimpia.
Austríaco, chegou aos Estados Unidos aos 21 anos, falando quase nada de inglês e determinado a fazer a América. Virou astro de cinema, tornou-se político, casou-se até com uma Kennedy. É hoje personagem de si mesmo. Aos 67 anos, o Terminator, ex-Governator, fala de sua trajetória quase num tom “minutos de sabedoria”.
“Uma pessoa que nasce na Áustria, se quiser ser campeã nos esportes, vai se dedicar ao esqui, nunca ao fisiculturismo. Quando comecei a fazer cinema, me falaram que, com o sotaque e o corpo hipertrofiado, eu poderia fazer um oficial nazista. Nunca seria protagonista. E ainda que eu teria que mudar meu sobrenome, porque, nos Estados Unidos, ninguém se lembraria dele. Pois só posso dizer que a gente tem que deixar o negativismo de lado. Se tiver um sonho, você vai conseguir.”
Essa síntese de sua trajetória foi feita no final da manhã de ontem, no Copacabana Palace, para uma plateia de 150 jornalistas latino-americanos. No encontro, Schwarzenegger falou muito e disse pouco. Ninguém cumpre dois mandatos de governador da Califórnia impunemente.
O ator veio ao Rio de Janeiro, cidade que frequenta desde os anos 1970, para participar, pela terceira vez, da Arnold Classic, seu evento de fisiculturismo que ganhou edição carioca. Aproveitando o pacote, badalou o longa ‘O exterminador do futuro – Gênesis’, em que volta a encarnar, pela quarta vez, seu personagem mais conhecido. Agora dirigido por Alan Taylor (que traz entre principais credenciais do gênero ‘Thor – O mundo sombrio’ e episódios de ‘Game of thrones’), o filme só estreia no Brasil em 2 de julho.
Os jornalistas assistiram a 20 minutos da nova saga, com três sequências de ação. Na primeira, o Schwarzenegger de hoje contracena com ele mesmo, como o T-800 do filme de 1984. Na segunda, é chamado de Papi por ninguém menos que Sarah Connor. Na terceira, o protagonismo é de um velho ônibus escolar que despenca na Golden Gate, em Los Angeles.
Para que a história fizesse algum sentido tantos anos depois – a última sequência a contar com Schwarzenegger no elenco é de 2003, mesmo ano em ele se tornou governador republicano – a história vai e volta no tempo.
RESISTÊNCIA Em dados gerais, ‘Gênesis’ parte de John Connor (Jason Clarke), o líder da resistência humana que, do futuro, envia o sargento Kyle Reese (Jai Courtney) de volta a 1984 para proteger Sarah Connor (Emilia Clarke, a Daenerys Targaryen de ‘Game of thrones’). Ela tem uma relação quase de filha com o velho T-800 (aguarde algumas risadas do Exterminador tentando ser humano).
Só que algo inesperado acontece, e é criada uma linha do tempo fragmentada, fazendo com que surja uma nova versão do passado. O Exterminador não é o único papel que Schwarzenegger está voltando a fazer. Ele também vai reeditar Conan, o Bárbaro, papel que há 35 anos representou sua primeira grande chance no cinema. Sobre Conan, ele disse: “Para mim, é uma grande honra voltar a fazê-lo, já que, no cinema, temos franquias, como Batman e James Bond, que continuam com outros atores.”
Ainda se prepara para voltar a contracenar com Danny DeVito em sua terceira comédia com o ator. Depois de ‘Irmãos gêmeos’ (1988) e ‘Júnior’ (1994), o filme, ainda em fase de roteiro, vai se chamar ‘Trigêmeos’. A não ser uma produção pequena, independente, que estreia no Brasil em 9 de julho – ‘Maggie, a transformação’, misto de drama e horror sobre a relação de um pai com sua filha, transformada em zumbi –, todos os outros papéis são reciclagens do que ele fez no passado.
No entanto, sobre seu papel mais nobre (na política), Schwarzenegger mostrou que aprendeu com os melhores. Fala, fala, mas demora a chegar ao ponto. De maneira bem simplista, disse que os governantes deveriam trabalhar para o povo. “Quando um político é eleito, ele não deveria servir apenas ao partido. Foi o que tentei fazer quando fui governador. Como direita e esquerda não gostavam de mim, busquei trabalhar para o povo.”
Direto ao ponto, ele só foi mais tarde. Schwarzenegger, muitos sabem, sempre quis ser um novo Ronald Reagan. Mau ator e republicano ele já é. Popular também. Então, por que não aspirar ao cargo máximo dos EUA?
Só que, embora possua dupla cidadania e tenha “feito a América”, Schwarzenegger não nasceu em território americano, o que é condição indispensável para chegar à Casa Branca. Ele disse que, depois de ter sido governador, o próximo passo seria a Presidência. Como não pode almejá-la, afirmou que “jamais vai se candidatar ao Senado”.
Afinal, para que uma cadeira no Legislativo se, como Exterminador, ele pode ajudar a salvar toda a humanidadea?