Sean Penn, quem diria, também teve seu dia de Nicolas Cage. Seguindo o caminho de outros colegas de geração – Denzel Washington e Liam Neeson, no caso – foi se meter a fazer filme de ação de segunda categoria.
‘O franco-atirador’ (só o título é o mesmo do oscarizado filme de 1978, dirigido por Michael Cimino e estrelado por Robert de Niro) é uma adaptação do romance homônimo, escrito pelo francês Jean-Patrick Manchette. A direção é de Pierre Morel, o mesmo de ‘Busca implacável’, hoje uma trilogia de ação que fez de Neeson uma estrela do gênero.
O cenário aqui é o Congo. O ano, 2006. Penn, longe da tela grande desde sua participação em ‘A vida secreta de Walter Mitty’ (2013), é Jim Terrier. Assassino profissional que tem um trabalho de fachada como segurança de uma ONG, mata, sob encomenda de uma mineradora, um ministro de Estado do país africano, o que desencadeia uma revolta nacional.
Oito anos mais tarde, ainda no Congo, mas longe da vida de matador, seu passado vem à tona. Assassinos agora estão atrás dele, e Terrier vai em busca dos ex-companheiros para tentar descobrir quem quer matá-lo.
Esse mote é apenas uma desculpa para uma série de tiros, lutas corporais (que exploram à exaustão o peitoral muito acentuado de Penn) e derramamento de sangue. Fosse só isso, não seria um problema para os fãs do gênero.
A questão é que a narrativa tem como pano de fundo um triângulo amoroso. Na primeira parte da história, Terrier era namorado de Annie (a italiana Jasmine Trinca), médica da ONG comandada por Felix (Javier Bardem, mais canastrão do que nunca). O espanhol, lógico, era apaixonado por ela e, assim que se vê livre de Terrier, casa-se com a mocinha.
Uma vez fora do Congo, o acerto de contas do protagonista passa pela Grã-Bretanha com uma escala na Espanha, mais especificamente em Barcelona. O lugar-comum é tanto que até uma tourada aparece na cena final (uma liberdade narrativa e tanta, já que as touradas estão proibidas na Catalunha desde o início desta década).
Não é difícil saber quais são os bandidos nesta história em que tantos detalhes se perdem (o personagem de Terrier sofre de uma doença que acaba não dando em lugar algum). Tampouco imaginar como será o final.
Difícil é entender como o engajado Penn topou participar desse filme. Se a exploração das riquezas naturais do Congo aparece com um quê de denúncia na parte inicial do longa, a problemática vai se arrefecendo até se tornar uma mera desculpa para um acerto de contas de um homem apaixonado.