Após o caso de Pharrel Williams e Robert Thicke com a música Blurred Lines, acusados de plágio e sentenciados a pagar US$ 22 milhões ao artista Marvin Gaye, a seguinte questão tem assumido grande importância: até que ponto influências e similaridades podem ser consideradas cópias? A conotação da palavra plágio assume diferentes formas e intensidades. Para uns, pode soar como uso impróprio; para outros, é roubo. O uso indevido de trechos, partes ou até mesmo obras completas de uma terceira pessoa para benefício próprio talvez esteja presente na arte há tanto tempo quanto a existência dessa.
Mauro Ferreira, crítico musical, defende que não houve fraude no caso citado. Para o especialista, o crime se configura quando existe má fé do artista. “A discussão é mais intensa por existir essa questão do limite, até onde é plágio, até onde é uma citação. Não é fácil delimitar essa fronteira. Acho que houve uma levada na música que não foi creditada ao Marvin Gaye, mas eu não considero como cópia”, afirma.
Especificamente sobre o universo musical, Ferreira relembra uma antiga questão que acaba por diferenciar esse segmento artístico dos demais. “Na música existe o sampling, que é algo bem diferente de plágio. Se você usar o pedaço de uma obra, tem que dar o crédito. O problema é que nem sempre isso acontece”, explica o crítico.
Apropriações
Para o escritor e professor Ricardo Lísias, essa discussão sequer faz sentido na esfera literária, após terem sido realizados tantos experimentos artísticos. “Talvez possamos falar em pastiche, em apropriações, reescrituras, citação, mas plágio acho algo antiquado”, explica. Lísias passou por situações curiosas, nas quais foi acusado de copiar um diário e documentos em duas obras.
“Vivi uma espécie de pastiche do plágio: fui acusado por alguns leitores de plagiar um diário que, na verdade, não tem nada disso no romance Divórcio. Na série de e-books Delegado Tobias, falsifiquei alguns documentos, e isso foi imediatamente tomado como verdade. Ou seja: minhas falsificações viraram verdade, eu estou envolvido com o contrário do plágio. Um plagiário diz que é verdade o que ele copiou. Já as pessoas dizem que é verdade o que eu inventei!”, conta o escritor.