EXPLICAÇÃO

No dia em que completa 79 anos, Dedé explica sobre ligação com Brasília

Em entrevista o ator conta sobre o início da carreira e a amizade com Renato Aragão

 
Dedé

Nas palavras do eterno trapalhão Dedé Santana, ele tem cara de baiano, nome de alemão (“é Manfred mesmo, sem ‘i’”), mas nasceu em Niterói; há exatos 79 anos. Dedé aproveita para esclarecer que não é irmão de Renato Aragão nem cearense. “São coisas em que sempre acreditam”, conta. O ator também faz crer que não seja comediante — “sou é ajudante de palhaço”, corrige.

Pelo que conta, o artista também auxilia “heróis” que gostam de fazer cinema, caso do diretor brasiliense Santiago Dellape, capaz de trazê-lo para a capital, compromissado com o longa Licença prêmio. “Quando vi Ratão (curta de Dellape), falei: ‘meu Deus, esse cara é o Tarantino brasileiro’”, avalia. Antes, temeroso de encarar um set de filmagens, diante da adoção de “linguagens diferentes”, Dedé, com estreita ligação com Brasília, sentencia: “Foi emocionante fazer esse filme”.
Os sentimentos têm estado aflorados para o artista. Lamentações, como a da debandada de artistas circenses “que fogem do Brasil” para Las Vegas e a da falta de apoio para circos, se fundem a alegrias. Em alta, diversões como a de ter dividido o palco com Renato Aragão, em Os saltimbancos trapalhões — O musical. Mesmo modernizado — “tenho muitos fãs, naquele WhatsApp” —, Dedé não se descola do passado: “Eles me mandam cenas das quais nem lembrava. Do seriado Shogun, Os Trapalhões fizeram o Show gay (risos). Não me lembrava de nada. Mas, assisto e dou muita risada”.
Paixão por Brasília
Tenho uma parte da minha vida e do meu coração em Brasília. Sou apaixonado pela cidade. Essa foi a grande razão de eu estar no longa Licença prêmio. Quando tinha a Cidade Livre, eu estava em Minas Gerais e era fã de carteirinha do Juscelino. Parte da minha família é mineira.
Falei comigo: “Vou enfrentar, vou para Brasília”. Vim para cá dois anos antes da inauguração. Botei meu material nos caminhões de circo e vim. Em Três Marias (MG) caiu uma ponte. Lá, o pessoal da usina, que era cheia de americanos, deu a dica de armarmos o circo para não passarmos fome.
Cidade livre
Cheguei a Brasília e armei o circo tão bem a ponto de ser convidado para atuar na Rádio Nacional, onde fiz Domingo de festa. Em seguida, fui convidado para inaugurar a tevê na cidade: fui a primeira cara que apareceu no ar em Brasília, cercado por DKW-Vemague.
Na W3, ainda num teatro não inaugurado, fiz uma peça, De Cabral a JK. Meu secretário tinha a cara do presidente, então botei ele no fim da peça e as pessoas aplaudiam de pé.
Na Cidade Livre, fiz uma casa de show chamada Bossa Nova. Lá, tive a honra de receber Tom Jobim e Norma Bengell.
Circo
O circo está quase morto. Fui nomeado, por Brasília, com indicação do Tiririca, embaixador do circo no Brasil… Circo é tema que toca muito meu coração. Tenho medo de que ele acabe.
No circo-teatro é que aprendi fazendo drama, comédia e chanchada. Do circo saíram grandes artistas: no cinema americano, Burt Lancaster, Kirk Douglas; no Brasil, do circo vieram Lima Duarte, Walter Stuart.
O circo está sem apoio nenhum do governo. Até me surpreendi, viajando por Santa Catarina, pelo Rio Grande do Sul: ainda temos grandes artistas de circo-teatro.
Fã do Didi
Tenho um grande orgulho de ter levado o humor circense para a televisão. Dos Trapalhões, o único circense sou eu. Convenci o Renato Aragão, e eles concordaram em fazer o humor do palhaço de circo. Acho que esse foi o grande sucesso nosso.
Zacarias, sem dúvida nenhuma, era o maior ator do grupo. Ele fazia um personagem, e segurava aquele personagem. Mussum, para mim, era o grande comediante do grupo. Ele improvisava, era musical.
Dedé e Didi, no grupo, são os verdadeiros palhaços de circo. Nós sabemos o truque de fazer rir. Nunca me considerei um dos Trapalhões, sempre me considerei fã dos Trapalhões. Sempre fui fã de cada um, e, de carteirinha, do Didi.
“Eu era um otário, metido a galã, feio, da periferia”, observa, com o distanciamento de pessoa física, o humorista Dedé Santana, ao relembrar do eterno sucesso da galeria de personagens emplacados junto a Os Trapalhões. “Meus tipos achavam que, se colocassem a roupa do Roberto Carlos, seriam o cantor. Os personagens eram caras completamente idiotas. Por outro lado, sempre fui o maior defensor dos colegas — brigava pelos companheiros”, comenta Dedé, que, hoje, completa 79 anos.
Independente do espírito de companheirismo em cena, Dedé sempre teve como retribuição a gozação. “Era um bullying sadio”, brinca. Na telinha, não faltavam as provocações. Fosse pela panca de “rapaz alegre” ou pelos figurinos adotados (“olha o sapato da menina, e me apontava”), o comediante nunca se sentia agredido. “Eu mijava de rir quando diziam: a audácia da pirombeta…. Fazia coisas, na verdade, que nem eu entendia”, ri.
A forma de rir, segundo o artista tem mudado, nos tempos modernos em que se readequou para estar no set comandado pelo brasiliense Santigao Dellape, com o longa Licença prêmio. “Pedi para ver um filme do Dellape, e me deram o Ratão, premiado em Gramado. Sempre pensei que os festivais de Gramado e de Brasília são os mais fortes do Brasil; então não tive dúvidas em participar”, explica.
Atualmente, humoristas como Biribinha, Serelepe e Tubinho fazem a cabeça de Santana. “O Molita, no Rio Grande do Sul, é o verdadeiro Mazaroppi. Ele é sen-sa-cio-nal, com aquela pureza do caboclo. O Guri é de Uruguaiana e o Jorge da Borracharia também são ótimos comediantes”, observa. Para ele o humor, no Nordeste, está mais do que resolvido, com amplo apoio e empregos para comediantes.
Fã e crítico da tevê, atualmente, Dedé não desgruda o olho de Tapas & Beijos. “Vejo este programa como o futuro do humor no Brasil. Falo isso, tendo sido diretor de vários filmes dos Trapalhões — dirigi até nos Estados Unidos uma parte do filme Os Saltimbancos Trapalhões”, diz. No Tapas & Beijos, o acerto, pelo que nota, vem de não haver concentração em cima apenas dos protagonistas. Não há cenas longas, e tudo é contado rapidamente. “Ainda assisto muito A praça é nossa: tem um deputado (João Plenário) lá que me faz morrer de dar risadas. A turma do Comando Maluco também é ótima”, arrisca.
Em cinema, Dedé tem notado que as comédias estão muito boas. “Sou mais do cinema, então não acompanho a stand-up comedy. Tenho acompanhado, no cinema, o Leandro Hassum. É um cara que nasceu para fazer cinema”, avalia. Intimidade e a comunicação com a câmera são pré-requisito para o cinema, que é “muito difícil”.
No campo sonoro, a música — elemento que sempre interessou Dedé, que chegou a ser dono de casa de show na Cidade Livre — tem deixado a desejar, aos ouvidos do ex-empresário. “Dirigi teatro e shows, então, gosto de todo o tipo de música. As músicas que me convencem — é chato dizer isso — são as músicas antigas. As próprias novelas da Globo se calçam com o que? Com músicas antigas. As letras das músicas da Elis Regina, do Jair Rodrigues e do próprio Roberto Carlos você não encontra mais em nenhum outro lugar. As músicas de agora são: “mexe a bundinha, dá uma paradinha…” Pô, meu irmão, é brabo, é brabo”, conclui, aos risos.
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