Ao longo dos últimos 30 anos, foram várias as tentativas de retomada de um marco no cinema, que começou modesto, mas estabeleceu um reinado: até A bruxa de Blair (1999), Mad Max (1979) pairou como mais rentável longa, em termos de custo/benefício. A injeção de US$ 400 mil (o orçamento inaugural da franquia) trouxe mais de US$ 100 milhões de lucro aos cofres de Hollywood. Os tempos são outros, o diretor é o mesmo, George Miller, e a intenção com o novo Mad Max: Estrada da fúria é de reinvenção.
“Percebo os filmes de ação como uma espécie de música visual e, particularmente, este novo fica a meio-caminho entre uma ópera e um pesado show de rock”, explica o cineasta, em material internacional de divulgação. A autenticidade das imagens feitas no deserto africano da Namíbia substituiu a pretensão de filmagens na Austrália (por causa de inesperadas chuvas). Cabos de segurança nos personagens foram apagados digitalmente, mas quem está na maioria das cenas são mesmo os astros Tom Hardy (o novo Max Rockatansky) e Charlize Theron.
Criador da série de três filmes produzidos até meados dos anos 1980, George Miller, hoje em dia, sabe avaliar o impacto de Max, que já foi comparado a samurais solitários japoneses, a um “western sobre rodas” na França e,na Escandinávia, a guerreiro viking. Mel Gibson — sem ligação com o filme que chega às telas, hoje — incentivou o ator Tom Hardy (A origem) na empreitada de assumir o comando da trama. “Almocei com Mel, foi bacana: ele me repassou a tocha”, resumiu o ator, ao falar do anti-herói.
Computação
A nova aventura ganhou forma, a partir de 3,5 mil storyboards (idealizações gráficas das cenas). Ao lado de Miller, ainda nos inícios dos anos 2000, o artista Brendan McCarthy concebeu os desenhos. Uma nova personagem (a cargo de Charlize Theron), Furiosa, dá largada na ação, depois de libertar cinco outras mulheres. “Charlize é inconfundivelmente uma mulher, mas a personagem não faz concessão que toque feminice”, observa o diretor. Realismo — casado com imensa ambição visual — também foi palavra de ordem no set que minimizou o abuso de computação gráfica. “Vejo muita base de Mad Max naquilo dito por Alfred Hitchcock sobre a feitura de filmes que podem ser assistidos em qualquer parte do mundo, sem necessidade de legendas”, já assumiu Miller.
Uma década depois do maior êxito no cinema, com o animado pinguim de Happy Feet, George Miller emplaca, na telas, um ritmo bem menos inofensivo, criado na mobilidade de 150 veículos confeccionados à mão e presentes no filme. Intérprete de Toecutter, no filme de 1979, o ator Hugh Keays-Byrne, agora, por trás de uma máscara, dá vida ao vilanesco Immortan Joe. Garantir a tumultuada passagem para a terra natal, pretendida por um grupo de garotas,entre as quais Rosie Huntington-Whiteley (Transformers: O lado oculto da lua), está entre as missões de Max. Ele é alvo da perseguição e da tirania de oponentes como Rictus Erectus (Nathan Jones).
Na guerra das estradas, estão ainda Slit (Josh Helman) e Nux (Nicholas Hoult). Todo o enredo da aventura transcorre passados 45 anos desde a implosão de recursos energéticos e de valores humanitários básicos na Terra. Em disputa estão elementos preciosos, como combustível e sangue.