Na abertura da festa, a presença feminina ganhou destaque, com a exibição de La tête haute, de Emmanuelle Bercot. O filme tem a clássica estrela Catherine Deneuve, num enredo de regeneração. Premiada pelo conjunto da obra, a criativa documentarista Agnès Varda levará a primeira Palma de Ouro concedida para uma mulher, sem celebração de obra específica. Coroando o talento feminino, Ingrid Bergman estampa o cartaz e algumas das reprises da programação.
Uma atmosfera de fantasia marca presença em vários longas na disputa. Logo na primeira noite da competitiva, o italiano Matteo Garrone — vencedor do Grande Prêmio em 2008 e 2012 — que explora fábula de Giambattista Basile, coloca em cena Vincent Cassel e Salma Hayek na trama de Tale of tales, cercada de fantasias e reinados. Gus van Sant, por sua vez, escalou Matthew McConaughey e Naomi Watts, na história de uma densa floresta japonesa em que personagens objetivam a própria morte. O filme é chamado O mar de árvores.
Pela primeira vez na competitiva, o realizador grego Yorgos Lanthimos deve chocar (na trilha de Dente canino), com The lobster. Encabeçada por Léa Seydoux (Azul é a cor mais quente) e Colin Farrel, a produção trata de um mundo com novas regras para solteiros, que podem se ver transmutados em animais, caso expirem o prazo de enlace.
Vitrine das vitrines para o mercado internacional, não interessa apenas competir, até a cerimônia de entrega dos prêmios, no dia 24 de maio. Amanhã será a vez de Mad Max: Estrada da fúria ser projetado. No dia 15, quem deve brilhar é Woody Allen, que reuniu Joaquin Phoenix e Emma Stone, na história das confusões amorosas de um professor de filosofia.
Se não há cocorrente brasileiro bem na fita, passada uma semana de programação, o produtor nacional Rodrigo Teixeira entra, aos 45 do segundo tempo: ele é coprodutor do filme do eterno polemista Gaspar Noé (de Irreversível). Em Love, um triângulo amoroso e o desaparecimento de uma mulher estão, desde já, anunciados como material para inflamar a tela.
Primeiro longa dirigido por Natalie Portman, A tale of love and darkness terá sessão especial em Cannes. Adaptado de obra de Amos Oz, trata dos primeiros passos dele como escritor e da formação do Estado de Israel. A relação do autor com a mãe dele também está em pauta. Ainda no campo político, o francês Jacques Audiard entra na competitiva, com Dheepan, em que a encenação de uma família fictícia Guerra civil no Sri Lanka garante a vida de três pessoas.
Olhando para o próprio umbigo – leia-se a produção de cinema, dois mestres contemporâneos deixarão marcas na mostra competitiva: enquanto Paolo Sorrentino (A grande beleza) especula, em Juventude, sobre a amizade de um cineasta e um artista setentões, num filme estrelado por Jane Fonda e Michael Caine; o compatriota dele,Nanni Moretti fala de si mesmo, mas com sexo trocado. Em Mia madre, ele conta da vida de uma diretora de cinema, em set de filmagem, transtornada pela mãe doente e pela filha adolescente.
A Quinzena dos Realizadores – segmento paralelo à competitiva de Cannes – terá nomes consagrados, no contexto dos longas apresentados. O contundente cinema do espanhol Fernando León de Aranoa terá vez em A perfect day, com direito a Tim Robbins e Benício del Toro protagonizando cenas de salvamento, em meio à guerra. Del Toro também estará em foco, pela presença em Sicario, concorrente à Palma de Ouro, e que trata do mundo das drogas, na fronteira dos Estados Unidos com o México.
Com nada menos do que quase 400 minutos de adaptação para a obra de Scheherazade, o português Miguel Gomes comparece com As mil e uma noites, dividido em três partes, na Quinzena dos Realizadores. Laços de família entram em cena, na mesma mostra, com Marcia Allende conduzindo o documentário Allende, meu avô Allende. Outra curiosidade familiar está com Philippe Garrel (À sombra das mulheres) que participa, na mesma edição de Cannes, a 68ª, ao lado do filho Louis Garrel. Louis conduz Les deux amis, integrado à Semana da Crítica.
Com premiação marcada para o dia 23 de maio, a mostra Um Certo Olhar terá diretores inventivos (na marca da disputa) do naipe de Naomi Kawase, Apichatpong Weerasethakul e Brillante Mendoza.
A ser projetado no domingo, Carol trará a terceira participação de Todd Haynes como concorrente em Cannes. Espécie de Thelma & Louise ambientada nos anos de 1950, o filme é cercado de expectativas já que tem nomes quentes como Cate Blanchett e Rooney Mara no elenco.
A programação da Cannes Classics, uma consagrada retrospectiva, promete ter enorme relevância, com obras que celebram o centenário de Orson Welles e a cinematografia dos argentinos Fernando Solanas e Luis Puenzo, além de obra póstuma à morte do português Manoel de Oliveira, com direito a filme inédito criado em 1982.