Orson Welles tinha apenas 26 anos quando fez o primeiro filme, Cidadão Kane, em 1941. A película revolucionou o cinema da época ao apostar em linguagem e narrativa inventivas. Além dos novos ângulos e do uso de lentes especiais (que alteravam os ambientes de acordo com o perfil psicológico do personagem), a narrativa em flashback chamou a atenção num tempo que a linearidade era regra. O enredo da história ia de acordo com o ponto de vista de cada entrevistado.

Contudo, não é só por Cidadão Kane que Welles é lembrado. O cineasta estadunidense — cujo nascimento completa 100 anos hoje — também ficou marcado pelos longas-metragens Soberba (1942), A dama de Shanghai (1947), Macbeth (1948) e A marca da maldade (1958).

A criatividade de Welles, na verdade, surpreendeu os norte-americanos anos antes do sucesso com a produção de estreia, mais precisamente em 30 de outubro de 1938. Naquela data, a rede de rádio CBS interrompeu a programação musical para noticiar uma suposta invasão de marcianos. A “notícia em edição extraordinária” fazia parte de uma peça de radioteatro, inspirada no livro A guerra dos mundos, do inglês Herbert George Wells.

“Ele, por si e por sua vida, já é um filme. A vida dele foi uma loucura. Na filmografia, o que me chama a atenção é o fato de ter inaugurado a ambição de planos grandiosos. Ele tem ousadia que perdura até hoje. Ele emprega um padrão que ultrapassa limites de orçamentos. Talvez, hoje em dia, mexicanos como o Alfonso Cuarón e o Alejandro González Iñárritu busquem perpetuar esta grandiosidade do Welles”, explica o cineasta Renato Barbieri.

O crítico Robert Nason, do Wall Street Journal, ressaltou o caráter inventivo do mago do cinema. “De forma surpreendente, Welles preparou o terreno para a revolução tecnológica — da qual ele praticamente não fez parte. Curiosamente, foi a tecnologia que permitiu que ele fosse visto e apreciado por mais pessoas que aquelas que acompanharam sua carreira enquanto era vivo. Graças aos novos formatos e aos serviços de streaming, seu trabalho é onipresente”, escreveu.