CULTURA MUSICAL
Pesquisador destrincha sobre o ritmo rap no livro ‘Rap e política’
Roberto Camargos, da Universidade Federal de Uberlândia, analisou as músicas do gênero dos anos 1990 até 2005
O pesquisador Roberto Camargos trouxe à tona em seu livro Rap e política: Percepções da vida social política como o rap brasileiro se envolveu no contexto político do país. Para isso, o historiador analisou as músicas do gênero gravadas de 1990 até os anos 2005 por rappers conhecidos até artistas do interior. O material surgiu como trabalho de dissertação do mestrado de Camargos na Universidade Federal de Uberlândia, em Minas Gerais.
“Meu foco mais específico foi tentar buscar as críticas que os artistas formulavam em suas composições. Tive que construir um acervo, por isso adquiri CDs, LPs e baixei músicas na internet porque aqui no Brasil não existe um centro de documentação que abrigue a prática musical”, explica Camargos.
O estudioso, então, buscou canções de artistas como Racionais MC’s, Facção Central e o brasiliense GOG. “Todos esses artistas estão em evidência por ter um potencial crítico. Eles pegam essas questões dos espaços e usar para dialogar com o público”, define.
Durante a pesquisa, que terminou em 2011, Roberto Camargos pôde perceber que o rap tem uma expressão muito forte dentro da cultura brasileira. “Tem potencial crítico, sua dimensão política é muito consistente e isso aparece em primeiro plano. É importante pensar nos rappers e nas suas músicas como uma expressão crítica e política do tempo presente. Eles são intelectuais orgânicos, que falam questões da própria realidade”, completa o pesquisador.
Rap e política: Percepções da vida social política (2015)
De Roberto Camargos. Boitempo Editoral. Preço médio: R$ 34.
Três perguntas // Roberto Camargos
Com o livro Rap e política: Percepções da vida social política, de alguma forma, você queria derrubar alguns preconceitos em relação ao gênero?
Acredito que sim. O livro não tem essa pretensão, mas pode ser um dos elementos de contribuição, por menor que isso seja. Dentro do universo rap existe uma perspectiva de leitura que é muito mais amplaca e, nos últimos anos, começa a demonstrar o peso e os estigmas. O leitor que, eventualmente, tenha algum preconceito ao ler o trabalho pode flexibilizar a sua opinião e mudá-la. Inclusive, no segundo capítulo, o livro passa justamente por essa questão do diálogo entre os críticos e os rappers.
Como você percebe o universo rap hoje no Brasil?
Ele é bastante completo e possui muitas facetas. Acho que cada um merecia um estudo, uma reflexão mais atenta para explorar suas particularidades. É um gênero que está em constante transformação e que expressa os espaços comuns.
Você acredita que o rap brasileiro teve alguma influência do norte-americano?
Não me detive muito nisso durante a pesquisa, mas acho que o internacional serviu como uma referência. A origem pode até ser de outro país, mas é um ritmo de caráter brasileiros com elementos de brasilidade e que referendam a cultura.
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