ACUSAÇÃO DE ASSÉDIO

Curso da UFMA diz que denúncias são fake news

Jamile Mondego se acorrentou em protesto a uma suposta perseguição e assédio moral da coordenação do curso de Estudos Africanos e Afro-brasileiros.

Em carta aberta, a sociedade do curso desqualificou a denúncia do estudante. (Foto: Reprodução/Redes Sociais)

“Em votação, unânime, na reunião de Colegiado do dia 09 de agosto de 2022, a Licenciatura em Estudos Africanos e Afro-brasileiros (LIESAFRO), da Universidade Federal do Maranhão, vem a público manifestar sua indignação e repúdio as acusações inverídicas, infundadas e sem provas, perpetradas pela discente Jamile Mondego, e outros grupos e pessoas, que produziram, reproduziram e compartilharam inverdades, a partir de um ‘teatro’ que mistura racismo, fake news e tentativas de destruição de uma Licenciatura original, ousada e que tem buscado construir uma educação antirracista e emancipadora, algo único na História do Brasil e do ensino público superior. Desta forma, é mais que necessário o relato dos fatos, com suas provas”. Assim começou a Carta Aberta da Coordenação da Licenciatura em Estudos Africanos e Afrobrasileiros, sobre o caso da estudante Jamile Mondego, que relatou perseguição por parte da coordenação do curso.

No último final de semana, a estudante Jamile Mondego se acorrentou no prédio Paulo Freire, em frente à sala do referido curso, em protesto. Segundo relatou a estudante, ela estava sendo vítima de assédio moral por ter ajudado cinco mulheres do mesmo curso, que teriam sido vítimas de assédio sexual.

O suspeito é um professor que foi afastado depois das denúncias, em 2019. Além disso, segundo ela, estava sendo acusada do roubo de um computador. “Eu só vou sair daqui quando essas coisas forem resolvidas. Eu estou desde o dia 20 de abril implorando, dialogando para resolver isso de outra forma. Infelizmente eu não tinha mais o que fazer e só depois de eu chegar até aqui estão tentando agora a convocação de uma reunião extraordinária. Me solicitaram que eu saísse daqui. Eu não tenho como confiar, eu preciso que isso seja resolvido. Eu só queria me formar. Depois de quase 5 anos de curso eu não queria estar aqui. Eu não fiz nada demais contra ninguém, eu só ajudei”, disse a estudante na ocasião em que estava acorrentada.

Na matéria publicada no último dia 9, a Universidade Federal enviou a seguinte nota: “A Universidade Federal do Maranhão já tomou as medidas cabíveis para normalizar a situação da aluna Jamile Mondego, do curso de Estudos Africanos e está acompanhando os fatos”.

Na carta aberta, também  publicada no dia 9, a Coordenação rebate, esclarece as denúncias de Jamile e diz que tudo não passa de fake news. Segundo a carta, a denúncia contra o professor foi feita e acolhida no dia 18 de outubro de 2019, por algumas alunas da Licenciatura em Estudos Africanos e Afro-brasileiros.

Todos os envolvidos foram ouvidos pelo colegiado

“Imediatamente, a Coordenação acolheu as denúncias e, com orientação jurídica e das instituições da UFMA, encaminharam o caso para os órgãos competentes de apuração. Além disso, prestou todo o apoio material e psicológico para as vítimas do assédio. A Coordenação, igualmente, convocou uma Assembleia do Colegiado, no dia 23 de outubro de 2019, que resultou na suspensão do professor do Curso, enquanto não houvesse o desfecho do Processso Administrativo Disciplinar, aberto contra ele, o que foi comunicado a Pró-Reitoria de Ensino por meio do Processo nº 23115.035348/2019-44”, diz a Carta.

Após o fim do PAD nº 23115.026527/2021-13, o docente foi culpabilizado e sentenciado pela Universidade Federal do Maranhão, ao que ele, requereu junto a coordenação do Curso, por meio de Ofício nº 01/2022/CCEAA-CCH, do dia 06 de julho de 2022, o retorno às atividades acadêmicas em seu local de lotação.

Em Assembleia do Colegiado, no dia 27 de julho de 2022, em que  um dos pontos de pauta era a solicitação do docente para retorno de suas atividades, o coordenador depois de ouvidas todas as falas, alunos, colegiado, coordenação e acusado, a “decisão, de forma unânime, foi pela recusa do retorno do professor e encaminhamento para as instâncias superiores, e é justamente isso que a atual coordenação  do curso tem feito”, apontou a Carta.

Surpresa e indignação

A Coordenação do curso de Licenciatura em Estudos Africanos e Afrobrasileiros prossegue, ainda, que recebeu com surpresa e indignação, após 10 dias da decisão unânime do Colegiado, as denúncias de Jamile Mondego e outros estudantes. “Denúncias, por várias mídias, e por meio de uma ação de auto-aprisionamento, de que ela estava sendo perseguida por ter denunciado o professor de assédio, e que o Curso, por meio de sua Coordenação, estava acobertando e protegendo o mesmo. Ao mesmo tempo, denunciou que estava sendo acusada de ter roubado um computador do Centro Acadêmico e de estar sendo impedida, por essas razões, de se formar. Cumpre destacar, mais uma vez, que a aluna Jamile não foi uma das assediadas, e que as alunas assediadas tiveram escuta e amparo da coordenação, em suas denúncias”.

Sobre o roubo de um computador, de que Jamile argumentou ter sido acusada, a Carta diz que em nenhum momento se referiu à estudante, ou citou qualquer pessoa que pudesse ter subtraído o equipamento da sala do Centro Acadêmico do curso.

No dia 19 de abril de 2022, diretores do Centro Acadêmico “Maria Firmina dos Reis”, que têm desentendimentos político-acadêmicos com a aluna Jamile Mondego, procuraram a Coordenação do Curso para relatar que a chave e um computador da sala do Centro Acadêmico haviam sumido. Neste relato, não citaram nenhum nome e nem acusaram nenhuma pessoa de roubo, apenas relataram o sumiço.

Sobre estar impedida de se formar, pela coordenação do Curso, a Instituição esclarece que a Licenciatura e suas coordenações nunca impediram a aluna de ser formar. “Muito pelo contrário. Todas as suas demandas, desde disciplinas optativas, disciplinas de férias, prorrogação do prazo de defesa de monografia e outros, foram ou estão sendo encaminhadas, fazendo de tudo para que a aluna possa se formar no período que desejar e que puder. Como prova, existe o Processo nº 23115.015132/2022-68, cujo o interessado é a Coordenação do Curso de Estudos Africanos e Afro-brasileiros que solicita, junto à Pró-Reitoria de Ensino, “autorização para conceder Colação de Grau Especial aos/as estudantes participantes do III Colóquio Internacional ‘Políticas Antirracistas no Mundo’, durante a realização de Trabalho de Campo em Maputo/Moçambique”.

“Apenas duas alunas, estão, até agora, incluídas nessa colocação especial, e uma delas é a aluna Jamile Mondego. Por essa razão, mais uma vez, repudiamos as ações irresponsáveis que ocorreram entre os dias 6 e 7 de agosto de 2022, e nos solidarizamos com a técnica-administrativa e o coordenador do curso”. Assinam a carta, 11 docentes e 29 discentes, além do  Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros – Neab/Ufma.

À reportagem, a Jamile disse que está ciente da carta,  e que está estudando a melhor forma de lidar com a situação. Ela disse que esteve na referida reunião, realizada ontem e que sofreu um linchamento público.

“O acordo no domingo, quando eu saí das correntes, era que a gente teria uma reunião de conciliação na segunda-feira e eles tirariam todos os processos e que na terça-feira fariam a de revisão da ata. Eles não cumpriram com o acordo. A reunião foi um linchamento. Eles já estavam com essa nota pronta. Essas coisas que estão acontecendo são uma retaliação muito forte à minha pessoa. Expõem não só a mim,  como as mulheres assediadas. Nós estamos vendo a melhor forma de agir porque durante 2 anos eu sempre estive ao lado delas e elas nunca foram expostas a nenhuma situação e aí chega o momento em que se elas não falarem dá a entender que o curso sempre as apoiou, e eu mereço esse tipo de punição. Ao mesmo tempo, se elas não quiserem que isso aconteça, elas tem que se revelar. São situações bem difíceis de lidar. Tem uma questão de moral aí que beira à crueldade”, disse a estudante.

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