DIA DO ESTUDANTE

Pandemia apresentou novas possibilidades a estudantes, aponta especialista

2020 é mesmo um ano perdido? Adaptação ao novo é principal legado, aponta especialista.

Foto: reprodução

“2020 é um ano perdido”, comenta uma mãe no grupo da rede social que reúne pais e outras mães de estudantes de São Luís. “Por mim, o ano letivo se repete”, retruca outra mais adiante. Com o coração cheio de angústia, milhares de famílias no Maranhão, no Brasil e no mundo têm visto a rotina de crianças e adolescentes  em idade escolar mudar completamente dia após dia, desde março, quando a pandemia do novo coronavírus se instalou por aqui. Mas será que 2020 foi mesmo um ano perdido? Será que ele, de fato, parou?

Psicopedagoga Thalyta Fróes

“Se a análise for feita sob o prisma de um olhar tradicional para a educação, a tendência é que o sentimento dos pais e mães seja mesmo de frustração, pois não houve continuidade o modelo padrão de ensino-aprendizagem presencial, uma vez que o distanciamento social foi e continua sendo a nossa principal arma contra esse inimigo invisível”, pondera Thalita Fróes, psicopedagoga responsável pelo Núcleo de Apoio Psicopedagógico de uma instituição de ensino superior da capital maranhense.

A especialista ressalta que a pandemia ofereceu, também, novas possibilidades de se aprender. “O ensino à distância, as aulas remotas, tudo isso é novidade em muitos lares; por isso, causa tanto desconforto, é delicado se adaptar a uma rotina que exige ainda mais disciplina e autocontrole de uma forma tão brusca”, diz.

Transformação na rotina

Na casa da Júlia Lobo (8), a rotina foi modificada para atender às necessidades da criança, que tem aulas remotas há 5 meses.

Júlia Lobo (8) super atenta e participativa nas aulas on-line

“Aqui, ela acorda quase no mesmo horário em que despertava antes, toma café, toma banho, veste o uniforme e vai para a frente do computador. A gente às vezes quer sentar ao lado, quer ajudar, mas é preciso deixar a criança descobrir aquilo que ela é capaz de fazer sozinha. Então, eu me distancio e só chego perto quando ela precisa de ajuda mesmo”, compartilha a contadora e mãe Danielli Lobo.

Se a rotina com aulas remotas não influencia tanto nas demais atividades, o mesmo não ocorre em diversos outros lares.

“Minha filha caçula, Cecília, tem 6 anos; ela fica dispersa e isso nos obriga a sentar ao lado mesmo durante a manhã inteira para evitar que ela perca a concentração. Assim, deixo meu trabalho de lado e me sinto sim bastante atrapalhada com tudo o que preciso fazer”, desabafa Camila Pontes, mãe de duas meninas que já estão no ensino fundamental.

Surpreendentes

Preocupada com o desempenho dos filhos na escola, a publicitária Vanessa de Moraes (31) matriculou o filho Daniel (8) em um reforço particular, para onde o garoto vai todas as tardes, no contraturno das aulas remotas, que ocorrem no mesmo horário em que a criança costumava frequentar a escola.

Daniel (8) estudando em casa em aulas remotas: reforço escolar melhorou desempenho do pequeno estudante

“Ele está para voltar às aulas presenciais no ensino híbrido, na escola mesmo, então estou tentando readaptá-lo a uma rotina de estudos, pois ele se desacostumou completamente de ter essa atenção voltada para as tarefas escolares”, justifica Vanessa, que observou uma melhora no comportamento de Daniel durante as aulas que assiste pelo computador.”Ele está mais atento e participativo”, afirma.

Esse comportamento do pequeno Daniel só revela o quanto esses pequenos estudantes são mesmo surpreendentes.

“A capacidade de adaptação de uma criança é gigantesca. É na infância que ocorrem as maiores transformações da vida de um ser humano, e as crianças usam todas as novidades que a vida lhes apresenta. Basta ver quando são bebês: em seis meses, aprendem a engatinhas e começam a explorar tudo em casa. Depois, começam a andar e logo querem correr. Quando começam a falar, centenas de novas palavras vão sendo guardadas e usadas diariamente. O que observamos em muitos casos (não em todos) é que as famílias sentem falta da zona de conforto padrão, com a rotina dos filhos toda organizada e encaixada na rotina dos adultos”, aponta a psicóloga Celiane Chagas.

A recomendação da especialista é sempre permitir que as crianças conheçam o novo, experimentem sem preconceitos, sejam estimuladas a usar o que se apresenta como possibilidade, incentivá-las ao estudo e á compreensão do que ocorre atualmente.

“Se para um adulto é difícil entender os porquês de muitas coisas, imagine para uma criança! Por isso, por mais que pareça que elas não entendem ainda, os adultos precisam conversar, explicar, apresentar as razões pelas quais algo é como é”, sugere Celiane.

Enem

Outra preocupação recorrente, em especial, nos lares com estudantes que se preparam o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) é justamente o cenário que afeta as condições de estudo dos jovens alunos que estão perto de se formar. Ana Sophia (16) fará a prova pela primeira vez este ano e, assim como muitos outros candidatos, ela está com receio do desempenho que irá obter.

“Eu não consigo me concentrar 100% nas aulas on-line, sei que é uma questão minha, estou tentando melhorar. Meu medo é ter que fazer tudo de novo no ano que vem”, confidencia a estudante.

Para quem está com as mesmas preocupações, a recomendação dos especialistas é que esse chamado mindset, ou seja, essa programação mental seja reelaborada.

“Você, estudante, precisa dizer diferente. Fale em voz alta mesmo, para a sua mente ouvir: ‘Eu consigo me concentrar! Eu vou ler quantas vezes for preciso, vou ver vídeos que tratem do tema, vou conversar sobre os assuntos que me causam mais dúvidas, vou pedir ajuda, mas vou me dar bem na prova!’, orienta a psicopedagoga Thalyta Fróes. “Claro que somente pronunciar essas palavras não adianta muito; é preciso dedicação a mais de verdade”, conclui Thalyta.

Por enquanto, o Enem segue programado para os dias 17 e 24 de janeiro de 2021 para os 5,7 milhões de inscritos que escolheram a prova impressa. Outros 96 mil farão a prova digital em 31 de janeiro e 7 de fevereiro do ano que vem.

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