DIVERGÊNCIAS

Famílias se dividem sobre retomada de aulas presenciais em escolas particulares do Maranhão

Enquanto Governo do Estado adia para setembro retomada de atividades presenciais, escolas particulares seguem com planejamento para reabertura já a partir do dia 3 de agosto

Desde o mês de março, por conta da pandemia do novo coronavírus, a rotina de Camila Pontes, 37, tem se dividido entre acompanhar os estudos das duas filhas, Ana Luiza e Maria Cecília, de 8 e 6 anos de idade respectivamente e, ao mesmo tempo, trabalhar remotamente em casa. Com as aulas presenciais previstas para serem retomadas a partir de agosto, Camila e o marido concordam em mandar as filhas para a escola, apesar de ainda terem receio de como será esse retorno.

Camila não está sozinha nessa decisão. Desde que o retorno das aulas presenciais foi anunciado, por meio do Decreto Estadual nº 35.897 – de forma gradativa e em sistema híbrido de ensino – que autoriza a retomada a partir do dia 3 de agosto, a opinião de muitos pais e mães tem se dividido. Preocupação, insegurança e incerteza de uns sobre mandar os filhos à escola se contrapõe ao alívio, expectativa e satisfação de outros por vários motivos.

“Eu e o meu marido somos favoráveis. Um dia [as aulas presenciais] vão ter que voltar. Não podemos ficar para sempre dentro de casa estudando e trabalhando remotamente. Realmente eu só estou esperando para saber como vai ser, como elas vão se adaptar, principalmente no uso de máscaras, pois vão ter que seguir uma rotina na escola”, declara Camila sobre a expectativa com o retorno.

Ana Luiza e Maria Cecília se juntam às mais de 43 mil crianças matriculadas na pré-escola da rede de ensino privada do Maranhão, que estão em casa desde o mês de março, quando tiveram as aulas suspensas a partir do dia 17, devido à emergência sanitária declarada à época pela disseminação do coronavírus.

Ana Luiza deve retornar às aulas na próxima segunda (3)

Se por um lado Ana Luiza é mais independente nas aulas virtuais, Maria Cecília já precisa de uma atenção a mais. Camila colocou o horário das videoaulas na parede do quarto das filhas, rotina que começa logo às 7h10 e segue até às 11h40, com um intervalo às 9h. “A rotina tem sido muito puxada. Percebo que elas já estão cansadas disso. Às vezes, estou trabalhando e tenho que parar para dar atenção e estar motivando mais, colocando aulas, livros e observando”, desabafa.

Retorno gradual e híbrido

De acordo com o presidente do Sindicato dos Estabelecimentos Particulares de Ensino do Maranhão (SINEPE-MA), Paulino Pereira, o retorno será gradual e com sistema híbrido de ensino. “Um dia, os alunos estarão em aulas presenciais e, no outro, em atividades remotas. Esses alunos serão relacionados. Funcionários de limpeza serão treinados para que, ativamente, façam a manutenção e limpeza das superfícies lisas de todos os ambientes internos da escola. Pelo menos três dias antes, a escola deve providenciar a desinfecção e sanitização de toda a estrutura”, garantiu.

Presidente do Sindicato dos Estabelecimentos Particulares de Ensino do Maranhão (SINEPE-MA), Paulino Pereira

Em junho, o SINEPE-MA divulgou um protocolo de segurança sanitária com recomendações para as instituições de ensino no retorno às aulas presenciais. O documento teve a consultoria da médica infectologista Maria dos Remédios. “Tentei ser bastante conservadora nas medidas preventivas e de controle, porque não tínhamos certeza de como estaria o cenário epidemiológico em agosto. Além disso, dei ênfase na vigilância a ser executada pela escola para detectar um início de um surto e a consequente suspensão das aulas, caso isso aconteça”, descreveu a médica sobre a elaboração do protocolo.

O protocolo visa estabelecer um rigor absoluto na prevenção de alunos, professores, funcionários e pais.

Ainda é muito cedo

Já a secretária executiva Larissa Nunes, 33, acha que ainda é muito cedo para mandar o filho, Vitor Carneiro, de 7 anos, para a escola da rede particular localizada em São Luís. Ela e o marido, Laércio Carneiro, estão conversando bastante antes de tomar qualquer decisão. “Não achamos certo esse estudo híbrido que eles estão tentando adotar. Apesar da escola tomar todo cuidado, meu filho não vai conseguir passar o dia todo de máscara, não é um hábito dele, que mete tudo na boca, desde pequeno. Ele vai ter contato com outras crianças que não sei se os pais terão todos os cuidados necessários também. Eu acho arriscado e muito cedo, ainda não estamos com o controle ideal para estar tudo liberado”, justifica.

Vitor assistindo as aulas on-line durante a quarentena

O pequeno Vitor se adaptou rápido à rotina de aulas on-line e videoaulas de matérias específicas oferecidas pela escola por meio da plataforma Microsoft Teams. “No começo, ele deu um pouco de trabalho, mas se adaptou rápido. Ele já está bem acostumado, já acorda de manhã, se arruma sozinho, liga o computador e mexe na plataforma praticamente só. Só fico ao lado dando suporte quando ele tem alguma dúvida”, conta Larissa.

Sem hesitação

Para alguns pais, combinar trabalho e rotina de aulas virtuais dos filhos está sendo ainda mais desafiador na pandemia. Foi o que aconteceu com Deranilce Lima, 33, que assim como muitos pais, foi forçada a substituir os estudos presenciais na escola dos filhos Miguel e Theo Lima, de 6 e 3 anos de idade respectivamente, por uma ‘sala de aula’ na sala de estar da casa onde moram. Ela conta que precisou tirar o caçula da escola porque não estava conseguindo acompanhar a rotina de estudos dos dois filhos ao mesmo tempo. A solução foi reservar um tempo para estudar com Theo sem a pressão de ter que seguir um cronograma de aulas.

Deranilce acompanha as aulas do forma on-line do filho Miguel

Questionada sobre a volta às aulas, Deranilce não hesitou. “Deveria ser 100% presencial. Medo e receio? Eu tenho. Mas, olhando os estudos, penso que as crianças estão sendo prejudicadas por esse vírus, que não as afeta em estado crítico, mas a quem já tinha alguma doença e meus filhos são saudáveis. Já está passando da hora deles voltarem para a escola, que está tentando manter a programação de aula, mas não é a mesma coisa. Se bares e shoppings já estão abertos, por que não a escola? Por que a educação tem que ficar por último?”, questiona ela, que saiu do home office recentemente, voltando à rotina de trabalho como engenheira civil, depois de acompanhar por três meses os estudos dos filhos ainda mais de perto. Agora, Miguel, Théo e os estudos precisaram ficar aos cuidados de uma babá.

Inimigo invisível

O que já era difícil de conciliar antes da pandemia ficou ainda pior com ela. Mãe da pequena Maria Fernanda, de 6 anos, esposa, jornalista em tempo integral, estudante e dona de casa, Mayara Rego, 32, viu a rotina virar totalmente do avesso. “Tivemos de reorganizar os horários e ter alguém para acompanhar minha filha nas aulas. O auxílio de um adulto e o acompanhamento das atividades é fundamental no processo de ensino à distância, ainda mais devido à idade dela. Como ela está na alfabetização, os cuidados e atenção com os estudos estão sendo redobrados”, relata.

Maria Fernanda, de 6 anos, cumprindo as atividades passadas pela escola

Mayara classifica a volta às aulas como algo muito prematuro. “Estamos em uma zona de estabilidade, e o vírus é algo presente. O coronavírus é silencioso e se manifesta de forma bem diversa. Por isso, acredito que para os pequenos, ainda não é a hora de voltar”. Sua maior insegurança é a exposição das crianças que, mesmo com todas as medidas sanitárias, ainda continuam sendo crianças.

“Não sei se vão ficar de máscara durante todo o turno e até mesmo se não vão se aproximar um do outro”. Apesar de achar que faltou um diálogo mais próximo por parte da escola para não sobrecarregar pais e alunos durante a suspensão das aulas presenciais, Mayara acredita que, em parte, ainda dá para recuperar o ano letivo da filha, por boa parte do conteúdo ter sido trabalhada.

A recomendação do SINEPE-MA é que pais e mães conversem com as escolas sobre o protocolo que a instituição enviou. Nos primeiros dias, é provável que muitas mães estejam preocupadas e manifestem o desejo de ainda não retornar, então essas mães devem entrar em contato com as escolas para que possa haver um entendimento mútuo, segundo o Sindicato.

Não vou levá-lo de imediato

Allana Albuquerque, 33, faz parte desse grupo de mães que ainda não pensa em mandar o filho Joseph Oliveira, de 4 anos, de volta à escola de imediato. “Por mais que as aulas realmente voltem no início de agosto, não vou levá-lo, quero primeiro sentir e observar como será esse retorno para, em seguida, decidir se eu mando ele ou não, mas ainda não descartei a possibilidade dele retornar ainda esse ano”, destaca.

As aulas na escola do pequeno Joseph acontecem de acordo com a disponibilidade do aluno

Joseph integra uma turma formada por 20 crianças. As aulas estão sendo realizadas por meio de vídeos sem hora marcada, a depender da disponibilidade do aluno. Segundo Allana, no grupo de mães do qual participa, formado em um aplicativo de mídia social, pouco mais da metade optou por deixar os filhos em casa, em vez de mandá-los para a escola.

Mas apesar do medo que sente, ela diz que é preciso ver formas de retomar a vida aos poucos e com muita proteção, prevenção e cuidado. “Infelizmente vamos ter que aprender a viver com isso. É muito sofrimento ficar em casa para a gente que é adulto, imagina para uma criança? Esse foi um ano de mudanças e isso causa muitas dúvidas e medo, não foi fácil, mas estamos conseguindo nos adaptar e acredito sim que, esse ano, ainda podemos nos recuperar”, atesta confiante.

Em março, o Conselho Estadual de Educação editou a resolução nº 94/2020 que autorizou o ensino remoto a todas as escolas no período da pandemia, mas ela tem um prazo de vigência. “No momento em que for decretado o retorno das aulas presenciais, mesmo de forma híbrida, as atividades remotas deixam de ter validade, o que passa a ser válido é o sistema híbrido, onde as famílias devem obedecer o calendário que a escola apresentar para que as mães, em tempo, possam procurar a escola e entrar nesse entendimento”, acrescentou Paulino Pereira.

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