Por conta da crise da Covid-19, realização de vestibular e Enem é incerta
Seleções tradicionais do meio do ano no DF estão suspensas por tempo indeterminado devido ao coronavírus. Congresso Nacional poderá discutir também a possibilidade de adiar o exame nacional, caso o Ministério da Educação não se pronuncie
Os meses de abril e maio geralmente são cruciais para alunos que pretendem ingressar no ensino superior. Instituições em todo o país publicam editais dos vestibulares tradicionais do meio do ano, abrem inscrições e incentivam os estudos de quem sonha com uma vaga, tanto na rede pública quanto na privada. A pandemia do novo coronavírus, no entanto, deixa mais essa indefinição. Até mesmo exames previstos para o fim de 2020 podem ser prorrogados, como pedem propostas do Senado apoiadas pelo presidente da Casa, Davi Alcolumbre.
Na Universidade de Brasília (UnB), todos os processos do meio do ano foram suspensos, mas não cancelados. A instituição informou que os editais do vestibular para o segundo semestre de 2020; as solicitações de Transferência Facultativa; e os processos seletivos para Portadores de Diploma de Curso Superior e para o preenchimento de Vagas Remanescentes seguem sem data definida.
Symone Rodrigues Jardim, diretora de Inovação e Estratégias para o Ensino de Graduação da UnB, considera que essa é a medida mais adequada para o momento. “O Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (Cepe) suspendeu o calendário de aulas diante da pandemia e, consequentemente, suspendemos nossos processos. A reitora está reforçando a necessidade do isolamento, de acordo com o decreto (do Executivo local)”, detalha.
Há uma dificuldade em estabelecer nova data de realização neste momento, pois os decretos e as determinações a respeito do coronavírus variam de acordo com a evolução das infecções na capital federal. “O cenário muda muito rápido. Então, não temos uma ideia de quando poderemos retomar o semestre ou aplicar os processos seletivos”, afirma Symone. Ela também ressaltou que a UnB, agora, foca em pesquisas e projetos de apoio na área de saúde, para auxiliar no combate à Covid-19, e que a instituição informará o mais rápido possível quando puder definir cronogramas.
Apreensão
Com esse cenário, candidatos às vagas que surgiam no meio do ano passam a adaptar a rotina de estudos. Nayara Batista, 20 anos, se prepara para o curso de medicina e se inscreveria para o vestibular da UnB. Agora, encontra dificuldades para manter o foco diante das incertezas. “Entrei para um cursinho este ano, mas a quarentena chegou, as aulas presenciais foram suspensas e está sendo difícil estudar em casa, exige muito disciplina”, relata. Outra barreira é manter o equilíbrio mental. “Esse cenário me deixa ainda mais ansiosa. Dá medo de não saber quando as aulas vão voltar, ter dúvidas sobre a vida e não saber quando tudo isso vai acabar”, diz.
A pasta não cancelou nenhuma das etapas da prova nacional até o momento. O prazo para solicitar a isenção do pagamento da taxa de inscrição, por exemplo, terminou na sexta-feira. As inscrições estão previstas para o período de 11 a 22 de maio. Contudo, o exame nacional deste ano também corre risco de ser adiado. Os senadores Izalci Lucas (PSDB-DF) e Daniella Ribeiro (PP-PB) enviaram um Projeto de Decreto Legislativo e um Projeto de Lei, respectivamente, que tratam sobre a prorrogação de exames para acesso ao ensino superior. O presidente do Senado, Davi Alcolumbre (Democratas), considerou a situação preocupante, durante sessão plenária remota. “Uma intervenção no Ministério da Educação e no governo federal terá nosso apoio”, afirmou, após fala de Izalci.
Vice-presidente da Frente Parlamentar Mista da Educação, o senador pelo DF argumenta que, tendo em vista a suspensão das aulas, sobretudo na rede pública, e que uma boa parte dos alunos não tem internet, seria errado manter o calendário do Enem como está. “Fazer uma prova agora vai prejudicar esses alunos. É preciso que o ministro tenha mais humildade. Outros países adotaram a mesma medida. Ninguém aqui quer suspender ou cancelar nada, apenas adiar”, afirma. A expectativa é de que um dos projetos seja votado nesta semana, principalmente se o governo federal não se posicionar sobre o assunto.