ECONOMIA

Empresários reagem e, na contramão da crise, estão se reerguendo

Depois de verem o faturamento desabar por causa da paralisação da economia, empresas nadaram contra a maré e, com criatividade e percepção da demanda, estão se reerguendo

''A oportunidade para crescer surgiu pela alta demanda por material plástico para equipamentos de proteção individual e contra a proximidade física'' Wendel de Souza, diretor-geral e de operações comerciais da Unigel, sobre a procura por chapas de acrílico

A crise sanitária causada pelo novo coronavírus abalou o dia a dia dos cidadãos e das empresas de todos os setores da economia. Houve demissões em massa e muitos empreendimentos, alguns tradicionais, fecharam as portas. Outros, ao contrário, passado o primeiro susto, ampliaram os negócios e estão contratando funcionários. Executivos à frente das organizações de sucesso apontam que a fórmula para se equilibrar no mercado tem como base o princípio de que, não apenas nesse momento de contaminação pelo novo coronavírus, os desafios fazem parte da vida — e que renovação, investimentos em tecnologia e descoberta de novos nichos são permanentes.

Em meio à pandemia, Unigel, produtora de chapas de acrílico, reabriu fábricas de fertilizantes e estima contratar mais 1,5 mil empregados. “A oportunidade para crescer surgiu pela alta demanda por material plástico para equipamentos de proteção individual e contra a proximidade física — nas incubadoras de pacientes em hospitais, bloqueios em caixas de lojas, supermercados e farmácias, divisórias seguras para as empresas, entre outros produtos para agora e para o período pós-pandemia”, observa Wendel de Souza, diretor-geral e de operações comerciais da Unigel. Nas três unidades de produção (Cast, Omipa 1 e Omipa 2), no município de Candeias, interior da Bahia, foram 500 empregos diretos e indiretos, com estimativa de movimentação de cerca de R$ 5 milhões mensais na economia local.

Também serão reativadas as fábricas de fertilizantes da Petrobras na Bahia e em Sergipe, arrendadas por R$ 177 milhões, e que devem gerar pelo menos 1 mil empregos. “Nossa estratégia foi não demitir, mesmo quando o pavor tomou conta do mercado. Chegamos a interromper a atividade em alguns locais e dar férias coletivas, em março”, salienta Wendel. O faturamento caiu 70% em março e abril, e 25% em maio, em relação ao ano passado. Mas, em junho, o tombo foi menor, de 15%, no confronto com 2019.

“O diferencial foram os projetos encaminhados. Mantivemos o plano de negócios e, por isso, as vendas retomaram. Temos pedidos até o fim deste mês e a previsão é de que a demanda continue alta até dezembro”, sinaliza Wendell.

Qualificação

Em janeiro de 2021, mais 500 funcionários serão necessários, segundo ele. No entanto, para o executivo, o mercado de trabalho mudou para sempre. “Não haverá retorno ao antigo normal. O novo normal vai exigir qualificação da mão de obra e das empresas. A princípio, o desemprego vai subir e pequenas firmas desaparecerão”. 

Independentemente do aumento de impostos para o setor de serviços (de 3,65% para 12% sobre o faturamento), com a fusão de dois tributos federais (PIS e Cofins), proposta pelo governo, a VestCasa, rede especializada em artigos de cama, mesa, banho e utilidades para o lar vai se expandir. Ahmad Yassin, fundador da rede, sobreviveu à covid-19 fechando 35 lojas, das 200. De março para cá, dispensou 250 profissionais.

Yassin conseguiu dar a volta por cima e está lançando o Clube VestCasa, no qual o cliente paga R$ 50 ao ano e tem acesso a descontos e promoções exclusivas. Com essa estratégia, repôs 150 novas vagas de trabalho. Outra saída que encontrou foi expandir a empresa por meio das megalojas, uma espécie de “atacarejo” — que vende mercadorias no atacado e no varejo —, segundo Yassin. Em junho, com a flexibilização, a VestCasa abriu três unidades de 10 mil m² em Boituva e Ibitinga (ambas cidades em São Paulo) e Guaramirim (SC). O plano é encerrar 2020 com 57 megalojas.

Sem exploração

Para passar de um cenário de demissão a um horizonte de contratação, foi preciso observar os movimentos dos clientes. Quando surgiram as notícias sobre os primeiros infectados no Brasil, a VestCasa vendeu álcool em gel e ração para animais a preço de custo, na contramão do caminho escolhido pelos concorrentes. Enquanto algumas lojas ofereciam meio litro do desinfectante a R$ 40, a VestCasa oferecia por R$ 8,79. “Não achávamos ético lucrar com um produto que, sabíamos, teria grande importância para evitar a propagação do vírus e, por consequência, salvar vidas”, explica Yassin.

A mesma medida foi tomada em relação às rações para bichos de estimação. Rações para cachorros eram encontradas por cerca de R$ 90, mas, na rede, custavam R$ 36,95. “Com isso, fidelizamos os clientes e também os pequenos empreendedores. Foi esse retorno que nos permitiu criar, agora, esses ‘atacarejos’ de produtos para casa e para pets”, conta o fundador da VestCasa. Em março, o faturamento da rede caiu 40%; em abril, registrou tombo de 95%; e, em maio, de 50%. “Em junho, a melhora foi sensível. Tivemos, pelo menos, o mesmo resultado de 2019”, assinala o empresário, de 40 anos.

“Sou descendente de libaneses. Trabalho desde cedo. E aprendi que, quem trabalha certo, com qualidade e competitividade, sai na frente. A receita é estar sempre preparado para a crise”, aconselha Yassin. Ele lembra que a empresa espera ajudar milhares de pessoas que perderam renda com a crise e encontraram no empreendedorismo o caminho para o sustento das famílias e a realização de sonhos. “As crises que estamos atravessando (de saúde e econômica) são gravíssimas e, infelizmente, teremos que conviver com elas por mais algum tempo. Mas, para superarmos os desafios, a cooperação entre todos será fundamental”. (Colaborou Jailson R. Sena)

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