Música não salva a humanidade, diz Zeca Baleiro
Entre uma resposta e outra, uma pequena “alfinetada” na política brasileira, mas sem perder o bom humor
Com um sorriso no rosto, descontraído e brincalhão, com essas expressões de cantor e compositor maranhense, Zeca Baleiro, de 52 anos, chegou para sua entrevista, um dia antes da sua apresentação na programação do Festival BR 135, que, infelizmente, não ocorreu por conta da forte chuva na noite da última quinta-feira (29) em São Luís.
Entre uma resposta e outra, uma pequena “alfinetada” na política brasileira, mas sem perder o bom humor.
Aproveitamos a sua breve passagem por esta capital para conhecer mais esse astro da música popular brasileira e como ele, que tem hoje 21 anos de carreira, consegue trabalhar suas músicas, a avaliação do mercado, a importância das parcerias musicais e, claro, não perdemos a oportunidade para saber a sua expectativa em relação a duas músicas de sua autoria que se encontram na trilha sonora da novela O Sétimo Guardião, da Rede Globo.
Além do dueto com a cantora paulistana Rachell Luz em Flor da pele (Zeca Baleiro, 1997), canção do primeiro disco do artista regravada por Luz para ainda inédito álbum em tributo a compositores nordestinos, o cantor é ouvido no registro de A estrada me chama.
Lançada recentemente em disco na coletânea Arquivo_Raridades (2018), A estrada me chama (Zeca Baleiro, 2017) é música composta e gravada pelo autor para série de TV, O dia em que nos tornamos terroristas, produzida no Maranhão e exibida em 2017 em emissoras da rede pública de televisão.
Aproveito ainda para contar sobre o seu nome trabalho chamado Amor no Caos, que, diferente de muitos artistas, só será lançado após o término da turnê, ele faz hoje o lado inverso, comparando com outros artistas, primeiro, apresentação e depois, o lançamento do disco.
Também questionado se o novo trabalho é alguma referência ao atual momento brasileiro, ele é direto: precisamos de mais amor em tudo, não é amor apenas afetivo ali entre homem e mulher , mas amor universal.
AMOR NO CAOS X BRASIL
Quando pintou a ideia de fazer o show eu precisava de um título e eu não tinha. Aí ocorreu esse nome, achei bonito, poético, expressivo e genérico. Não estou falando do caos no Brasil em específico, estou falando no caos do mundo, talvez até o caos do amor também, mas achei que era um nome que caberia, seja ele qual fosse o assunto, porque eu queria fazer canções, canções do sobre o amor, acho que é importante, mesmo que a gente esteja em uma idade que não acredite mais no amor, eu por exemplo, mais com 50 anos, algumas vezes ainda dúvida, mas é aquele amor necessariamente homem e mulher, homem e homem ou mulher e mulher, é aquele amor universal, então eu não pensei muito no conceito.
É um momento que o mundo tá sendo muito questionado, temos o exemplo dos refugiados na fronteira dos EUA, me ponho no deles, então um novo mundo que vem se desenhando, infelizmente. Música não salva a humanidade, salva só a nossa humanidade.
21 ANOS DE CARREIRA E O RETORNO AO MARANHÃO
É especial, eu fico mais feliz, mais tenso quando toco aqui, mais cheio de vontade, agora a gente tem um novo dado que é o público que se formou no início da minha carreira, mas também outros, que tem 20 anos e estão conhecendo a minha música, ou seja, nem era nascido quando eu lancei o meu primeiro disco, então é bacana olhar a música atravessando gerações e sendo ouvida por outras pessoas. Voltar sempre é bom, reencontrar os amigos.
SUCESSO QUE ULTRAPASSOU BARREIRAS
Deve ter gente que canta e nem sabe que essa música é minha. É engraçado que Telegrama era uma música totalmente estranha na época que eu lancei. Ultrapassou barreiras justamente por muitos artistas cantarem ela em diversas versões, tem em pagode, sertanejo, axé, de todos estilos, então é muito bacana.
SUCESSO QUE ULTRAPASSOU BARREIRAS
Deve ter gente que canta e nem sabe que essa música é minha. É engraçado que Telegrama era uma música totalmente estranha na época que eu lancei. Ultrapassou barreiras justamente por muitos artistas cantarem ela em diversas versões, tem em pagode, sertanejo, axé, de todos estilos, então é muito bacana.
FUTURAS PARCERIAS NO MARANHÃO
Tenho vontade de passar um período assim me dedicando, conhecer um pouco mais daquilo que tá surgindo por aqui. Grandes artistas já se foram, como Leonardo, Humberto, Chiador, são caras incríveis, mas sempre tem surgindo gente nova.
Tem vontade de ir ali na comunidade dos caras, descobrir algo, fazer um disco, mas não nessa linha folclórica talvez, mas para um trabalho diferencial mesmo e a outra parceria seria com o reggae, passar um tempo aqui também me relacionando com as pessoas do reggae, conversar, talvez gravar aqui e mixar em Londres, sei lá, mas ampliar mais o reggae e fazer colaborações, não sei, tudo pode acontecer, as vezes falta muito é tempo.
NOVO DVD
O DVD é um produto hoje em dia que pouca gente compra hoje, mas sim, após o término da turnê vamos para o estúdio e gravar sim esse novo trabalho, esse é o plano.
A INTERNET
Tem carreira que foram feitas hoje através da internet. Isso é bom! No tempo que eu era jovem e tivesse essa possibilidade, “tocava fogo no mundo”, antes era tudo muito mais difícil, muita pressão, hoje o cara grava no quintal, no quartinho, no banheiro, onde quiser e pode sim, quem sabe, se transformar em sucesso.
APOSTA PARA 2019
Tem um menino daqui que estou acompanhando a carreira dele e que pode sim se destacar muito bem nos próximos dias, que é o Tiago Máci. Tem muita gente, a outra é uma cantora de Fortaleza, que se chama Laia, que tem uma sonoridade muito bacana.
A RESISTÊNCIA FAZ TER ESPERANÇA
Vamos amadurecer politicamente. “A resistência faz ter esperança”, talvez precisávamos passar por esse momento, acho que também tudo é mais vigiado, o presidente é mais vigiado, muitos mecanismos de vigilância, tudo é mais observador, mas tudo pode acontecer, apesar de tudo, o brasileiro é um povo muito forte, aí tem todo um aprendizado né? As pessoas buscam também esperança, as pessoas apostam nisso, mas também não é só isso, temos também um país muito violento, o Brasil é líder em criminalidade, mas não sei, tudo é um aprendizado, acho que a gente vai aprender muito com isso nos próximos quatro anos.