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Jair, o Guardião da Fonte do Ribeirão

Você já viu um homem barbudo, de dreadlocks, quase lendário, andando pelo Centro Histórico de São Luís? É Jair, uma das figuras presentes no bairro, e conhecido por seu estilo de vida “polêmico”. Conversamos sobre política, cultura, e o futuro de São Luís

É melhor ‘Jair’ se acostumando… a abrir uma cerveja e curtir um bom e velho Rock ‘n’ Roll. Ele pode até ter o mesmo nome do presidenciável do Partido Social Liberal, mas vive uma vida bem diferente. Dono de bar e guia dos passeios feitos pelas galerias subterrâneas da Fonte do Ribeirão, em São Luís, Jair é uma figura emblemática do centro da ilha, mas nega o título de “Patrimônio Histórico”, atribuído a ele por alguns ludovicenses, e estranha ao ser indagado sobre pensamentos e estilo de vida polêmicos. “Prefiro ser patrimônio de mim mesmo”, diz.

Natural de Parnarama, no sul do Maranhão, Jair chegou a São Luís em 1985. No centro, vive desde os anos 1990, e nos últimos dez tornou-se dono de bar – foi proprietário do antigo Tapuias, e hoje comanda o Bar Rocko, ambos na Praia Grande. “Eu era mesmo vagabundo. Em São Luís eu me vi livre, sem família, sem ninguém pra ficar medindo regras. Aí não quis mais sair dessa”, comenta. Há dois anos passou a guiar por um acaso os passeios em um dos principais cartões postais da ilha, e hoje acaba sendo visto como um guardião do lugar, embora não reconheça a lenda da Serpente Encantada. “Eu me esforço pra manter [a fonte]. Os caras estavam sem ninguém responsável. Nego ia, furava, quando ia deixava tudo quebrado, sujo”, explica. As visitações ocorrem todos os domingos, a partir das 15h.

O prédio onde Jair vive, trabalha “ouve música, fuma um e recebe amigos” é fruto de uma ‘ocupação’ consentida: falou com o corretor de imóveis, que contatou a dona, e que por sua vez cedeu o imóvel. Ainda quer fazer reformas no local, que incluem a construção de um estúdio no último piso, para que as bandas ludovicenses possam produzir música e manter a cultura viva. E por falar nela, Jair rejeita a ideia de auxílio governamental para o fazer cultural, defendendo a ideia do “vá lá e faça você mesmo”. “A cultura é do povo, o povo tem que fazer cultura. Cultura é o que a gente quer que perpetue, o que a gente gosta. O rock eu não quero que acabe, então eu tenho um lugar de rock, sem precisar correr atrás de qualquer outra coisa. Se eu posso, qualquer um pode”, afirma. “As pessoas julgam que não têm potencial. Eu não, eu preferi me mexer“, completa.

Polêmico?

Jair é homem de frases diretas e opiniões enfáticas. Sobre a política, afirma que o cenário está como sempre foi: “pobre, porque o eleitorado é pobre e se satisfaz com pouca coisa ou nada”. “Esse pessoal que não aceita, como eu, vai ser sempre polêmico”, completa. Ele parece desacreditar da política e da própria população – e chega a dizer que ama São Luís, não o povo –, mas vê nas atitudes individuais e coletivas da sociedade uma saída em potencial para melhorar a atual situação da cidade e, quiçá, do país.

Jair é militante verde, planta mudas pela cidade, e deixa a dica aos ludovicenses. “Pra começar, vamos limpar a cidade. E segundo, fazer com que a população trate a cidade como cidade, e não como lixeiro, quintal. A cidade é nossa, de todo mundo, então ninguém tem o direito de danificar”, alerta. “A gente não tem em lugar nenhum no Brasil a oportunidade de ter um lugar como esse. Vem eu e outros de fora e tamo pegando os points”, diz.

Ao ser perguntado sobre como imagina São Luís em 20 anos, Jair dá uma resposta desesperançosa: “O que esperar desse jeito? Tomara que aconteçam coisas boas, mas não há cenário pra isso. Tá mais pra uma repetição ainda bem longa. Tanto é que pessoas como eu, que se mexem, é que são polêmicas. Comum é isso aí, esses parados reclamando da cidade, e a cidade aí com tanta coisa massa”. O parnaramense finaliza com um alerta a quem mora na ilha. “Procurar conhecer e respeitar, manter a estrutura. Esse é o pouco que restou pra gente. Se a gente continuar dessa forma, vamos perder tudo, e reclamar que teve e não fez nada“.

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