Maranhão: mais oligarca do que nunca
Simplício Araújo – Analista de sistemas, empreendedor, ex-deputado federal e ex-secretário de indústria, comércio e energia
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Nos últimos dez anos, a política no Maranhão tem regredido de forma alarmante. Esse retrocesso é impulsionado, em grande parte, pela fragilidade dos órgãos de controle e fiscalização, que permitiram a expansão e consolidação do mau uso dos recursos públicos — um ciclo que perpetua a pobreza no estado. Esse fenômeno, aliás, não é exclusivo do Maranhão, mas se repete em várias partes do país.
Este artigo não tem como alvo um político específico, mas busca lançar luz sobre a realidade política maranhense, sobretudo para quem desconhece os bastidores do poder.
Historicamente, o governo estadual sempre concentrou o poder político e econômico no Maranhão. Esse cenário motivou campanhas contra a chamada “oligarquia”, mas, na prática, pouco mudou. Os municípios, com baixa capacidade de arrecadação própria, sempre dependeram dos repasses estaduais e federais, garantindo ao Palácio dos Leões uma vantagem estratégica em qualquer disputa eleitoral.
Além disso, as oligarquias regionais — famílias que controlam cidades e mandatos políticos há décadas — sempre mantiveram proximidade com o governo estadual, assegurando sua permanência no poder.
Atualmente, o Maranhão vive um de seus momentos mais críticos em termos políticos. O estado abriga mais de 100 oligarquias regionais, sustentadas por recursos do Fundo de Participação dos Municípios (FPM) e outras transferências obrigatórias. Entretanto, o grande motor desse sistema são as emendas parlamentares secretas, convênios e empréstimos milionários, que frequentemente deixam apenas rastros financeiros, sem obras concretas ou benefícios reais para a população.
Esses grupos políticos regionais foram determinantes na eleição de mais de 30 deputados estaduais, além de deputados federais e senadores — um fenômeno impulsionado, em grande parte, pelo uso da estrutura financeira das prefeituras municipais.
A antiga “oligarquia do Maranhão”, que aqui chamamos de “Leonismo”, sofreu poucas derrotas ao longo da história, sendo as mais emblemáticas as vitórias de Jackson Lago e Flávio Dino. Contudo, o modelo oligárquico persiste e se renova. Hoje, a disputa pelo governo estadual se resume a quem consegue angariar o maior número de apoios dessas oligarquias regionais.
Esse cenário expõe duas grandes distorções no sistema político maranhense. A primeira é o desequilíbrio eleitoral: enquanto um lado usufrui de recursos públicos para financiar campanhas, o outro disputa em desvantagem financeira. A segunda é o fortalecimento dos antigos “coronéis”, que continuam a comandar prefeituras ou mantêm familiares no poder, ampliando sua influência política e econômica.
Esses grupos são os principais responsáveis pela perpetuação da pobreza política no Maranhão. Muitos acumulam grandes patrimônios pessoais, mas pouco fizeram pelo desenvolvimento das cidades que administram, que seguem figurando entre os piores indicadores socioeconômicos do país.
As chances de um governo eficiente emergir nesse contexto são mínimas. Poucas vezes o Maranhão elegeu um governador sem o apoio dessas estruturas oligárquicas. Atualmente, derrotar o Leonismo é uma missão difícil, assim como reverter o atraso histórico do estado.
Essa, no entanto, não pode ser uma batalha restrita a um pequeno grupo político. A superação desse modelo exige um compromisso real da sociedade maranhense, que precisa enxergar além dos discursos e reconhecer como esse ciclo de poder impacta diretamente sua qualidade de vida. Afinal, enquanto as oligarquias se perpetuam, o atraso do estado segue sendo a única constante.