Universalizar com C** ou não
Renato Dionísio- Historiador, Poeta, Compositor e Produtor Cultural
Pensei que me sustentaria fora do estranho, desmedido e sem propósito debate, estabelecido Brasil afora, versando sobre o tema “Dissidências de Gênero e Sexualidade”, apresentado pela dublê de artista e mestranda Piauiense, Tertuliana Lustosa, especialmente convidada pelo Grupo de Pesquisa Epistemologia da Antropologia da UFMA, para apresentar, não sei se teria que se apresentar, como cantora, em mesa redonda, onde apresentaria sua tese, do que, após o ato, foi pejorativamente chamado “mestrado de putaria”.
Pelo que conseguir captar nas incontáveis versões, parece que ao final do encontra, vestindo-se de Rap, condição que ostenta, aproveitou para apresentar uma de suas composições. Sendo bondoso, penso que para enfatizar ou contextualizar, o que supostamente teria ensinado cantou “não tem nota, nem recuperação, não tem sofrimento e se aprende com tesão”. O fato rendeu risos e aplausos dos presentes, e deixou outros tantos, incomodados com a teratológica e despropositada apresentação. A quem dá razão? E, até que se saiba, por que não reagiram instantaneamente os presentes?
Antes de tudo, precisamos examinar se naquele local poderia existir evento igual ou semelhante ao ocorrido? A resposta ao questionamento nos leva a definição do tipo de instituição de ensino superior que defendemos. Que conhecimento deve ela produzir e que inserção terá na sociedade. Para os mais conservadores pergunto: Havia menores ou indefesos, por falta de meios e discernimento, no local? Os presentes foram previamente informados do tema?
Desde a fundação das universalidades nos séculos XII e XIII, seu papel foi gradativamente sendo definido como sendo um centro de proteção e produção de conhecimento e saber. Local de onde emanaria forças que buscassem a universalização do conhecimento. Onde toda produção fosse respeitada e protegida. Para dar cumprimento à esta missão, haveria esta instituição de generalizar, espalhar, e difundir sua produção buscando a construção da justiça e do bem.
Sentir saudade dos reitores, Raimundo e Cabral Marques de nossa UFMA, que mesmo em plena ditadura, e arriscando suas carreiras, defendia a soberania do Campus Universitário, até contra o SNI – Serviço Nacional de Inteligência-, na busca por militantes de esquerda, ali encastelados. Triste fiquei com a nota desta instituição, que em vez de fazer a defesa de sua legítima prerrogativa de produtora de saber, ofereceu uma nota acanhada e acovardada para afirmar que não financiou tal evento. Jogando seus organizadores, alunos e professores, ao moderno Coliseu midiático.
Penso que convocaria uma greve, e enterraria o reitor, se ainda estivesse cursando aquela instituição. Afirmo que faria o mais desabrido movimento contra a instalação de uma Comissão de Sindicância, que segundo informado, vai apurar os fatos. Apurar o que cara pálida? Apurar para quê? Em que planeta tu estás morando? Que música estais ouvindo? Definitivamente, este não é o papel que por anos acreditei ser deste sodalício. Solenemente, por presunção, convoco a universidade para encarar as pautas dos costumes e morais, que estão em toda parte. Virar avestruz só diminui o papel que a história lhe tem dispensado.
Relembro Dom João XXIII, que ao convocar o Concílio Vaticano II, foi textual “é necessário entrar um ar novo nesta igreja” concitando, do alto de sua santidade, os católicos que viam na era que paulatinamente se instalava somente escuridão oprimindo a face da terra. Penso que este pensamento valer agora para a UFMA. Lembro- me quando da eleição para reitor, a primeira depois da ditadura, a manchete do Jornal Veja Isto do DCE, “a universidade não é seria mais também não é um circo” para repudiar interferência indevida do poder, na eleição do reitor.
A inteligência nacional, assistiu ao crescimento, a partir da Europa, com estágio no Trampismo americano, a chegada desta nova face do reacionarismo entre nós. Apoiado nestas pautas que a academia deixou erroneamente de discutir e manipulando com maestria as novas mídias sociais, assenhorou-se de setores significativos do agronegócio e do neopentecostalismo para emparedar, este é o objetivo, as instituições, incluso a universidade. Até quando? Posto que o conhecimento ali produzido tem como único óbice, estar a serviço do atraso, da infelicidade e do terror.
A educação, com o cu ou não, com o bofe ou com a tripa fora, tem que ser discutida, questionada, e não existe lugar mais privilegiado, mais adequado, para este fazer que não seja a nossa academia. A igreja não deve e nem vai fazê-lo, menos ainda nosso aparelho ideológico repressivo. Este deixa fazer para as ruas, para os guetos e para os menos capacitados é prova da necessidade de repensarmos nosso espaço de conhecimento. O medo não pode vencer. A covardia não pode ser exemplo. Assuma, portanto, seu papel Universidade, este filho também é seu.