opinião

Trump é a nova américa

Renato Dionísio- Historiador, Poeta, Compositor e Produtor Cultural

Encerrado o longo e complicado processo eleitoral na mais importante e longeva democracia da era “moderna”. Os analistas, políticos, estudiosos de todos os matizes se debruçam na análise do que pode ter representado, para o futuro da sociedade mundial, a condução do partido republicano ao poder nos Estados Unidos da América. As consequências deste fato, colocam em alerta os sapiens nos quadrantes da terra. Quais as implicações para o desenvolvimento, a economia e a convivência democrática no planeta.


Alguns fatos despertaram a minha atenção: o primeiro deles vem das pesquisas que indicavam a vitória da concorrente e erraram. Os institutos diziam que a parcela mais rica dos americanos votaria em Kamala. Contraditoriamente, as pautas que representam maior participação do estado na vida de todos, estão no programa democrata, repetindo o que ocorre entre nós, quando alguns “pobres” filiados ao bolsonarismo defendem o estado mínimo, e quando adoecem, por falta de dinheiro, procuram o SUS, são contra a escola de tempo integral e disputam vagas para os seus. São contra a previdência social mais dela se socorreram no futuro.


O tema da imigração foi central no discurso do republicano. Babando de ódio, repetia a exaustão que até o exército americano seria usado para expulsar os imigrantes, que fecharia incontinente a fronteira com o México. Registre-se que o país possui grande número de imigrantes, possuidores do Green Card, e a maioria destes ajudaram a vitória republicana, negando aos sonhadores o direito ou a possibilidade de viverem na América. O curioso na deportação de ilegais, que são aqueles que ocupam as atividades de menor rentabilidade. Postos de trabalho rejeitados pelos americanos. Como os Estados Americanos têm direito a produzir sua legislação penal, o aborto, que no Brasil é tratado como sendo uma proteção as mulheres de baixa renda e escolaridade, lá em alguns lugares e criminalizado, fez coro à avalanche republicana. No quesito celebridades, no palanque de Kamala Harris estavam os grandes astros de Hollywood, enquanto no palanque republicano reinou quase solitário o Sul Africano Elon Musk, que ostenta a condição de maior fortuna do mundo, e financiou toda ou parte da campanha vitoriosa.


Embora ainda seja a maior economia do planeta, é bom saber que isto não é obra do acaso, esta condição foi adquirida num ambiente de entendimento e cooperação, primeiramente na euforia da fundação da Nova Inglaterra e posteriormente no vácuo das duas grandes guerras, com a crise na Europa, inclusive a grande recessão de 29. Estes fatos e esta estratégia, fizeram os EUA de nossos dias. O discurso desrespeitoso e as ameaças de retaliação alfandegárias não ajudarão a manter esta hegemonia. Com certeza os chamados pais fundadores da América não pensariam assim.


Na relação com o Brasil, as ameaças de taxação, a criação de barreiras alfandegárias e a proteção à indústria americana, já não mais nos assusta, como no passado. Não somos mais uma “pátria de bananas”. Não estamos em 64. Somos a maior nação no Sul das Américas e sua maior economia. Somos autossuficientes em petróleo e possuidores da mais acertada tecnologia de exploração em alto mar. Somos o maior polo de produção de alimentos do planeta e player em novas tecnologias para a produção energética. Não somos pouco, temos o que oferecer e merecemos respeito.


O Presidente recém-eleito, ainda que represente a maior força militar do planeta, não pode tudo. Não pode oferecer o fim de nenhuma guerra em um único dia. O tempo dirá como serão as relações com o que restou da antiga União Soviética e com os chineses? Como tratara o mundo árabe? Qual solução oferecerá para a guerra da Ucrânia e do Oriente Médio? Sabe, ou deveria, que acumulou inimigos em todos os quadrantes. Sendo assim, quem tem tantos problemas, se juízo tiver, não ameaçará com protecionismo de mercado, não buscará o isolamento, menos ainda, a saída da Otan e a retirada do país de fóruns climáticos.

Não se constitui nenhum exagero a afirmação de que a gentileza e a educação de Kamala foi derrotada pelo gângster de Chicago. Que a violência intimidou a paz. Lamentavelmente, somente a eleição não basta. Mesmo o voto, a arma mais sublimes colocada nas mãos humanas até hoje, por si somente, não resolve as contradições do mundo. Somos obrigados a considerar que alguns sanguinários ditadores se impõem através do voto popular, como fez o mais conhecido de todos, na Alemanha, de tanta cultura e tradição.

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