opinião

Quem ganhou a eleição?

Renato Dionísio- Historiador, Poeta, Compositor e Produtor Cultural

A pergunta frequente entre analistas, versa sobre a indagação que dá origem a este artigo. Nas esquinas, nos comitês, em sedes partidárias, esta é a discussão na ordem do dia. Esta dicotomia foi amplificada nos últimos tempos pela polarização política, mais que ideológica, estabelecida nas disputas entre o Lulismo e o Bolsonarismo. Na falsa polarização, Direita X Esquerda, que para ser sincero, nem é compreendida pela maioria, originou-se a incômoda indagação.

Embora os termos esquerda e direita, no nascedouro, durante a Revolução Francesa- 1789-, significassem apenas o local onde sentavam os partidários do Rei Luís XVI, à direita do Presidente da Assembleia Nacional e os simpatizantes da Revolução a esquerda. Esta expressão ganha nova significação após o lançamento do Manifesto Comunista de Marx e Engels em 1848, e após a vitoriosa Revolução de Outubro de 1917, na Rússia, quando o mundo começou a ser tratado como se dividido em duas partes.

Nos dias que antecederam a segunda Grande Guerra, a sociedade europeia assistia à ascensão ao poder dos Fascistas na Itália e dos Nazistas na Alemanha. Germinava o conflito no velho continente, tendo Alemanha, Itália e Japão formado o pacto Tripartite ou Eixo e contra estes, o mundo “civilizado”, representados pela União Soviética, Inglaterra, França e Estados Unidos. Organizados como Aliados, na defesa do humanismo e das nascentes democracias ocidentais.

Em campos políticos antagônicos, a história registra a improvável junção de ambos, num dos capítulos mais significativos da narrativa humana, que foi a derrota da estrema direita, representada pelo Nazifascismo que ameaçava o mundo livre. Foi a atuação conjunta da direita e da esquerda, através de Russos e Croatas e de Americanos e Ingleses, que derrotou a barbárie. Lamentavelmente, a repartição do espólio de guerra, acabou dividindo o mundo em dois blocos e criando a guerra fria, que deu força a contradição entre esquerda e direita.

Com a redemocratização na década de oitenta e a reformulação partidária ao seu final, as elites discutiam a exaustão, buscando se localizar dentro das muitas siglas partidárias que pipocavam a partir de Brasília. Penso que a confusão gerada pela indefinição de objetivos destes, impede suas definições ideológicas. Se você perguntar a maioria dos militantes destas siglas, falantes ou não, qual a diferença em ser de direita ou de esquerda, não obterá resposta satisfatória.

A tese fundante da ideologia de direita, se ancora no Laissez Faire, deixa passar, que prega a existência de um estado mínimo e da prevalência da competitividade. E são exatamente estes dois fundamentos que me levam a repudiar esta teoria. Senão vejamos: não dá para defender a competição entre pessoas que têm os pontos de partidas diferentes; da mesma forma, é impossível defender a existência de um estado mínimo no Brasil quando mais de trinta por cento de nossa população, morando em pobres municípios no norte e nordeste ou nas incontáveis favelas deste país, sequer conhecem o estado. Ele não está presente. Não oferece segurança, educação, saúde ou qualquer outro serviço. Para estes irmãos deveríamos era apresentar o Estado.

O pensamento de centro, equilibrista e oportunista, tem se aproveitado desta indefinição para galgar posições na seara política. Figuras que saíram não se sabe de onde, que nunca deram um chute, de repente aparecem como encantadores de serpente. Opa de gente. Outros mudam de posição ao sabor do vento para alcançar as luzes momentâneas. Até quando resistirão na corda de equilíbrio. Quanto tempo resistirão ao exame da ciência política. Difícil dizer!

Se para o capitalismo, a participação mínima do estado na economia, a livre concorrência, acumulação de riquezas, trabalho assalariado, organização da sociedade em classes, são teses essenciais, para os socialistas, o controle dos meios de produção pelo estado, fiscalização da competição e do lucro, fim das classes sociais, os direitos da pessoa humana e a solidariedade, são temas fundantes. Portanto, se direita significar ser capitalista e esquerda tiver que abraçar estes fundamentos, cada um que se localize no debate e na vida. E responda à indagação.

Com certeza as pautas de gênero: casamento entre pessoas do mesmo sexo, o aborto, bem como aquelas definidas pelos costumes, como a linguagem neutra, a homofobia e a misoginia. Menos ainda as de valores, como o papel dos militares, o uso dos símbolos, a cor da bandeira, nada disto define quem pertence à direita ou a esquerda, como tentam, de forma rasa, os espertalhões que saídos das sombras assustaram o Brasil. O fato de estar enrolado com a bandeira não me torna patriota, menos ainda, de direita ou de esquerda.

Por final, para mexer com suas convicções, afirmo que o grande vencedor desta eleição de 2024, foi o Presidente Lula. Isto mesmo. O Governo Lula. Goste você ou não. Foi uma parcela considerada do centro, da centro-direita e da direita, encrustadas no governo, que manipulando vários ministérios e suas estruturas, somadas as emendas Pix, ao fundo partidário e eleitoral, que construirão esta vitória. Tem dúvidas? Faça a conta. Não esqueça que estar no governo não define quem é de direita ou esquerda, define tão somente quem se encontra na oposição. Assim, não morra de raiva, mesmo fazendo um governo de centro e para o centrão, Lula foi o cara.

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