Onde anda a magnífica?
Renato Dionísio- Historiador, Poeta, Compositor e Produtor Cultural
Esta ilha na qual vivemos, é de fato, queiramos ou não, intrigante e especial. Para começo de história valemo-nos dos inúmeros cognomes, que de alguma forma identificam suas caras: Atenas Brasileira, Terra do Já Teve, Ilha do Amor, Capital dos Azulejos, Ilha Encantada, Francesinha, Jamaica Brasileira, Capital do Bumba Meu Boi, dentre outros. Segundo relatos correntes, esta terra serviu de morada até para uma rainha das cortes do Daomé, que fundou entre nós a Casa das Minas.
Como Ilha Encantada, ou das encantarias, fala-se da existência da Manguda, da Mula sem Cabeça, dentre outros seres, inanimados ou não. Neste momento, não desejo falar do passado intrigante, me atenho somente, quem sabe, ao fato de começar ser construído o mito da Magnífica.
Lembram da Magnífica, não lembram? Aquela que foi apresentada com todas as pompas e circunstâncias conjuntamente pelo hoje ministro, Flávio Dino e pela multinacional Ambev. Delícia que segundo os reclames publicitários revolucionariam o projeto de fabricação de cerveja, por utilizar o tubérculo mandioca, largamente produzida nas terras do Maranhão, em substituição a cevada, ao milho, ao lúpulo, ao trigo e a levedura, largamente utilizados desde o início da fabricação deste produto, ainda na idade média. Com o lançamento festivo, diga-se, foi um sucesso retumbante. Abriu-se a perspectiva de muitos negócios e ganhos para todos, inclusive para o Estado com os impostos da venda para outros entes federados.
Vendeu-se a ideia da abertura de um vigoroso mercado para os produtores, pequenos ou grandes, desta matéria-prima. Ouvir do compadre Mundico, morador do Baixo Parnaíba, a expressão: como basta plantar e colher, agora vai melhorar, vou encher a Ambev de mandioca e vou ganhar dinheiro.Logo o mercado viveu a expectativa de que este novo produto da cervejaria seria alçado ao patamar da mais vendida no Estado. Tinha o menor preço no varejo.
A matéria-prima era produzida aqui. A fábrica era logo ali, na entrada de São Luís. E o mercado deste quente e ensolarado nordeste seria a meta a ser alcançada. Com o passar do tempo, observou-se a falta de investimento midiático no produto, o aumento do preço na fábrica e a permanente falta nos botecos e bares da vida de cada um.O que ocorreu com este produto? Faltou matéria-prima para sua feitura? Tem sua produção reduzida ou nem é mais fabricado? Por que sumiu das prateleiras? O que ocorreu na relação, que parecia tão boa, entre o Governo Estadual e a fabricante do produto? O que está ocorrendo com este produto que poderia se transformar em ponto de atração de turistas e de investimentos e passa a ser uma preocupação? É da minha conta sim! Se não quer não se meta! Claro que isto é de interesse coletivo,afinal foram muitas as expectativas criadas pelos produtores, mais que isto, os empregos, por não produzirmos o que consumimos, não ficam aqui, isto mexe com a autoestima dos maranhenses.
É preciso saber se para a criação do projeto da magnífica ouve apoio, de forma direta, do Governo Estadual? Caso não tenha ocorrido esta modalidade de apoio, ainda me resta perguntar, o governo ofereceu e/ou concedeu algum incentivo fiscal para esta empreitada? Caso positivo, continuam em voga? Estes incentivos estão sendo usados para a produção de outras marcas do mesmo fabricante? É necessário que estas e outras indagações sejam feitas, afinal o interesse da empresa, ao que parece, pelo menos é esta sensação, não está em consonância com o sentimento dos maranhenses.
O capital, o maldito ou é bendito Dindin, não tem pátria, menos ainda senhor, se move e se orienta pelos interesses e oportunidades, e a literatura mundial está cheia de exemplos. Esta mesma multinacional nos oferece um exemplo para alimentar nossa suspeição. Não foi a poderosa Ambev que comprou a Cervamar- Cervejaria do Maranhão-, fabricante da cerveja Cerpa, com a expressa finalidade de abater um concorrente. Lembram do Guaraná Jesus, nosso sonho cor de rosa, segundo fontes correntes, produzido sob cotas para não atrapalhar a Coca-Cola.
Caso, ao final, nada condene a empresa e ela nada deva em relação à descontinuidade da produção, o que espero, este fato pode passar ser matéria para a criação de mais uma das incontáveis lendas urbanas, construídas pelo criativo povo maranhense.
Qual seria sua imagem: Uma garrafa? Um bar? Ou alguns burrinhos? Se de um lado, tem a cervejaria direito de fabricar o que quiser, tenho eu, como cidadão e amante deste Estado, o direito de cobrar das autoridades este questionamento. Posto que, se os incentivos existirem, sirvam primordialmente aos donos da bufunfa. O povo do Maranhão.