O crime é não educar
Renato Dionísio- Historiador, Poeta, Compositor e Produtor Cultural
A campanha eleitoral, ainda que fundamental para a construção de uma sociedade democrática, nos obriga a várias reflexões: sobre a quantidade de recursos financeiros despendidos, que é aliás, quase sempre definidor do vencedor. Pensar sobre a forte carga emocional que leva alguns candidatos à beira da insanidade. Meditar sobre a ocupação de tempo na construção de uma narrativa que justifique uma candidatura. Estes, dentre outros fatos, têm ocasionalmente premiado o processo de momentos hilários.
À guisa de exemplo, citaremos a eleição do rinoceronte cacareco, o sufrágio de Biro-Biro, sem ser candidato. A escolha dos “tiriricas” da vida e dos bordões que se perpetuam tipo “meu nome é Enéias. Não que esteja a busca do estranho nesta eleição, no entanto, vimos algo inusitado ocorrer no Estado de São Paulo, envolvendo os candidatos, Pablo Marçal e Boulos, onde o primeiro tenta imputar ao segundo o cometimento de crime quando da execução do Hino Brasileiro, num ato de campanha do PSOL, com a presença do Presidente Lula. Naquele ato, a “cantora” Yurunguai, utilizando a chamada linguagem neutra, pronunciou “des filhes deste solo és mãe gentil” em substituição a correta letra “dos filhos deste solo és mãe gentil”.
E fundou a origem desta controvérsia. Convenhamos, um pouco do que fazer.Que este cantar subverte e ofende profundamente um dos quatro símbolos nacionais, os outros são: a Bandeira, as Armas e o Selo Nacional, previstos e sustentados pelo nosso ordenamento legal, isto ninguém em sã consciência pode negar. Quem assim procede, comete crime passível de punição. Quis o legislador pátrio, ao erigir uma série de exigências legais respeitantes a estes símbolos, garantir e preservar o sentimento de patriotismo e respeito. Apenas para ser moderninho.
Cultivar o chamado sentido de pertencimento.Após a informação e secundado pelo método científico- tentativo e erro-. Me dispus a analisar mais detidamente nosso Hino. Ainda que o tenha cantado a exaustão, quando menino, no pátio dos colégios, Barbosa de Godois e Odilo Costa Filho. Hábito imposto, assim acredito, pelos militares que após assaltarem o poder civil fecham o congresso, suspendem o habeas corpos, cassam grandes democratas legitimamente eleitos, para ocuparem no lugar daqueles o poder. Comportamento expresso por parte de nossa classe política que se acha dona dos símbolos nacionais.
Logo nobre leitor, de cara, vamos ser sinceros, na primeira estrofe, nosso povo sabe o significado de, “ouviram do Ipiranga as margens plácidas”. Nem vou falar do “brado retumbante”, entretanto, me perdoe, não posso deixar passar “e o sol da liberdade, em raios fulgidos, brilhou no céu da pátria nesse instante”, nem preciso pedir sua cumplicidade, mas, você acredita que nosso povo com maior ou menor grau de escolaridade, a qual foi, e é condenado, está entendendo nossa prosa?
Já no verso seguinte está consignado “se o penhor dessa igualdade” na sequência tem mais, “Brasil, um sonho intenso, raio vivido”. Já na quarta estrofe, que faço questão de transcrever pela singularidade, está registrado, “a imagem do cruzeiro resplandece”, -Qual cruzeiro? e assim segue, “gigante pela própria natureza, és belo, és forte, impávido colosso, e o teu futuro”, – coisa do futuro- “espelha esta grandeza”. Amigo, sejamos razoáveis, nosso povo, ainda que cante, saberá o que canta?
Para não ficar pelo meio, vamos a pérola da sétima estrofe, “deitado eternamente em berço esplendido”, a mistura dos tempos do verbo, neste caso, me faz lembrar a comediante do ratinho ensinando português, não é rede re-de= rede, é berço, não sei se grande ou pequeno! Para mais a frente arrematar, “fulguras, ó Brasil, florão da América. Calma. Pera, não vá pensar que florão é outra coisa. Fica chato né.
Apenas para não me alongar pinço mais algumas expressões tiradas de nosso hino “do que a terra mais garrida, você sabe o que isto significa? Vou seguindo direto para o “lábaro que ostentas estrelado e diga ao verde louro, – que não é papagaio-, desta flâmula”, para magistralmente encerrar a estrofe “nem teme, quem te adora, a própria morte. Diga-se. Por justiça, uma das construções, poéticas mais bonitas, escrita por Joaquim Osório Duque Estrada para afirmar, não tenha medo de quem quer a tua morte.
Pelo que tive a intenção de dizer, não sei se conseguir. Discutir se cabe ou não a linguagem neutra em nosso hino, para a grande maioria de nossa gente, quase sempre, será igual a cantá-lo sem rasuras ou emenda. Poucos vão saber, veja-se o nível de nossa educação e a capacidade de percepção dos brasileiros. Isto é lamentável!
Por último, para que possamos orgulhosamente cantar o final de nosso hino “dos filhos desse solo és mãe gentil, pátria amada Brasil”, é necessário bem mais que saber a significação do seu belo e rico texto, é imperioso amar seu povo, sua cultura e seus valores.