Mateus: primeiro o meu
Renato Dionísio- Historiador, Poeta, Compositor e Produtor Cultural
A Câmara Federal, que neste momento se debruça sobre o tão aguardado Projeto de Reforma Tributária, acaba de colocar um “balde de água fria” na pretensão de tornar os ricos, com fortunas acumuladas em propriedades, posse ou domínio útil de bens, titularidade de direitos de autor e conexos, até o montante de 10 milhões, em pagadores de impostos. Para alcançar este resultado, teve aquele poder de rejeitar parte da proposta original, escancarando seu caráter elitista e corporativo.
Aguardada por longos anos, a Pec 45/2019 foi aprovada com a supressão acima descrita. Sem cerimônia, os representantes legítimos e os bancados pelo capital, usufrutuários deste privilégio, usaram e abusaram, através dos meios de comunicação, da prática da “chantagem”. Afirmavam, usando seus próprios veículos ou não, entre outros argumentos, que estes recursos, de natureza especulativo, quase sempre aplicado e rendendo em Bancos e Corretoras, seriam transferidos para outros países, caso fosse o projeto aprovado.
Fica claro, pelo menos aos de boa vontade, a “queda de braço”, estabelecida entre o Presidente Lula e o ex-Presidente do Banco Central, Campos Neto, quando o assunto era a queda dos juros em nosso País. Deixando clarificado a serviço de quem militava àquela autoridade. Eleito para trabalhar pelo desenvolvimento, nacional, com foco na diminuição das gritantes desigualdades sociais e no fim dos privilégios, agia soberanamente para o capital estrangeiro, monopolista, segregador e desumano.
Se estivessem, estes ativos na produção, seriam de alguma forma taxados. Fora, não se preocuparam com a chuva ou sua falta. Menos ainda com o crescimento da economia. O olhar caviloso se concentrará nas altas taxas de juro, que deverão ficar acima da inflação, o que sufoca ao final o comércio e a produção nacional. Desta forma perpétua a proeza, fazendo com que o rico pague proporcionalmente menos imposto que o pobre. Nesta lógica, quanto mais rico, menos paga. Por esta razão, o choro e ranger de dentes não acaba nos rincões de pobreza.
Em recente artigo, eu mesmo afirmei, e não retiro o que disse, que o governo do centrão havia ganho a última eleição em nossa terra. Para tanto, utilizou exaustivamente o Fundo Partidário e Eleitoral, abusou das Emendas de Bancada, Individuais e do Orçamento. E assim, o resultado eleitoral colocou um cabresto no governo que “seria” do Partido dos Trabalhadores, aumentando, com isto, o fosso que vai das expectativas de melhorias para os mais vulneráveis, ao processo de acumulação de riquezas e empobrecimento dos brasileiros.
Embora você não tenha ouvido ou lido em nenhum veículo de comunicação, está é notoriamente uma pauta de direita, e nossa direita foi exemplar com 262 a 136 votos no placar. No processo de votação, alguns partidos, chamados de esquerda, orientaram o voto no projeto. O governo, estranhamente, liberou a bancada votar segundo seus interesses; pobre Governo Lula, enfraquecido e desfigurado, enquanto a oposição, representada pelos próceres do centrão e seus adjuntos, orientou o voto contrário à iniciativa.
Penso que não reste dúvida alguma entre os pensantes, que os setores privilegiados usam e abusam do direito de ter prerrogativas e direitos. Sempre adiantados na hora da largada pela corrida da vida. Estão nas melhores escolas. Terão fácil acesso ao crédito bancário. Cultivam as mais vantajosas relações sociais e por isto terão a atenção e os favores da lei, etc. Historicamente, usam e abusam do poder do Estado para reproduzir seu poder e dominação. Imagino o quanto é difícil, quase impossível, por meios dissuasivos, que se busque uma equivalência, seja em expectativa de vida, salários e propriedades.
A bem da verdade, é legitimo afirmar, que estes recursos, quase em sua totalidade, representam a massa especulativa que negocia mundo afora com o câmbio e os juros. Tem caráter oportunista e explorador. Com toda certeza, fica distante da produção: afinal, não se muda uma fábrica da noite para o dia, como se faz, por um comando bancário, a partir de um confortável escritório, esteja ele aqui, ou em outro lugar, para transferir prontamente ativos financeiros.
O mais preocupante disto, pelo menos a mim, que fui ensinado por Leonel de Moura Brizola, maior líder nacionalista desta terra, que as transferências de recursos produzidos em nosso país, sem cerimônia, para as potências capitalistas, representam um CRIME DE LESA PÁTRIA. O mais grave de todos os crimes sociais, vaticinava ele. Pelo visto, nem ouviram o caudilho, nem levaram em conta os ensinamentos contidos nas sagradas escrituras. Quando escrito esta – Mateus primeiro os teus- e, eles entenderam e sempre entenderão, querendo ou de brincadeira, primeiro os meus.