opinião

Incompetência ou má vontade

Renato Dionísio- Historiador, Poeta, Compositor e Produtor Cultural

Parte do Brasil que tem a capacidade de enxergar todo território nacional, assistiu, nos meios de comunicação de massa, o desastre que representou o desmoronamento da ponte construída e entregue em janeiro de 1961, pelo Governo Federal, em homenagem ao ex-Presidente Juscelino Kubitschek. Localizada na divisa entre os estados do Tocantins e Maranhão, que servia de passagem rodoviária, sobre o rio que empresta seu nome ao último estado criado em nosso território. Aos menos informados é difícil, para não dizer impossível, compreender o que isto representa. Não sabe, por exemplo, que a ponte colapsada é parte da Rodovia, BR 226, que se constitui a mais destacada ligação do norte e parte do nordeste com o centro sul do país. Usada diariamente por cerca de 50 mil veículos, quase todos, de carga para a movimentação do comércio, indústria e do agronegócio nacional. Fato que provadamente interfere na produção, consumo e alimentação de milhões de brasileiros, em vários estados.

Naquele domingo, 22 de dezembro de 2024, quando o relógio marcava 14h:50min horas, sob o atento olhar e clicar de curiosos, a ponte desabou. O acidente provocou a queda num vão de 62 metros de altura, de automóveis com pessoas a bordo e caminhões que transportavam ácidos e outros produtos químicos. O fato, pelo que se tornou público, ceifou a vida, comprovadamente até agora, de 14 pessoas, número que pode aumentar com a continuidade das buscas.

Imediatamente ao acontecimento, o povo, sempre ele, a seu modo ou feitio, buscou alternativas para minimizar o problema. Rotas foram alteradas ou mercadorias em transporte seriam perdidas. Caminhos foram analisados para equacionar custos e tempo. Como sempre a Defesa Civil, que existe no papel, esteve ausente no socorro aos transeuntes. Se houve algum refrigério, a bondade popular foi quem operou.

Alguns fatos decorrentes deste acidente, se não bizarros, são de uma estremada negligência, como se justifica que as engenharias mais equipadas ou desenvolvidas, mundo afora, são capazes de fazer uma intervenção deste porte em menos de seis meses e não sabemos, até agora, o calendário sequer, da concorrência para tal serviço. É inquietante que logo após o acidente, tenham sido montadas, pelos corpos de bombeiros dos estados do Maranhão e Tocantis equipes de busca e salvamento, e, passados mais de quinze dias, ainda tenhamos que conviver com notícias dando conta da não localização de corpos, que estão a cerca de 44 metros de profundidade, num rio que tem em torno de 200 metros de largura, nesta época. Falta equipamento ou treinamento adequado? Como justificar que decorrido este tempo, nossa engenharia e nossos engenheiros não tenham conseguido submergir e resgatar caminhões que podem chegar no máximo a 50 toneladas, quando operamos portos, minas e ferrovias, neste vasto país, muito provavelmente, com cargas acima desta. Sobretudo pelo fato de estarem estes tanques com milhões de litros de ácido que podem comprometer toda água do rio, e até o aquífero. Com a entrada em cena da Gloriosa Marinha Nacional, não tinha eu nenhuma dúvida do êxito da tarefa; para meu descontentamento, o caldo entornou de vez: não resgatamos, pelo menos até agora, nem as vítimas, nem os caminhões, isto é vergonhoso, posto que coloca em dúvidas se temos de fato, condições de falar em submarino e em alto mar. Afinal nossa Petrobras anuncia aos quatro ventos que é detentora da melhor tecnologia do mundo em águas profundas.

Obvio que não podemos aceitar como natural estas inadequações, temos que concitar o Governo Federal a resolver com celeridade o caso, afinal somos uma federação e os limites e interseções são de sua responsabilidade. Não podemos desconhecer a obrigação dos governos do Maranhão e do Tocantis, pois o problema afeta a todos, comércio, indústria, agricultura e pecuária. Temos que entregar a cada ente o quinhão de suas responsabilidades ou utilizar todos e possíveis antônimos que esta palavra comporta.

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