Opinião

Ga­to es­cal­da­do

Renato Dionísio – Historiador, Poeta, Compositor e Produtor Cultural

Nossos tradicionais veículos de comunicação, têm a exaustão anunciado fenômeno que não é novo, menos ainda singular, que trata da criação da ZPE.

Projeto que trará milhões de empregos, com as fábricas que aqui se instalaram, produzindo para o consumo mundial e inaugurando uma fase Made In Maranhão, que abrirá as portas de nosso estado para o comércio internacional, propiciando a redenção econômica do estado, muitas vezes anunciada, e que teimosamente não chega.

Com uma rodagem já bastante avançada, mas a memória ainda intacta, me ponho a perguntar: eu não já vi este filme? Devo levar a sério estas informações? Qual a diferença, excetuando-se os autores, deste novo momento e outros que foram também exaustivamente festejados? Parece que foi o nosso eterno Presidente, que lançou esta moda entre nós, que ao utilizar-se deste apego, lançou a logomarca de seu governo, Um Maranhão Novo, para anunciar seu mandato num atrasado estado, ainda na década de sessenta.

A guisa de exemplo, passo em revista o pomposo anúncio da criação, ou seria feitura, do Porto do Itaqui em nossa capital, vendido pela mídia e pelos ufanistas de plantão como sendo uma guerra vencida pelo cacique maranhense, pelejada contra o todo poderoso morubixaba paraense Jarbas Passarinho. Filho pródigo, é fato que passado algumas décadas, este empreendimento tem sido importante para a geração de empregos e renda que ajudam a melhorar a vida de milhões.

Sequenciando este fato, os maranhenses voltaram a ser impactados quando em 1997, em Paris, a ONU, através da Unesco, concedeu a nossa São Luís o pomposo título de Cidade Patrimônio Mundial da Humanidade, e este acontecimento teria o condão de alavancar nosso turismo e nosso desenvolvimento. Fato que se repete agora, com o recebimento pelos Lençóis Maranhenses do título de Patrimônio Natural da Humanidade. Como no primeiro caso, este evento é também importante, mas não definitivo para nos tirar do atraso.

Em 2008, a Petrobras anuncia o desejo de refinar petróleo no Maranhão, e em 2010, começam as obras de terraplanagem em Bacabeira, daquela que seria a maior refinaria brasileira. Por ironia, o projeto é logo interrompido pelo TCU que apresenta graves denúncias de corrupção. Assim, este projeto vai se juntar ao criminosamente fracassado projeto de confecção de Rosário, que serviu para enricar um certo chinês e colocar em provação milhares de trabalhadores, devedores de vultosos empréstimos junto ao BNB os quais jamais usaram.

Não posso esquecer o sonho alimentado por tantos, e ainda não totalmente realizado, que representou a construção do CEA- Centro de Lançamento de

Alcântara, que seria responsável pelo desenvolvimento de tecnologias aeronáuticas e a exploração espacial, acontecimento que mexeu, isto é fato, com o estado e nossa cidade histórica. Lamentavelmente sofreu um processo de esvaziamento após a explosão de um artefato bélico, em lançamento. Neste momento tudo leva a crer em sua retomada.

O ex-Governador José Reinaldo, tem se constituído no maior entusiasta da construção, por parte de empresários estrangeiros e com capital “português”, do porto de águas profundas, no município de Alcântara, que segundo ele próprio, significará a redenção do Maranhão. Como estamos vendo, ou querem nos fazer enxergar, nosso desenvolvimento, ao que parece, está fadado a ser construído por grandes projetos, sempre vindos de fora e, com certeza, respeitando a quem o conduz. Sonhamos muito para fora, não seria a hora de olharmos para nosso povo como motor de seu destino?

Por mais de meio século ouvimos este canto. Quantas vezes eu mesmo disse: agora vai. Chegou a nossa hora. O tempo passa e as estatísticas indicam que somos a menor renda per capta do Brasil. Somos os últimos no IDEB. Os últimos nos indicadores de desnutrição. Só somos os primeiros no bolsa família, bolsa escola e outros programas de transferência de renda. Que venham os grandes projetos! Enquanto isto, mãos a massa, vamos tentar pelo menos, produzir panelas com o alumínio fabricado na ALLCOA. Grades e outros artefatos com o ferro de Carajás. Carne com o farelo de soja do MATOPIBA e tudo mais que estiver ao nosso alcance. Afinal de contas uma escada é feita de degraus e de grão em grão.

Por último, mas não por final, vejo nos veículos de comunicação o Governador Carlos Brandão anunciando a assinatura, pelo Presidente Lula, do decreto 12.131 de 07/08/2024, que autoriza a criação da Zona de Processamento de Exportação de Bacabeira em nosso estado. Não quero crer que depois de tanto sonhar e esperar, nosso povo ainda acredite que estes gigantescos projetos seja a solução para nosso bem-estar. Não seria melhor estudarmos com profundidade o Maranhão e construirmos com a massiva participação de nossa gente os caminhos da redenção? Quem quiser sonhar, sonhe. Já dizia meu amigo Paulinho da Mocidade, não custa nada. É de graça. Tenha, entretanto, cuidado com a temperatura da água.

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