Opinião

De eleições e armadilhas

Renato Dionísio- Historiador, Poeta, Compositor e Produtor Cultural

A televisão dedica parte de seu horário, para à apresentação das propostas dos candidatos ao cargo de Prefeito e Vereadores. Naturalmente os candidatos se distinguem em função da classe social e por possuírem condições políticas e econômicas diversas. Alguns jamais participaram de qualquer esfera de poder, outros participam do Legislativo e o Prefeito, que busca a reeleição, somente ele, já pertenceu à casa das leis e hoje tem sob sua proteção o cofre da municipalidade. Desta forma não pode dizer “tenho o que mostrar, eles não”. Claro, somente ele teve a chance e o poder de executar.

O cidadão deve, ou deveria, para exercer seu sagrado direito à cidadania, observar com solene e profundo respeito a significação da eleição e da arma que possui, chamada voto. Este tem o poder de mudar, ou não, sua cidade e suas condições de vida. Cada voto, a bem da verdade, coloca sobre os ombros de seu signatário a responsabilidade de pensar além dos seus desejos. O resultado que um voto ajuda a construir passa a valer para todos. Esta é uma decisão Erga Omnes, atinge a todos que moram em São Luís.

Deve nosso eleitor, analisar os discursos para entender o que afirmam e deixam de afirmar. Da mesma forma, as propostas apresentadas são exequíveis ou não? Que grau de dificuldade tem as realizáveis? São citações comuns a todos os postulantes? São vontades que dependem de outras esferas de poder, que para serem implementadas dependeram, por exemplo, de futura votação na câmara de vereadores? Ao final, não sedo estes possíveis, o “malandro” poderá justificar esta impossibilidade na falta de vontade da câmara? São elas reconhecidamente inexequíveis, feitas, portanto, apenas para engabelar eleitor?

Num passado recente ouvimos a proposta de construir uma ponte ligando a ponta da espera ao continente. Assistimos a promessa da terceira ponte para o São Francisco. Até um VLT com 500 metros de trilhos, que custou muito, inclusive a reeleição do alcaide, para depois dá em nada. Cuidado, neste aspecto, os candidatos irresponsáveis tendem a oferecer o céu para entregarem o fel da decepção ou o amargor do sofrimento. Levemos, entretanto, em conta, que nestes tempos em que o homem passeia em nosso espaço celeste, o impossível pode estar na esquina.

O Governador Carlos Brandão, anunciou com incontido entusiasmo a assinatura pelo Presidente da República da autorização para a criação de nossa ZPE. Se de fato este projeto em nada se parece com a Refinaria de Bacabeira e o polo de confecção de Rosário, nosso Governador deveria chamar o Fábio Câmara, que defende o aproveitamento do velho VLT, de triste memória, até a Zona Rural, paraque seja estendida sua linha até a Zona de Processamento de Exportação, objetivando servir aos milhares de trabalhadores que se deslocarão para este futuro polo industrial.

Deve, dá mesma forma, merecer atenção as propostas que descaradamente jogam para a plateia, que são as que patrocinam o surgimento de todo tipo de privilégio. Penso que a desobrigação do pagamento de passagem por policiais e carteiros é um rotundo privilégio. O desconto dado aos taxistas quando da renovação de seus veículos, outro monstro, que fez surgir as locadoras que se ocupam da venda de carros. A não observância destes paradigmas ajuda a edificar o preconceito contra o sistema de cotas e os bons projetos de inclusão social.

Deste as Cidades Estados, antes ainda, com o código de justiça do Cristianismo, o sistema está em permanente mudança, tocado ora pela intervenção de pensadores como Rousseau, Hobbes e Max Weiber ou pelos movimentos revolucionários como a carta Magna Inglesa de 1265, as Revoluções Francesas, Americana e Russa e as duas Grandes Guerras. Segundo Weiber somente o Estado tem o monopólio da força. E deve, segundo Karl Marx, orientar-se pelo axioma -de cada um segundo a sua capacidade, a cada um segundo a sua necessidade-, que sintetizam as capacidades produtiva e distributiva dos bens sociais.

Valho-me de nossa carta constitucional em seu artigo 5º, quando afirma- todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza-. Para me secundar, ser igual é ter o mesmo ponto de partida na corrida da vida. Ser igual é não aceitar receber, ou oferecer, condições e oportunidades distintas a seus patrícios. É lutar contra a possibilidade da naturalização da existência de um cidadão de segunda categoria. Somente aceitando ser igual o homem pode construir um sistema humanamente justo, capaz de oferecer proteção social e combater as desigualdades.

Somente de três formas podemos mudar a sociedade, a revolução, um golpe de estado, ou a democrática, através do voto. O Estado Democrático de Direito, que nos acoberta, exige através da Justiça Eleitoral, em permanente aperfeiçoamento, que o voto seja livre, direto e propositivo, posto que somente o voto com estas credenciais, será capaz de construir, como preceitua nossa carta, um Brasil que vai se incumbir da administração do território e do atendimento das necessidades do povo. Sei, é difícil num país com milhões de famintos, pedir que estes não vendam o seu voto. Difícil sei que é, mas, pelo menos pense: Se a “arma é o voto”, como diz a sabedoria popular, não “puxe o gatilho” contra sua cabeça.

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