opinião

Alimentando o Monstro

Renato Dionísio- Historiador, Poeta, Compositor e Produtor Cultural

Opinião desta quarta-feira (28) do O Imparcial. (Foto: Banca O Imparcial)

Depois de assistir estarrecido a vários programas do jornalismo, com destaque para os de esporte, um dia após a partida acontecida no dia 21/02/24, entre o Fortaleza e o Sport Recife, realizada na capital Pernambucana pela Copa do Nordeste, cujo resultado terminou com as equipes empatadas em 1X1. Após a partida, um inexplicável ataque ao ônibus do time alencarino, organizado pela torcida adversária, que usado paus, pedras, e pasmem, até bombas, depredaram o veículo e traumatizaram toda a delegação, com sete atletas precisando de cuidados médicos hospitalares.

Diante da lamentável notícia, comecei a me perguntar, o que está acontecendo com o esporte mais amado e referenciado entre nós? Como chegamos a este desastre que transforma adversários em inimigos? Que tipo de “humano” ataca, sem justificativa, a quem sequer conhece, pelo simples fato de vestirem eles, cores diferentes das minhas? Existem culpados por tão infeliz iniciativa? Como restabelecer a paz e a confiança para que os torcedores e suas famílias se sintam garantidos e estimulados a irem a nossos estádios.

Fico a me perguntar. Quais os reflexos deste tipo de atitude no comportamento do cidadão em sua normal vida social, no seu dia a dia? Onde pretendem chegar os torcedores e os dirigentes dos clubes deste país? Por acaso querem matar a “galinha dos ovos de ouro”, a bilheteria, pela qual passam milhões, utilizando, em nome de sua paixão clubística, parte do que retirou da mantença da própria família.

Para início de conversa, vejo e sinto que os dirigentes têm, se não o monopólio, grande parcela desta culpa, na medida que incentivam e financiam as “famigeradas” torcidas organizadas que acabam se constituído em “matilhas,” prontas para atacar desde os rivais do mesmo naipe, até aqueles que nasceram ou foram criados convivendo com outros valores e cores. O mais preocupante em tudo, é que estas organizações, de forma acelerada, se tornam nacionais, com normas, financiamento e dirigentes.

Este tipo de pensamento e ação, se assemelha aos inocentes “conselhos”, dados por mães de boas índoles, quando ensinam aos filhos machos que, – mulher foi feita para não reclamar e obedecer- e esta afirmativa, lamentavelmente, acaba estimulando o feminicídio. Quando os pastores não respeitam a liberdade de culto e as escolhas religiosas e acabam, a longo prazo, incentivando a intolerância religiosa. Quando supremacistas “pacíficos” desrespeitam e depreciam alguém por ser negro, e este pensar, ajuda o morticínio contínuo de pretos e pretas inocentes, nas ruas deste país.

Por fim, quero lamentar que na busca de solucionar o problema, nossos dirigentes políticos, junto com as diretorias dos clubes, estão receitando o pior remédio, é pelo menos o único já posto em prática e consiste em lotar os estádios com torcida única, isto mesmo, com a torcida de um só time. Desta forma, o remédio vira veneno, pois segrega a sociedade que vive junta, mora na mesma cidade, e no mesmo bairro. Vira as costas e deixa sem resposta o problema. Com tal proposta enterram a cabeça no chão não sei se por incapacidade ou vergonha.

Como a solução proposta, até agora, sabidamente não resolverá o problema, tomo a iniciativa, alicerçada em minha pequenez, de propor que se obrigue, por força de lei, os clubes, de todas as divisões, a realizarem uma campanha nacional debatendo o tema. Penso que o estado de direito, alicerçado no devido processo, com todas as garantias, comece a criminalizar o tema, para intimidar os mais recalcitrantes. Que através de diploma legal, sejam estabelecidas responsabilidades aos dirigentes destas organizações. Por derradeiro, que os clubes passem a ser punidos, com perdas de mando de campo, perdas de pontos e até a eliminação da competição. Não podemos, com nossa inércia alimentar este monstro que teima em parir violência.

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