A boiada sem bumbá
Renato Dionísio – Historiador, Poeta, Compositor e Produtor Cultural
O mês de setembro chega abrindo a temporada de grandes eventos em nosso estado; teremos as comemorações da independência do jugo português. Temos os festejos em homenagem ao padroeiro do Maranhão, São José de Ribamar, na cidade de mesmo nome, e finalmente, a festa de nossos produtores rurais, que em sua anualidade, vai apresentar os avanços tecnológicos introduzidos no campo, novas formas de manejo, e os avanços genéticos introduzidos no setor, tudo pensado e programado para acontecer em nossa 64ª exposição agropecuária.
A mídia, institucional ou não, já começa a brandir bordões e apelos pela massiva participação de nossa gente neste evento, que ocorrerá do dia 1º ao dia 8 de setembro, no Parque Independência. Não sabemos dizer, se além da responsabilidade pela disponibilização dos serviços públicos, o governo patrocina o evento, se patrocina de que forma, e em que montante isto se dará. A relação de artistas contratados, maranhenses ou não, para se apresentarem no evento há muito circula nos blogs e sites especializados.
A nominata das atrações artísticas que se apresentarão durante o evento não deixa de causar incômodos e decepções, nela, mais uma vez, o governo, não falo do Governador, oferece rotunda declaração de desamor com a arte e os artistas do Maranhão. Poucos são os artistas convidados para o rega bofe e, com certeza, estes ainda serão convidados a fazer a abertura de shows. Nem preciso falar que os cachês a que farão jus, será vexatório menor que aqueles que serão mandados para fora do estado, em razão do pagamento dos artistas convidados. Nesta mesma reclamação, devem se sentir representados os grupos de tambor de crioula, que tiveram seu reconhecimento pelo Iphan como Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil e não conseguem ser reconhecidos em nosso Estado, pelo governo e sua gente. Com certeza existem práticas e conhecimentos mais modernas em torno do mundo, nossos produtores estão apresentando as suas e não as do Sul ou mesmo do exterior. Com a mesma dor, devem se encontrar, e euzinho junto e misturado, os fazedores de cultura ligados ao Bumba Meu Boi, que recentemente recebeu, com a presença falante de nossos governantes, o título de Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade, grupos que em grande parte têm uma discografia maior que parte dos artistas convidados. Conjuntos com várias viagens internacionais, que ocupam nossos músicos e fazem girar a roda da economia.
Não se trata de defender uma reserva de mercado. A não contratação de quem quer que seja. Queremos a competição, nossa arte tem que ser boa. Tem que ter qualidade e apego público. A questão é: como fazer isto sem a possibilidade de competir em igualdade de condições? Sem a proteção, que este mesmo poder público e o capital, conferem à chamada música de mercado? Algum ingênuo acredita que o Festival Internacional de Parintins se tornou o maior do mundo pelo fato de nossas estrelas midiáticas ali se apresentarem, ou tudo é fruto do apoio e da vontade política, colocada a serviço ao longo de anos pelo governo do Amazonas e da teimosia do povo amazonense. Topo discutir!
Constatando que nenhum advogado se apresentou neste processo, ou por hipossuficiência da parte ou puro desinteresse, inscrevo da condição de advogado dativo, buscando não a condenação da outra parte, mas, e sobretudo, para que meu gesto desperte os conselhos municipais e o estadual da cultura para a discursão da lide, bem como, da Frente Parlamentar da Cultura, recém-criada, para ajudar e orientar, se for o caso, um movimento que na orfandade, ainda não descobriu o tamanho de sua força.
Vaquejada sem boi é como feijoada sem tempero, poesia sem rima ou música sem balanço. Fica estranho! Fica indefensável! Sendo assim, seria tentar justificar que a exposição pode acontecer apenas com os implementos agrícolas, com os bares para a venda de bebidas e com a oferta de alguns serviços pelo poder público. Alguém teria que lembrar do conto de fadas, – A Nova Roupa Do Rei-, escrito pelo dinamarquês- H, Cristian Andersen, na qual um menino, saído do conto, como se isto fosse possível, repetiria o aviso, o Rei Está Nu. Neste presente caso: falta vaca na vaquejada. Falta bumba meu boi na exposição.