PCdoB está na oposição sem se opor a Brandão
Raimundo Borges – Bastidores
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Em 2014 o PCdoB do Maranhão fez uma marcação na história política do Brasil ao eleger Flávio Dino como o primeiro governador pela legenda comunista, fundada em 1962 por uma dissidência do PCB, fundado em 1922, portanto, a legenda com mais tempo no país entre períodos na legalidade e na clandestinidade.
Hoje, 11 anos passados daquela eleição, o PCdoB não tem mais Flávio Dino, que se tornou ministro do Supremo Tribunal Federal, e seus deputados estaduais vivem, neste começo de 2025, uma temporada de duplo posicionamento na Assembleia Legislativa. Ao mesmo tempo em que formaram, com o partido Solidariedade, o bloco de oposição “Parlamento Forte”, os próprios parlamentares “comunistas” se declaram integrantes da base governista.
A tal frente de oposição foi montada pelo ex-presidente da Alema, Othelino Neto, eleito pelo PCdoB em abril de 2024, depois filiado ao SD. Como a política é um jogo de imprevisibilidade, o mesmo deputado estava licenciado da Alema enquanto ocupava a secretaria do governo Brandão em Brasília. Ao deixar o cargo governamental e o PCdoB, Othelino disse que o “Partidão” tem um olhar crítico, porém, sem deixar a base do governo. Mas ele preferiu ir para a oposição “por não concordar com a política e o método adotado pela atual gestão”. Já o líder do bloco, Rodrigo Lago disse aquela união com o SD é apenas regimental.
Júlio Mendonça (PCdoB), por exemplo, reiterou em discurso a importância da serenidade e maturidade política na relação com o governo Brandão. Ele enfatizou a posição do presidente regional do PCdoB, deputado federal Márcio Jerry. Apesar das desavenças com Brandão sobre a eleição de prefeito de Colinas, em 2024, na qual o seu irmão João Haroldo foi derrotado pelo vereador Renato Santos (MDB), apoiado por pela família Brandão, defendeu o PCdoB na base governista e apoio, em 2026, à candidatura do petista Felipe Camarão ao governo.
Significa que a briga das famílias colinenses não deixou sequelas profundas que não possam ser superadas no diálogo. Até a relação do próprio Brandão com Camarão, que saiu arranhada no pós-eleição municipal, já passa por um processo de distensão, tendo como principal voz apaziguadora, o presidente regional do MDB, Marcus Brandão, irmão do governador. No meio dessa refrega, até a reeleição de Iracema Vale (PSB) na presidência da Assembleia Legislativa, contestada no STF, pelo deputado Othelino Neto, ganhou dois pareceres favoráveis à deputada no processo em mãos da ministra Cármen Lúcia.
A Advocacia Geral da União e a Procuradoria Geral da República se manifestaram pela validade do critério regimental de desempate pela maior idade, que reconduziu a presidente. O partido SD contestou o critério da maior idade e sustentou a tese do maior número de mandatos, que lhe beneficiaria. Mas é inegável que todos esses embates que ocorrem dentro do parlamento estadual têm como pano de fundo o jogo da sucessão de Brandão em 2026, sem a presença física do ministro Flávio Dino que, mesmo togado é, para muitos, uma influência latente na política do Maranhão.
O fato notável até agora é que, caso oponha-se ao governo ‘socialista’ de Carlos Brandão, o PCdoB estará em 2026 no mato sem cachorro e com espingarda sem munição. Para continuar participando da história do ciclo dinista que completou 10 anos em outubro de implosão do sarneísmo, o Partidão só precisa não perder o rumo nem desaprender as lições de seu líder maior: Flávio Dino. Afinal, o Brasil de hoje não é o mesmo de 2014, muito menos o Maranhão.
Enquanto extremistas de direita têm objetivos claros, a esquerda, nesse momento, não possui projeto para outra ordem no poder. Não só na denominação, mas também na influência e nas investidas dos endinheirados contra o meio ambiente, os direitos básicos do povo, as minorias, adotando o negacionismo e o conservadorismo – tudo numa avalanche só.