Os Brandão e os Jerry perto da reconciliação?
Raimundo Borges – Bastidores
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A dúbia posição do deputado federal Márcio Jerry em relação à permanência do PCdoB no governo Carlos Brandão (PSB) mostra o quanto a política é a arte de misturar a realidade com a aparência ou vice-versa. Jerry saiu da eleição municipal de novembro passado com um discurso que era puro veneno lançado em direção ao conterrâneo Carlos Brandão. As famílias Jerry e Brandão, filhos da mesma rua na cidade de Colinas entraram na campanha eleitoral com olhares enviesados uma para outra e saíram das eleições esturrando grosso, com a palavra rompimento invadindo as mensagens que inundaram as redes sociais.
O rompimento, de fato ocorreu, embora sem uma declaração formal com registro em cartório. Afinal, Márcio Jerry, presidente regional do PCdoB não deixou barato o fato de seu irmão João Haroldo não ter sido o candidato a prefeito de Colinas apoiado pela família Brandão, como havia sido acordado desde a eleição de 2016. Mas tudo não passou de palavras soltas ao vento em 2020 e 2024, sobrando para o irmão de Márcio Jerry que imaginava vê-lo, finalmente, no comando do município onde eles nasceram e depois ingressaram na política. Na campanha do ano passado, essa refrega familiar acabou esbarrando em Brasília, caindo no colo do ministro do STF, Flávio Dino, espécie de irmão camarada de Jerry desde os tempos de movimento estudantil com ambos militantes do PT.
Porém, tudo não passou de aparências. A realidade extrapolou para uma questão paroquial de solução complexa. Sem acordo, os Brandão apoiaram a candidatura do vereador presidente da Câmara Municipal Renato Santos (MDB), eleito com 63,41% dos votos, contra João Haroldo (PCdoB), com 36%,52%, praticamente a metade do eleitorado. Esse resultado foi o estopim para afugentar de vez os laços de amizade, forjados na infância entre Brandão e Jerry. Parecia que o rompimento seria um caminho sem volta, mas a política, está provado, é uma ciência de profundas interpretações e poucas respostas esclarecedoras.
Sem a interferência direta de Flávio Dino nessa pendenga, Jerry e Brandão estão no caminho do retorno à normalidade da velha relação colinense. O próprio Jerry já mostra que o calor da campanha eleitoral faz suar, mas não faz perder o juízo. Em entrevista ao jornalista John Cutrim, ele disse que o PCdoB, com seus deputados na Assembleia Legislativa integram o bloco de oposição, liderado por Othelino Neto, mas não é tão oposição assim: “Não se trata de um bloco de oposição. Blocos parlamentares não são integrados necessariamente com unidade política, mas como articulação para a ação legislativa dos parlamentares”.
Diante da insistência do jornalista por uma resposta mais direta sobre integrar um bloco de oposição e não sê-la na prática, Jerry novamente desconversou: “Os deputados Othelino e Fernando Braide integram o bloco, mas não o lideram. PCdoB terá presença com quatro parlamentares, portanto com a natural indicação de um dos seus membros para a liderança do bloco”. Eis a questão de fundo: as eleições gerais de 2025, a primeira desde 2014 sem a presença física de Flávio Dino. Para o líder dos “comunistas” no Maranhão, problemas existem, mas nenhum sem possibilidade de solução com diálogo respeitoso, propositivo, alicerçado em compromissos que nos fizeram erguer um projeto para o Maranhão”.
Como 2025 é um ano próprio para diálogo propositivo na política, o tempo e o vento vão se encarregar de apontar lá na frente se realmente a disputa da prefeitura de Colinas tem sustança suficiente para garantir a ruptura entre as famílias Brandão e Jerry, ou tudo não passou de um capítulo de novela rural, com ingredientes de vida urbana, onde tudo acontece ao sabor da audiência. Os Brandão estão em cima do poder estadual e os Jerry perderam a prefeitura da cidade-berço. Porém, nada impede de se darem as mãos e marcharem rumo à consolidação do projeto Bino-Brandão, iniciado em 2014 – que sabe, arrematado em 2026 com Felipe Camarão. Afinal, PCdoB e PSB são duas legendas de esquerda, em guerra declarada no país com a direita.