O tempo no vento
No seu clássico O Tempo, Pink Floyd cravou uma frase que virou fonte de inspiração: “Você frita e desperdiça as horas de uma forma improvisada”. Esse pode ser a opção para quem precisa medir o tempo, não por segundo, minuto, hora, mês e ano. Falo do tempo da política. Ele não tem começo nem fim. […]
No seu clássico O Tempo, Pink Floyd cravou uma frase que virou fonte de inspiração: “Você frita e desperdiça as horas de uma forma improvisada”. Esse pode ser a opção para quem precisa medir o tempo, não por segundo, minuto, hora, mês e ano. Falo do tempo da política.
Ele não tem começo nem fim. Uma eleição termina e o tempo da próxima já começa a fazer cócega no juízo dos políticos. No Brasil, onde a farra de eleições se repete a cada dois anos, o de 2020, para pré-candidatos, já está em curso em pleno 2019.
Afinal, a vida política é um relógio desajustado. Dentre os vários relógios que conduzem os vivos há dois que os aprisionam à sociedade. O relógio da política não funciona à bateria.
Parece ser movido pela força da economia, dos acordos e das habilidades para manobrar, ludibriar, prometer e realizar. Foi nesse tempo destemperado que o presidente Jair
Bolsonaro aproveitou para dar corda no relógio da política, na quinta-feira, grandiosa Marcha por Jesus. Contrariando o seu discurso eleitoral, de pôr fim à reeleição, ele deu a indicação de que poderá ser candidato a novo mandato em 2022.
Sem ser perguntado por ninguém, Bolsonaro discursou para os milhões de evangélicos: “Se não tiver uma boa reforma política e, se o povo quiser, estamos aí para continuar mais quatro anos”, disparou. Analistas veem na declaração um recado direto ao seu ministro Sérgio Moro, aos governadores que o apoiam João Doria (SP) e Wilson Witzel (RJ) e, quem sabe, também, ao opositor Flávio Dino (MA). Sem falar no apresentador Luciano Huck, sempre lembrado e observado pelas brechas do tempo de cada eleição.
Bolsonaro dificilmente terá em breve uma multidão contada aos milhões para fazer proselitismo político, sob o beneplácito do rebanho evangélico. Mesmo com seu governo sofrendo críticas de todos os lados, a economia capengando, bem longe do que imaginavam os seus mais empedernidos críticos, Bolsonaro parece-se confortável. No embate com o Congresso, o capitão já aprendeu que não será fácil aprovar tudo do jeito que ele quer – como ocorre no quartel. Portanto, qualquer discurso pode servir de leniência para seus eleitores deslumbrados, que ainda estão dispostos a sair às ruas gritando “mito!”, “mito!”…