O Mobral voltou
Corte, bloqueio ou contingenciamento de verbas da educação brasileira é, na realidade, apenas uma parte do “pacote” de mazelas que, somadas, derrubam a qualidade do ensino e envergonham os indicadores perante o mundo. Além das desigualdades históricas em relação ao acesso a um ensino de qualidade, falta uma construção robusta e democrática para tirar a […]
Corte, bloqueio ou contingenciamento de verbas da educação brasileira é, na realidade, apenas uma parte do “pacote” de mazelas que, somadas, derrubam a qualidade do ensino e envergonham os indicadores perante o mundo. Além das desigualdades históricas em relação ao acesso a um ensino de qualidade, falta uma construção robusta e democrática para tirar a educação dos patamares de hoje. Por isso, o setor passou a viver como um voo sem rumo e em permanente turbulência.
Depois das trapalhadas do ex-ministro Ricardo Vélez, que lhe rendeu a demissão sem choro nem vela, ficaram ainda mais expostas as profundezas da crise e a falta de perspectiva para a área crucial ao desenvolvimento do país. O que os estudiosos indagam é: Em que medida a permanência da crise no ensino brasileiro se entrelaça com um projeto de país em andamento que, paradoxalmente, não consegue andar?
Por exemplo, até agora, o Ministério da Educação já empenhou, na média, 28,9% dos recursos discricionários (que não incluem salários) das instituições federais de ensino superior. Na reunião de ontem com os reitores das federais, o ministro Abraham Weintraub tentou ser didático, o que não ocorreu com os deputados, quarta-feira, na Câmara, num encontro marcado pela tensão e pouca didática. No mesmo dia, as ruas do Brasil se encheram de estudantes e professores em protestos contra o corte ou contingenciamento das verbas da educação.
Dados do Censo da Educação Superior (MEC 2018), apenas 18,8% dos jovens entre 18 e 24 anos estão em faculdades, enquanto a meta do Plano Nacional de Educação é chegar a 33% em 2024, no próximo governo eleito em 2022. Já o Enem, principal porta de entrada para o ensino superior, mostra o abismo social em relação às oportunidades para entrar na universidade. Estudo feito pelo cientista de dados Leonardo Sales entre os candidatos de melhor condição socioeconômica aponta que um em cada quatro estudantes conseguiram nota suficiente para ingressar nas universidades mais concorridas do Brasil. Entre os jovens de baixa renda, este número é de um em cada 600! E o presidente Bolsonaro ainda se atreve xingar de idiotas e imbecis os estudantes que protestam, dizendo que eles não sabem sequer multiplicar 7 x 8. Será que ele pensa num Mobral nas federais?