O dilema da esquerda
Para o governador Flávio Dino, chamado de “comunista” pela filiação ao PCdoB, a esquerda perdeu as ruas para a classe média branca, que apoia o governo Bolsonaro, suas propostas e reformas que formam o maior burburinho do Congresso Nacional. É aquela velha história de Trancoso: “Ou aprova as reformas ou o Brasil fecha para balanço”. […]
Para o governador Flávio Dino, chamado de “comunista” pela filiação ao PCdoB, a esquerda perdeu as ruas para a classe média branca, que apoia o governo Bolsonaro, suas propostas e reformas que formam o maior burburinho do Congresso Nacional. É aquela velha história de Trancoso: “Ou aprova as reformas ou o Brasil fecha para balanço”. O tranco é tão barulhento que dirigentes de sete partidos de oposição irão questionar a participação do presidente do STF, Dias Toffoli, em reunião com o presidente Jair Bolsonaro (PSL) para defender um pacto em apoio às reformas encampadas pelo governo.
Só que o presidente do STF não é classe média, assim como os juízes federais que repudiam a mesma postura questionada pelos partidos. Afinal, ao formular o pacto pelas reformas, o chefe do STF deixa espaço para perguntas intrigantes: Como o chefe da corte suprema deve conduzir julgamento de ações que questionarem parte ou o todo das reformas pactuadas com o Planalto e o Congresso? Bolsonaro disse a Rodrigo Maia que tem o poder e a caneta bic para decretar eventuais alterações em sua reforma pelo Congresso, escrachado domingo passado nas ruas, junto com o STF, nas manifestações bolsonaristas.
Foi naquela manifestação que Flávio Dino prognosticou que a esquerda perdeu terreno para a classe média direitista. E perdeu mesmo. É esse segmento social que divide hoje o Brasil entre pobres, que apoiam Lula e seus programas sociais, e os remediados e ricos que torcem o nariz até para quem vive na rua da amargura. O irônico dessa divisão pela escala de renda é que milhões de brasileiros que se acham “classe média”, na realidade, não estão onde pensam estar na pirâmide social. E aí cresce o ódio ao petismo e a veneração a Bolsonaro, cujos programas pegam a pobreza no contrapé.
Tecnicamente, os critérios oficiais que dividem a população em classes estabelece que estar na classe média é a família com renda superior a RS 300 por integrante. Já a média alta é composta daquelas que em 2017 acumulavam mais de R$ 1.019/mês, por pessoa. Como a maioria das famílias no Brasil agrega três ou quatro pessoas, boa parte dos domicílios da classe média brasileira tem renda total entre R$ 900 e R$ 4.000/mês. Por esse parâmetro, Flávio Dino não deve ter medo da classe média. Afinal, ela é mais barulhenta do que volumosa, em relação ao contingente de pobres que assola os indicadores sociais do Brasil e do Maranhão, com maior gravidade.