Camarão espera Brandão, que espera ganhar tempo
Raimundo Borges – Bastidores
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Desde a pequena Nova Iorque maranhense, com seus escassos 4.320 habitantes, até a capital São Luís, com pouco mais de um milhão de moradores, a escolha de vice-prefeito não é uma tarefa tão simples como faz parecer. Por ser uma função na segundo ordem de sucessão, o vice de qualquer chefe de poder nem sempre é visto como um substituto merecedor de confiança absoluta. A história da política do Maranhão é marcada por relação de desapego, por um lado, e companheirismo por outro, entre o governador e o companheiro de chapa. A situação do atual mandatário Carlos Brandão com o vice Felipe Camarão é o retrato dessa situação carregada de olhares atravessados e falas apenas protocolares.
Faltando menos de dois anos para as eleições de 2026, Brandão e Camarão estão no meio do caminho de uma reaproximação plena ou apenas de convivência. O PT do vice-governador é o mesmo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O PSB do governador é o mesmo do vice-presidente Geraldo Alckmin. Por coincidência, esse quadrilátero político de poder vive um dos momentos mais promissores do Brasil e do Maranhão. Lula tornou-se uma liderança de alcance intercontinental, com projeto interno de tentar a reeleição em 2026. Enfrenta, porém, a conjuntura política desfavorável, mesmo com a economia respondendo positivamente nas suas principais variantes, o que não significa atrair a vontade do eleitor.
Como Brandão não pode mais brigar pela reeleição, o seu futuro é uma aposta de loteria. Se vai abraçar o vice Felipe Camarão e fazê-lo seu candidato, ou ficar no mandato até o fim. Portanto, ele tem todo o ano de 2025 para consolidar a sua obra governamental, enquanto faz os cálculos políticos sobre como vai encerrar o mandato em 2026, passando ou não a faixa do poder a Camarão. No caso positivo, os dois vão repetir o gesto de Flávio Dino em 2022, quando renunciou o cargo, para disputar o Senado, levando Brandão à reeleição no primeiro turno. Hoje, ele tem uma posição política parecida com a de Dino em janeiro de 2020 – a de líder quase completo no Estado.
A diferença entre os dois períodos governamentais está na essência do jogo político. Flávio Dino vivia o auge da ruptura que provocou em 2014 no Maranhão, tendo como vice um Carlos Brandão de absoluta confiança, com um histórico no PSDB, mas recém-chegado ao PSB. Praticamente não tinha opositor que atrapalhasse seu governo, chamado de “comunista” pelos adversários, nem a oposição contava com uma liderança de âmbito estadual para enfrentar o gruo de Dino na eleição majoritária. Tanto isso é fato que, quem apareceu em 2022 como o segundo mais votado foi o ex-prefeito de São Pedro dos Crentes, Lahesio Bonfim, um bolsonarista do baixo clero.
O Maranhão de 2025 tem como liderança em ascensão o prefeito de São Luís, Eduardo Braide (PSD) pela oposição, e o deputado estadual Othelino Neto (SD); a deputada Iracema Vale (PSB) e o ministro dos Esportes André Fufuca (PP) na base do governo, além do vice-governador Felipe Camarão. Como filiado ao PT, ele precisa ampliar rapidamente sua base política que, só terá sucesso, se for em parceria com Brandão. Em 2024, o PT elegeu apenas dois prefeitos no Estado, uma situação bem parecida com a do PSD de Eduardo Braide, que só tem ele próprio num cargo executivo municipal, embora sendo reeleito com 70,12% dos votos.
Não é segredo que disputar uma eleição de governador com pequena estrutura partidária é um desafio de arrepiar. Precisa ser consagrado como bom de urna, formar uma coligação avantajada, como fez Flávio Dino em 2014 e 2018, com 16 legendas, e ser bem conhecido nos grotões em que a máquina governista funciona a todo vapor. Por essas razões todos os nomes possíveis de candidatura ao Palácio dos Leões em 2026 enfrentam problemas bem parecidos. E tem mais: as vagas no Senado Federal, historicamente, foram ganhas alinhadas ao governo ou à uma liderança forte. Foi assim com Roberto Rocha em 2014 e Weverton Rocha e Eliziane Gama em 2018, todos apoiados por Dino. Além, logicamente, de Ana Paula, em 2022, que ganhou o mandato inteiro do hoje ministro do Supremo Tribunal Federal.