Brandão adia debate político sobre 2026
Raimundo Borges – Bastidores


O governador Carlos Brandão já deve ter ouvido a mesma pergunta dezenas de vezes por onde quer que ande ou participe de eventos públicos: “O senhor é candidato a senador em 2026?” Ele já deve ter até a mesma resposta pronta: “Este ano é apenas para realizar as centenas de obras programadas para melhorar a vida dos maranhenses. A política vai ficar para 2026”. De fato, ele precisa de 2025 mais para terminar o que programou, do que para projetar novas ações de governo que durem mais de um ano. Se disser que é candidato a senador é o mesmo que antecipar sua saída do governo em abril do próximo ano e passá-lo ao vice Felipe Camarão, do PT, com quem esteve amuado no segundo semestre de 2024.
Realmente, ano pré-eleitoral como 2025 é o período de maior tranquilidade para qualquer governante – do prefeito ao presidente da República. No caso maranhense existe uma situação única no Brasil. A liderança de maior relevância no Estado não é mais um político. Flávio Dino derrotou o sarneísmo e implantou um novo modelo político de esquerda, num estado historicamente dominado por oligarquias familiares estaduais, regionais e municipais. O ex-juiz federal, hoje ministro do STF pôs fim ao sistema sarneísta, porém, não acabou o mandonismo oligárquico que, ao longo de séculos, se molda, se renova, se adapta às mudanças políticas e sustenta os séculos de atraso do Maranhão.
Carlos Brandão tem a responsabilidade de deixar o governo com a marca da inovação pela educação e melhoria no perfil econômico, aproveitando e adotando as tecnologias como ferramenta catalizadora do desenvolvimento. O estado que passou séculos mergulhado num processo arcaico de agricultura de subsistência em roças de toco, hoje ganhou outro patamar na produção do campo, movida às tecnologias de alto desempenho. Assim, o campo foi confiscado da monocultura pelo agro tipo exportação, porém concentrador da riqueza extraída da terra. A população rural originária tem quase nenhuma participação na renda que vê florescer nas mãos de poucos empreendedores vindos de outros estados.
Esse é o Maranhão que prospera no campo, mas o fruto da prosperidade pouco muda na realidade social rural e urbana, de baixa qualificação profissional e sem meios de ser incorporada no processo de enriquecimento. Portanto, Brandão é fruto da mudança política ocorrida depois de meio século de sarneísmo que, por sua vez, pôs fim os 20 anos de vitorinismo. Agora, porém, as mudanças que ocorrem no Brasil, arrastadas pelas novas tecnologias, estão acontecendo em seu governo, quando os estados buscam não apenas fazer adaptações improvisadas, mas produzir inovações estratégicas, com a visão de que as tecnologias são a revolução do presente. Quem não as absorver será condenado a morrer na praia buscando salvamento.
O modelo de governança, forjado nas oligarquias políticas familiares nunca esteve tão evidente quanto atualmente. Nos Três Poderes do Estado, nas prefeituras e câmaras municipais poucos são os mandatários que não trazem o sobrenome dos que estão nos respectivos comandos. A diferença é a faixa etária cada vez mais rebaixada. Como a carreira política virou atrativo de sucesso e de dinheiro, as atividades que geram emprego, distribui renda e movimenta os degraus da pirâmide social, acabam perdendo a sua dinâmica. Com a pobreza lastreada no meio rural e ao redor das cidades, o Maranhão precisa de lideranças capazes de traçar rumos e fazer a roda da riqueza girar para todos.
Tudo indica que Carlos Brandão vai deixar o governo em abril de 2026, passando o bastão ao vice Felipe Camarão. Mas ele espera ganhar tempo para governar com tranquilidade o segundo biênio do mandato e esperar, também, o cenário nacional sobre a disputa presidencial. Como eventual candidato a senador, ele sinaliza que fará tabelinha com o ministro dos Esportes André Fufuca, que precisa do apoio do presidente Lula, que apesar de tudo, já tem o senador Weverton Rocha como antigo aliado. O problema é que até a candidatura do petista para a reeleição é um ponto de interrogação em meio à crise política que ronda o Palácio do Planalto e domina o Congresso, controlado pelo Centrão.