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Afinal, Deus é de direita ou militante de direita?

Raimundo Borges – Bastidores

Neste domingo passado, 23/12, o ex-presidente Jair Bolsonaro usou o X (antigo Twitter) para um apelo inusitado a pastores, padres e outras lideranças religiosas por um “clamor sincero perante Deus em favor de Débora Rodrigues e tantos outros presos políticos que estão injustamente privados de liberdade pelo Supremo Tribunal Federal”. Na verdade, Débora só havia recebido os votos dos ministros Alexandre de Moraes (relator) e Flávio Dino, faltando Carmen Lúcia, Cristiano Zanir e Luiz Fux –, todos da 1ª Turma. A cabelereira aparece em imagens escrevendo “perdeu mané” na estátua da Deusa Têmis, símbolo da Justiça, no STF no dia 8/01. O que chama a atenção é o uso em vão do nome de Deus na política, sem que se possa identificá-lo como um poder celestial de esquerda ou de direita. 

A Procuradoria Geral da República (PGR) formalizou a acusação contra Débora, por participar da tentativa de golpe, com abolição do Estado Democrático de Direito, dano qualificado, associação criminosa e deterioração do patrimônio tombado. Os demais ministros têm o prazo para votar no painel virtual do STF até 6ª feira (28). Ao depor, Débora disse que não sabia sobre o simbolismo da estátua e que está arrependida. A família também apela para ela não ser condenada a 14 anos de prisão. No meio de imbróglio jurídico-político, Deus está sempre presente nas falas de Bolsonaro, líder máximo da extrema-direita latino-americana e também nos discursos do ministro Flávio Dino, um católico praticante, mas chamado de “comunista”, por opositores em razão de sua antiga filiação no PCdoB.

Em 2023, a Confederação Israelita do Brasil (Conib) criticou uma publicação do Dino, como ministro da Justiça, por “demonizar o povo judeu”, ao citar uma passagem da Bíblia, que diz: “Levanta-se, toma o menino e sua mãe e foge para o Egito; fica lá até que eu te avise, porque Herodes vai procurar o menino para matar”. O texto de Dino fazia referência ao resgate de brasileiros em Israel e na faixa de Gaza, pelo governo Lula. Em resposta à Conib, Dino explicou, na época, à CNN: “A Bíblia que eu leio prega a paz e a fraternidade. Jesus Cristo era contra todos os preconceitos. Por isso, falei em proteger todas as crianças. Sobre Herodes, deveriam saber que ele foi imposto por Roma contra os judeus”. 

Seja como for as interpretações no Brasil que essa fase histórica de fragmentação ideológica e oportunismo de quem aproveita o poder das plataformas digitais, para se dar bem, Deus é o que menor importa para os políticos de direita ou de esquerda. Mesmo assim, esses mesmos aproveitadores da fé como ferramenta política de mobilização social, para colocar Deus como espécie de cabo eleitoral em todas as eleições. Não são poucos os bispos, padres, pastores e seguidores das religiões de matriz africana que tentam provar que Deus não salva somente almas caridosas, mas também pode perdoar políticos desapiedados.  

A direita ideológica usa as tecnologias digitas para demonizar adversários, chamando-os de esquerdista, sem ao menos entender o significado do tempo. Muito menos o que a sociologia e a história dizem a respeito. Flávio Dino, por exemplo, até hoje não consegue se livrar da pecha de “comunista”, até por empreender uma cruzada contra a corrupção política centrada na dinheirama das emendas parlamentares sem transparência, sem controle e rastreabilidade. Também os meios de comunicação de massa abonam o desvio da discussão dos problemas do país, para apoiar campanha eleitorais sobre moral sexual, padrões da família brasileira e a religião, principalmente no meio das seitas pentecostais. 

É fato que nenhum pesquisador de história tenha encontrado sinais de que Jesus tenha acumulado algum tesouro na terra. Ao contrário, toda as referências da Bíblia sobre Ele, tem relação contra a exploração dos pobres com quem dividia o pão, pelos ricos. Incomodou tanto os poderosos que foi escolhido para ser crucificado e morto entre criminosos. 

Hoje, os mesmos poderosos que clamam por Deus para atingir seus objetivos políticos, são os mesmos que massacram os pobres como pratica ideológica, mesmo sendo a eles que recorrem na hora do voto. Jesus, como filho de Deus não era de esquerda nem de direita. Era um revolucionário contra as desigualdades; pela paz e a fraternidade.

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