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A história dos meios de transporte coletivo de SL

Raimundo Borges – Bastidores

O transporte público de São Luís, iniciado em 1872 com a primeira rota dos bondes, que substituíram as charretes puxadas a burros, espalhados pelo centro da capital, estendendo até a Vila do Anil, sempre foi uma fonte de controvérsias e de revoltas populares. As controvérsias, no primeiro momento recaiam sobre a sujeira que os muares deixavam nas ruas, mesmo com as “fraudas” colocadas abaixo da rabicheira. Depois vieira os bondes transitando em suas vias férreas, movidos à energia elétrica, que atrapalhavam o trânsito motorizado, principalmente os primeiros ônibus de carroceria de madeira enlatada, construídos no bairro do Anil sobre eixos de caminhão.

Até 1966, na gestão do primeiro prefeito eleito da história de São Luís, Epitácio Cafeteira, os bondes “cara dura” faziam parte da paisagem urbana da capital maranhense. De tão icônicos, eles serviam até a passeios de eamorados. O jovem José Sarney viveu bem essa época. Ele usava o bonde da linha Rua do Passeio-São Pantaleão, para ‘paquerar’ a amada da vida toda, Marly Sarney, moradora na Rua do Passeio, esquina com Rua de Santana, filha única do médico Carlos Macieira. Isso consta em depoimento ao Globo, de Luiz Carlos Bello Parga, amigo de infância de Sarney e seu substituto no Senado. Ele contou a este jornalista, no suplemente do jornal carioca, publicado no dia em que Sarney foi efetivado como presidente do Brasil, em 1985.

Quando se fala hoje na cidade sem ônibus em razão da greve dos rodoviários vale destacar o quanto esse meio de transporte – mesmo sendo o único oficial em São Luís – passa por uma crise que parece tão séria quanto foi a dos bondes na década de 1960, e depois, os ônibus em 1979, na Greve da Meia Passagem. Em 45 anos, a cidade se transformou em tudo. Epitácio Cafeteira aposentou os bondes em 1966, como um transporte inconveniente e sem espaço no trânsito de São Luís. Já a revolta popular de repercussão internacional, chamada Grave da Meia Passagem em 1979 – o maior movimento popular do Brasil na ditadura militar – já mostrava o peso social de um serviço precário até hoje.

Era a luta pelo passe escolar de 50%. Hoje, a gratuidade no transporte público, reduzido ao ônibus, alcança cada vez mais segmentos sociais. Além do desconto aos Estudantes (em vias de chegar a 100%), andam de graça de graça: policiais, idosos, deficientes físicos, professores, cobradores e motoristas de ônibus. Significa que o sistema, além de deficitário – segundo os empresários -, também enfrenta a concorrência dos chamados “carrinhos”, vans, automóveis e motos de aplicativos. Portanto, esse tema é complexo e caro para o município, que subsidia financeiramente os balanços apresentados pelos empresários que, se escondem atrás das greves dos empregados para pressionar o município, segundo Braide. 

Assim, a capital dos primeiros bondes do Nordeste, hoje é a cidade da bagunça no transporte de passageiros. Nem a Justiça do Trabalho tem força para impor suas decisões aos grevistas, de pararem só 205 da frota.  O prefeito Eduardo Braide (PSD) conseguiu ontem, 18/02, na Câmara Municipal aprovar, por unanimidade, um projeto de lei que autoriza a prefeitura bancar o transporte por aplicativo dos usuários de transporte coletivo durante a greve dos rodoviários. Em tempo de ônibus sem cobradores em que a automação de aplicativos indicam até o tempo de espera nas paradas, a medida emergencial tomada por Braide obteve amplo apoio popular e impacto social.

O que se passa em São Luís é o caminho sem volta da transformação no transporte público em todo mundo. É a automação que chegou aos automóveis e embarca nos ônibus com catraca conectada à internet, fazendo a vez do cobrador. Significa avanços que, porém, arrastam consigo o desemprego e mudança a relação de trabalho. Em Manaus, recentemente, essa modalidade colocou na rua 2,5 mil cobradores. Portanto, a digitalização do sistema de transporte público é eficiência socialmente embaraçoso e cara. Assim como os bondes deixaram os trilhos em São Luís, a catraca eletrônica está deixando os cobradores a pé.

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