Plebiscito do ônibus grátis entra no voto em São Luís
Raimundo Borges – Bastidores
Há 45 anos, a população de São Luís foi às ruas no maior movimento social do país durante a ditadura militar, em protesto contra dois aumentos seguidos das passagem de ônibus. Os estudantes universitários da Ufma, Uema e ensino médio, apoiados pela Igreja Católica e o arcebispo D. José da Mota e Albuquerque reivindicavam a volta da meia-passagem à classe estudantil das redes pública e privada. O movimento da Meia-passagem, liderado por Agenor Gomes, Juarez Medeiros, Renato Dionísio, Mazé e outros, se transformou no lema “Meia Passagem ou Meia Cidade”. . Rapidamente, como um rastilho de pólvora ganhou a cidade e virou uma batalha popular, violentamente reprimida pelas forças policiais.
O movimento insurgente chegou a colocar o quartel do Exército de Prontidão, enquanto todo o contingente da Polícia Militar foi deslocado para reprimir, na força bruta, a juventude na luta por seus direitos. Nunca se viu, até então em São Luís, a explosão de tanto gás lacrimogênio, pancadaria e prisões. A “greve” parou o comércio de São Luís, a cidade ficou sem ônibus, depois de alguns incendiados, carros oficiais revirados, enquanto a prefeitura colocava caçambas no transporte de passageiros, usando escadas improvisadas para o acesso ao interior dos veículos. No dia 22 de setembro, a luta foi vitoriosa, com a lei da meia-passagem assinada e em vigor, tudo com ampla repercussão nacional.
Agora, 45 anos depois, o tema transporte púbico persiste forte na campanha municipal de São Luís. Os candidatos a prefeito Franklim Douglas (PSOL) e Saulo Arcangeli (PSTU) adotam a bandeira do passe estudantil livre. A proposta virou um plebiscito, autorizado pelo Tribunal Superior Eleitoral, a ser realizado junto à eleição, sobre o passe livre nos ônibus. Por enquanto, só Franklim e Saulo, entre os oitos postulantes estão na defesa do passe livre. O primeiro quer a passagem grátis para estudantes da rede pública, já o segundo do PSTU, faz a defesa do benefício na rede particular também.
Observa-se que, como capital que adota o ônibus como único meio de transporte público, nada mais razoável que o plebiscito seja apoiado pela totalidade dos eleitores, embora tenha que passar, posteriormente, por uma lei municipal regulamentando a gratuidade. E São Luís não é um caso isolado nessa proposta de passe estudantil livre. No Brasil, 76 cidades já adotam o modelo gratuito, com algumas diferenças. Em Caucaia, segundo maior município do Ceará, é a maior cidade do Brasil a adotar a gratuidade no transporte público para os estudantes, inclusive no VLT, por coincidência, outra bandeira que voltou agora ao debate na presente campanha eleitoral de São Luís.
Em 45 anos, o mundo evoluiu em todas as áreas. O Maranhão e São Luís também. À queles estudantes de 1978 estão hoje de cabelos grisalhos. Juarez Medeiros foi deputado estadual respeitado, depois promotor de Justiça e atualmente, aposentado. Agenor Gomes foi prefeito de sua terra, Guimarães e ingressou na magistratura onde é juiz na capital, escritor e, quem sabe, brevemente desembargador do TJ-MA. Renato Dionísio é pesquisador histórico, produtor cultural de bumba-meu-boi e poeta. E São Luís, de 412 anos, continua com o ônibus como único meio de transporte coletivo, em mãos de empresários, ricamente subsidiado pela Prefeitura. Obviamente, um tema recorrente em todas campanhas eleitorais.
O VLT virou um assunto fantasmagórico na campanha municipal de 2012 e agora está de volta. Porém, colocá-lo nos trilhos até que não é uma ideia desprezível. O que assusta é o custo de um sistema desse porte, em torno de R$ 1 bilhão, entre o centro da capital e o núcleo Itaqui-Bacanga. Como as boas ideias lançadas no horário eleitoral têm curta validade, logo depois do resultado das urnas, essa do Transporte Leve Sobre Trilho (VLT) vai ser mais uma a cair no esquecimento. Em São Paulo, a tarifa zero foi proposta pela então prefeita Luiz Erundina (1989-1992), mas não vingou. Em São Luís aparece como plebiscito em 2024, mas até virar lei pode esperar para 2028. Afinal, já se passaram 45 anos da Greve da Meia-passagem e o ônibus continua sozinho no transporte coletivo.