Coluna

Pesquisa revela nova cara da Ilha Rebelde

Raimundo Borges – Bastidores

Por mais aguçada que seja a percepção política dos estudiosos sobre o eleitorado de São Luís, historicamente chamada de Ilha Rebelde, menos eles conseguem explicar a lógica da escolha de seus prefeitos. A última pesquisa do Instituto Quaest (antigo Ibope), contratada pela TV Mirante, mostrou que as intenções de voto vão provocar noites indormidas entre os oito candidatos ao Palácio La Ravardière (sede da Prefeitura). Embora voando em céu de brigadeiro na confortável disparada para 60%  das intenções de voto, o prefeito Eduardo Braide (PSD) tem que fazer das tripas coração para não perder a chance de conquistar o novo mandato já no dia 6 de outubro.

Só ele e mais ninguém sabe o quanto essa empreitada tanto é animadora quanto também cheia de armadilhas.Trata-se de uma corrida de obstáculos para todos. Mas chama a atenção a posição do deputado Dr. Yglésio (PRTB), como 2%, na raia que o separa do 3º colocado Wellington do Curso (Novo), dos sem qualquer chance de sonhar com o pódio: Fábio Câmara (PDT), Flávia Alves e Saulo Arcangeli, com 1% cada. A pergunta que não quer calar é: cadê o reduto bolsonarista que não vem em socorro ao médico Yglésio? Como deputado estadual de 2º mandato, num combate sem trégua ao “comunismo” de Flávio Dino e Duarte Júnior, além da posição de parlamentar do Maranhão, corajosamente assumido como bolsonarista, é muito pouco os escassos 2% na pesquisa.

Mesmo assim, Yglésio usa as redes sociais para escrachar o que erradamente chama de “comunista Duarte Jr”, o segundo colocado nas intenções de voto, com 21% na Quaest-Mirante, enquanto parece não se incomodar nem um pouco com a disparada de Eduardo Braide para o folgado primeiro lugar com 60% na estimulada. Agora, Yglésio anuncia, mais uma vez, a chegada, no próximo dia 23, do líder máximo da extrema direita brasileira, Jair Bolsonaro. É a pura crença na figura mítica do ex-capitão, que seria capaz de sacolejar a campanha na Ilha Rebelde, no eleitorado travesso que nem os cientista políticos, nem José Sarney conseguem entendê-lo.

Segundo o jornalista pesquisador Benedito Buzar que acaba de lançar o novo livro Roda Vivas, sobre a política do Maranhão, o título de Ilha Rebelde foi acostado a São Luís em quando a capital maranhense completara 349 anos de fundação. Fazia referência à famosa Greve de 1951, ocasião em que o povo resistiu à posse do governador Eugênio Barros numa eleição fraudada, em evento que marcou a história, com aparência de uma insurgência revolucionária. Na sua primeira eleição direta, em 1965, São Luís elegeu Epitácio Cafeteira que, como suplente de deputado federal, emplacou uma PEC que deu autonomia política à capital. A segunda, em 1985, Gardênia Castelo foi eleita como primeira mulher a ocupar o Palácio La Ravardière por eleição livre.

Como nenhum governador emplacou um prefeito eleito na capital maranhense, a eleição deste ano, caso não haja algum cataclisma, Eduardo Braide tem a chance de não decepcionar o velho titulo da cidade, centro da Ilha Rebelde, cheia de mistérios, encantados e encantamentos, inclusive políticos. O candidato Fábio Câmara, do PDT que elegeu Jackson Lago três vezes prefeito e uma governador do Maranhão, está hoje com 1% das intenções de voto. José Sarney e a filha Roseana, que governou o Maranhão por quatro vezes e nunca elegeram um prefeito, sabem o quanto os mistérios da Ilha, morada de uma imensa serpente, tem também seu dramas e dogmas políticos.

A cidade que completou 412 anos no último dia 8 é tão inspiradora de poesia, música, política e politicalha, quanto de literatura. Há uma infinidade de obras artísticas de todas as matizes que fazem de São Luís o berço de um povo ramificado do francês, do holandês, do português, do africano e dos indígenas tupinambás e timbiras.

É sobre seus mistérios que a política vai e vem entre os palácios La Ravardière e dos Leões, como a maré eterna que lambe suas encostas, enquanto os poderosos se digladiam, se trombam e se afastam como um banzeiro que movimenta a escolha do próximo prefeito, sem a tatuagem ideológica de lulista, muito menos de bolsonarista.

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