Coluna

Palito como arma de destruição ambiental

Raimundo Borges – Bastidores

É a primeira vez que o Supremo Tribunal Federal (STF) precisou se fazer presente no combate a onda de incêndios que destroem a imagem do Brasil perante o mundo, os biomas amazônico, cerrado e pantaneiro – tudo ao mesmo tempo e em formato de criminoso. É uma espécie de cangaço do palito. 

Os satélites e outras tecnologias disponíveis mostram que apenas a secura do clima não seria capaz de provocar milhares de focos de incêndios que se alastram, de um dia para outro, nos biomas mais desejados, admirados, preservados e agora devastados por grileiros, fazendeiros, madeireiros, caçadores, garimpeiros, contrabandistas – tudo movimentado na engrenagem do crime organizado.

Em proporções assustadora e em dimensão monumental, o Brasil está vivendo o pior clima da história, com uma densa nuvem preta de fumaça, que avança também sobre as cidades, provocando enormes danos à saúde humana, destruição da fauna e da flora e movimentando um exército de bombeiros e brigadistas de todos os estados. As queimadas recordes atingem o país de norte a sul, com a nuvens de material particulado e monóxido de carbono que já chega a Buenos Aires (Argentina), Montevidéu (Uruguai) e parte da Bolívia, onde brigadistas do Brasil e do país vizinho combatem os incêndios florestais e no pantanal.

Dados do Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais da UFRJ indicam que quase três milhões de hectares foram destruídos pelos incêndios este ano, sendo mais de 90% de origem criminosa, segundo a ministra do Meio Ambiente Marina Silva. Nos primeiros 10 dias de setembro foram registrados 736 focos de incêndio apenas no Pantanal, que está ameaçado de desaparecer nas próximas décadas. Com o poder da Constituição Federal, o ministro Flávio Dino, do STF, determinou uma série de ordens para o governo federal atuar mais fortemente no combate aos incêndios.

Dino ordenou redirecionamento de forças policiais e bombeiros militares de Estados não atingidos por incêndios para aqueles atingidos; investigação pelas polícias e Ministério Público das causas de incêndios e a requisição de aeronaves militares e do setor privado, além de um Plano de Ação Emergencial de prevenção e enfrentamento a incêndios florestais para 2025. 

Por sua vez, o presidente Lula fez reunião de emergência no Planalto para debater o tema, além de visitar, esta semana, áreas devastadas por incêndios no Amazonas. Também liberou recursos para drenagem dos rios que estão secando na Amazônia. É a “pandemia dos incêndios florestais”, como definiu Flávio Dino.

O ministro do STF debateu o tema com o Executivo para conhecer a extensão dos sinistros. Ele determinou a formação de um mutirão entre as polícias Federal e Civil, a Força Nacional e o Ministério Público para investigar as causas de incêndios por ação humana em 20 municípios no Norte e Centro-Oeste – segundo a União essas cidades centralizam 85% dos focos de incêndio de todo o país. Elas estão localizadas no Amazonas, Pará, Rondônia, Acre e Mato Grosso. Dino defendeu uma mobilização semelhante a feita contra a pandemia de Covid-19, para combater o fogo. “Não podemos normalizar o absurdo”, disse.

Os incêndios provocaram prejuízos incalculáveis. Somente os produtores de cana-de-açúcar perderam R$ 800 milhões. No geral, são bilhões em prejuízos no agro e dentre os pequenos produtores, sem falar na secura dos rios da Amazônia perante os ribeirinhos que sobrevivem da pesca. E ainda tem a emissão de gases do efeito estufa na atmosfera, que que causam nuvens negras. O certo é que as polícias Federais e Estaduais têm muito o que investigar essa onda de queimadas que se propagada com todas as cores de ação criminosa de quem quer limpeza de terra para grilar ou nas fazendas. 

Autêntico cangaço do palito de fósforo.

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