Os cenários de 2026 são peças de quebra-cabeça
Raimundo Borges – Bastidores
Daqui a dois anos o Brasil terá a sua eleição mais importante em décadas. Talvez até mais do que a de 2022, ocorrida no maior confronto ideológico da história, entre a extrema direita de Jair Bolsonaro e a esquerda moderada de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), apoiado pelas forças de esquerda. Tudo que se imaginar hoje sobre o que vai acontecer em 2026 na política brasileira é puro exercício de lucubração em relação à sucessão presidencial. Se Lula será candidato à reeleição, se Bolsonaro reaver o direito à elegibilidade ou a direita o trocará pelo governador de São Paulo Tarcísio de Freitas (Republicanos) e a esquerda, optará pelo ministro da Fazendo Haddad, do PT. A economia será o balizador.
O cenário da eleição presidencial tem tudo a ver com as disputadas estaduais. No Maranhão, por exemplo, o governador Carlos Brandão (PSB) tem o controle absoluto do poder político, com uma base municipal robustecida nas eleições passadas, assim como a maioria parlamentar sustentando suas realizações. Brandão está bem articulado com o setor empresarial, além de um programa de ações que alcança tanto o combate à pobreza e a fome com a agricultura familiar e o agro quebrando recordes de produção em todo o país, quanto a melhoria nos empregos e na renda.
Os avanços nos setores econômicos inegavelmente produzem um cenário facilitador das eleições majoritária e parlamentar em 2026. Como os fatos mais recentes apontam para uma ruptura entre Brandão e o ministro do STF Flávio Dino, a eleição estadual entrará num novo patamar político-eleitoral. Brandão não vai mergulhar de cabeça num projeto de definição política antecipada, sabendo que dois anos é muito tempo tanto para desgastar uma administração quanto para construir a imagem positiva de governança.
Portanto, unido ou rompido com Flávio Dino fora da política, pouco altera o cenário das eleições de 2026. Se Brandão for candidato a senador, o sucessor natural é o vice Felipe Camarão, candidato ao governo. Se ficar no cargo até o último dia do mandato, a engenharia política muda totalmente o organograma.
Comparando a maior ruptura política ocorrida no Maranhão e no país em 2014 com a eleição de Flávio Dino governador do PCdoB, derrotando 50 anos de sarneísmo na estrutura de poder com a posse de Brandão em 2023, há um fosso histórico jamais visto. Brandão sucedeu a Dino, sem qualquer vínculo com a esquerda, cravando outro momento discordante que se estenderá até o fim de sua temporada no poder em 2026. Por sua vez, a esquerda de Dino terá sido diluída em 12 anos e o centro-direita de Brandão seguirá no seu leito natural, mas com a variante de incerteza, que só os fatos dos próximos dois anos dirão como a política do Maranhão tem também o seu lado de pobreza ideológica.
Ao contrário do Brasil em que o petista Lula da Silva precisa misturar esquerda com direita e o centro para governar com relativa tranquilidade, Carlos Brandão, mesmo filiado ao PSB não precisou de muito tempo para pulverizar a esquerda dinista e fazer um governo com a cara dos comandados por Roseana Sarney. Até o apoio do presidente Lula ele tem, do mesmo jeito que havia na Era roseanista. Quando assumiu o poder em 2015, Dino falou na posse, de mudanças “não só de governo, mas de Era. Mudança na arquitetura social da política e das instituições, com a transição definitiva de uma Era”.
A Era a que se referia o primeiro governador “comunista” da história do Brasil certamente tinha nome: o sarneísmo. E prometia mudança “nos traços do patrimonialismo que impregnavam todos os aspectos da vida maranhense, para uma efetiva Era de Direitos, de igualdade perante as leis valendo para todos, tanto naquilo que asseguram quanto no que exigem”.
Em 2023, no discurso de posse, Brandão falou muito em “gratidão” e nada em continuação. Na parte final de sua fala, o governador deu uma certeza: “A partir de hoje, o nosso governo contará com o apoio do amigo Flávio Dino, como ministro; e do nosso presidente Lula. O Maranhão será o seu aliado de todas as horas”. E aí, caro leitor, o que você acha deste arremate?