Eleição do dia 6 de outubro deixa Maranhão num mar de dúvidas
Raimundo Borges – Bastidores
Pela dinâmica da histórica polêmica do Maranhão, é quase certo que nenhum sobrenome Sarney, Lobão, Dino ou Lago sobressairá das eleições municipais de 2024 como protagonista para as disputas do governo do Maranhão e do Senado Federal em 2026. Com isso tudo que acontecer nos próximos dois anos no cenário político terá que passar pelo crivo das probalidades. Trata-se, portanto, de um enredo em construção a várias mãos, provavelmente com o governador Carlos Brandão traçando as diretrizes da peça rica em atores coadjuvantes, mas escassa em candidato ao posto de protagonista.
Diante dessa “crise” no comando da política do Maranhão fora do Palácio dos Leões, só Brandão tem os instrumentos para produzir um grande espetáculo. Porém, ele não dá sinal concreto de como pretende fazer com que as eleições de 2026 não escapem de sua estratégia para eleger o sucessor e os dois senadores. Se ficar até o fim do mandato no Palácio dos Leões correrá o risco de dar no que deu com Luiz Rocha em 1986 e com José Reinaldo em 2006: saíram derrotados. A diferença nas duas situações é que, por trás, havia a genialidade de José Sarney movimentando as peças no xadrez da política maranhense. Agora, as peças estão totalmente desarrumadas.
O Brasil de 2026 terá Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em final de mandato, com 90 anos, cuja longevidade pode fazer dele um Joe Biden de 2024. Tem o país profundamente dividido entre esquerda, centro, direita e extrema direita bolsonarista. Tem um congresso ainda raivoso com os desdobramentos das eleições de 2022 e um eleitorado desnorteado e fácil de ser “engolido” pela onda conservadora que se espalha mundo afora. O Maranhão, sem Sarney, sem Flávio Dino, sem Lobão e sem Jackson Lago, pode escapar do controle de Brandão, que já viu como surgiu o aventureiro Lahésio Bonfim em 2022, que deixou Weverton Rocha na poeira.
O protagonismo de Carlos Brandão já teve começo, está no meio nas eleições deste ano e avança indefinido rumo a 2026. Candidatos a assumir o estrelato não faltam: o vice-governador Felipe Camarão está na posição de arrancada; o ministro André Fufuca (Esportes) está de férias para se projetar fora de seu reduto no vale do Pindaré; Josimar do Maranhãozinho é sempre a “Moral da BR”, especialista em ganhar eleição; Iracema Vale, revelada como mulher de forte poder de articulação e uma fábrica de votos; e, por fim, o jovem Orleans Brandão, sobrinho do governador, estreante na política com força total do tio.
O senador Weverton Rocha (PDT) e suas colegas de Senado Eliziane Gama e Ana Paula são nomes que estão com o trunfo do mandato e podem cavar um espaço bem maior no latifúndio político deixado por Flávio Dino, que o arrebatou das mãos de José Sarney e Roseana. Como na democracia tem espaço ilimitado para quem tiver talento e possibilidade de ocupá-lo, o prefeito de São Luís, Eduardo Braide é um ás de ouro nesse baralho político sem cartas marcadas. Caso ele seja reeleito no próximo dia 6, certamente já sairá da diplomação do TRE como pré-candidato a governador, com o sem o apoio de Brandão.
No arremate desse enredo, a dúvida que mais atormenta o mundo político maranhense é: Carlos Brandão vai ficar até o fim do mandato ou passará o bastão ao vice Felipe Camarão, para tentar elegê-lo sucessor e conquistar uma das duas vagas de senador para si. Mas essa decisão ele não tem pressa de tomar. Ainda nem chegou à metade do mandato e os acontecimentos que ocorrem à sua volta estão completamente desarrumados. Falta definir o papel de cada ator que se move dentro do grupo que tem como único opositor mais ranzinza, o deputado estadual Othelino Neto, marido da senadora Ana Paula, que ganhou oito anos de mandato, como suplente de Flávio Dino e se mantém na base do governo Lula, mas longe do governo Brandão.