Eleição da Alema com resultado surpreendente
Raimundo Borges – Bastidores
Em uma eleição marcada pelo resultado de dois empates entre os 42 deputados, a Assembleia Legislativa do Maranhão reelegeu nesta 4ª feira, por idade, a sua presidente Iracema Vale (PSB). Foi a primeira vez em que a eleição de presidente da Casa ocorre em tal circunstância, quando era esperado uma votação tranquila para Iracema. O empate se repetiu num pleito que era considerado um “passeio”, levando-se em conta o de 2023, quando ela foi eleita, no primeiro dia do primeiro mandato de deputada estadual, presidente da Casa por unanimidade dos 42 parlamentares.
A eleição foi surpreendente tanto para Iracema, que já havia vencido duas eleições em 2023 para o mesmo cargo, ambas por unanimidade. Ela teve como concorrente, Othelino Neto (SD) que presidiu aquela Casa por cinco anos antes de passar-lhe o cargo. Ontem, a Assembleia Legislativa viveu um dia histórico. Na única vez em que ocorreu empate na eleição de presidente, em quase 200 anos, foi entre os deputados Manoel Ribeiro e Clodomir Paz, mas no segundo turno, o Jorge Pavão desempatou em favor de Clodomir, a pedido do então senador José Sarney. Portanto, Iracema continua fazendo história.
Apesar de os poderes serem considerados autônomos, independentes e harmônicos, mas no caso do Legislativo em qualquer parte, inclusive no Congresso Nacional, o Executivo sempre procura interferir na eleição do Legislativo. No Maranhão não é diferente dos demais estados. Só que desta vez, não se percebeu um atuação direta do governador Carlos Brandão sobre os deputados na eleição de sua aliada de todos os momentos, Iracema Vale. Todos achavam que a reeleição dela seria um “passeio”, dada as condições de camaradagem dentro do plenário no blocão de quase todo o plenário que apoia o governo estadual.
A oposição no parlamento estadual ficou tão reduzida que não ultrapassa hoje de cinco deputados. Foi com base nessa realidade pouco vista naquela poder, que os dias que antecederam a eleição correram sem pressão e com pouca articulação. Quem acabou fazendo esse papel na surdina foi o opositor do governo Othelino Neto, ex-aliado foi aliado de Brandão e de Flávio Dino no governo. Depois tornou-se secretário do governo em Brasília, enquanto a esposa Ana Paula assumia a vaga de senadora, por oito anos, como a primeira suplente do atual ministro do STF. Agora, com a eleição de ontem, ficou desenhado uma nova situação na política do Maranhão, com outros contrapesos.
Os 21×21 votos que empataram as duas votações, terão enormes significados, principalmente para o governador Carlos Brandão que trabalhou a eleição municipal alinhado com Iracema Vale e outras lideranças. No final, os partidos de sua base política elegeram 157 prefeitos e centenas de vereadores. Brandão quando soube do primeiro resultado da sessão eleitoral de ontem, estava em reunião de trabalho, no Palácio dos Leões com três ministros do governo Lula, de quem é aliado. Foi uma surpresa geral o resultado da votação, em sessão presidida pelo deputado decano Arnaldo Melo, com oito mandatos na Casa.
No entanto, nem tudo está tão complicado para Brandão e Iracema Vale. Neste primeiro mandato ela fez uma gestão proveitosa e transparente, na análise dos técnicos do Tribunal de Contas do Estado. No entanto, no aspecto político, ela tem que tem sido colocada como uma opção de candidatura ao governo em 2026, apoiada por Brandão. Faltam dois anos para se posicionar sobre o futuro. E Brandão vai entender que o poder do Palácio dos Leões é enorme, mas tem os seus limites. Ao se colocar como adversário do ministro Flávio Dino – embora não assuma isso – o governador viu no episódio da eleição da Alema que seu antecessor Flávio Dino ganhou a toga de ministro do STF, mas não esqueceu da política do Maranhão.