Coluna

É urgente debater a mobilidade urbana

Raimundo Borges – Bastidores

Neste 8 de setembro em que São Luís comemora 412 anos de fundação e oito candidatos travam uma batalha eleitoral pelos votos dos 1,1 milhão de moradores da cidade fundada pelo fidalgo francês Daniel de La Touche, o tema transporte púbico na capital maranhense só entra de forma atravessada nas propostas dos interessados na cadeira principal do Palácio La Ravardière.

Com uma vastidão histórica e uma cultura popular única no Brasil, a população padece de um serviço de locomoção, com um único meio de transporte coletivo: o ônibus. Dessa forma, o serviço não poderia estar a altura das 360 pessoas que precisam desse meio de locomoção diariamente. É tanta gente que ultrapassa 1/3 da população da cidade, fora outra multidão que que habita nos quatros municípios da Ilha Upaon-Açu e utiliza os ônibus urbano e semiurbano em seus deslocamentos.

O assunto Transporte Público é tão prioritário quanto urgente em todas as grandes cidades. Porém, em São Luís cujo aniversário ocorre em meio à campanha eleitoral, só está no debate entre os candidatos Eduardo Braide (PSD) e Duarte Júnior (PSB). Mesmo assim, por dois viés em que eles confrontam o ousado programa da atual administração municipal, chamado “Trânsito Livre”, em que procurou desengarrafar as principais vias urbanas da cidade, com a reclamação do socialista, pela falta de ônibus confortáveis, novos e com ar condicional. No meio desse debate, há o vazio sobre como oferecer alternativa ao ônibus, com transporte público. Embora tenha melhorador nos últimos anos, mas o que falta mesmo é o que existe na maioria das demais capitais: outros meios de transportar o povo.

Quando estava no final de seu governo municipal em 2012, o então prefeito João Castelo ainda colocou em operação uma amostra grátis do que seria um Veículo Leve sobre Trilhos, popularmente conhecido como VLT. Deu tanto barulho perante a população no auge da campanha eleitoral da reeleição, que ele acabou derrotado por Edivaldo Holanda Júnior. Dessa forma, o mondrongo rodante que ainda percorreu, experimentalmente, pouco mais de mil metros, acabou escondido num galpão no bairro São Cristóvão, onde a ferrugem está a consumir àquela morada de morcegos.

Ao contrário da forma atabalhoada como foi trazido para São Luís, o VLT virou assunto quase proibido nas campanhas seguintes. No entanto, como a metrópoles maranhense está pedindo novos modos de transportar sua população, está no tempo de retomar o debate do VLT, como estão fazendo com os viadutos.

Por incrível que possa parecer, mas São Luís teve o bonde como meio de transporte desde 1872, uma linha movida a tração animal, até a chegada dos elétricos em linhas férreas espalhados pelo centro e fazendo ligação com o bairro do Anil. Permaneceram até 1966, quando foram extintos pelo prefeito Epitácio Cafeteira, sob o argumento de que os bondes estavam atrapalhando o trânsito de automóveis. Ao longo dos anos falou-se muito num sistema de bonde que atendesse aos turistas encantados com o conjunto arquitetônico dos centro histórico.

Mas o que a população ludovicense quer mesmo é outra forma de transporte, ligando o centro aos principais bairros, que atenda não apenas àqueles que não têm carro de próprio, mas também os moradores de outras classes sociais, a exemplo de todas as grandes cidades em qualquer lugar. Se no século 19, São Luís conheceu uma linha de bonde atendendo ao centro comercial-administrativo, por que não agora, quando a cidade expandiu para praticamente todos os municípios da Grande Ilha? Quando a cidade ganhou a primeira linha de bondes de tração animal, logo em seguida implantou a primeira ferrovia na Província do Maranhão e uma das primeiras do Brasil, estendida até o Cutim Anil, com 11 quilômetros de extensão.

Portanto, ao invés de se discutir hoje se o ônibus tem ou não ar condicionado, está passando da hora de se debater a viabilidade de fazer o que João Castelo imaginou para ganhar a reeleição e acabou desmoralizando um projeto que é necessário e urgente. Principalmente, pelo sentido ambiental que ele representa, sem combustível fóssil. Mobilidade urbana é tudo numa cidade da importância de São Luís, Patrimônio Cultural da Humanidade. 

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